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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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“Esse cara no Brasil, [o Bolsonaro]”

Roteirista Daniel Fraiha analisa fala de Spike Lee sobre gângsters que governam o mundo à luz de Manoel de Barros

Por Daniel Fraiha
9 jul 2021, 08h27

Quando o quadro geral fica caótico demais, vale a pena olhar para as coisas pequenas. Uma arte levada ao máximo por Manoel de Barros, conhecido como o poeta das miudezas.

Um de seus poemas, “Os deslimites da palavra”, é um bom exemplo desse olhar, e uma fonte de lições para os dias de hoje.

Esses deslimites, mais voltados a ressignificações, podem ser pensados também sobre as entonações usadas para algumas palavras. É o caso de uma frase marcante do cineasta Spike Lee dita esta semana, durante a abertura do Festival de Cannes, sobre os gângsters que governam o mundo. Quando se referiu ao nosso país, deu o tom de desgosto que mora na boca de tantos nós: “esse cara no Brasil”. (Em inglês, ele fala “his guy in Brazil”, em referência ao discurso prévio do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho).

O jeito de falar, o olhar, o tom… tudo deixava claro o significado que “esse cara” tem para ele. Um significado, marcado por esses deslimites da palavra, muito ligado ao primeiro verso do poema de Manoel de Barros: “Ando muito completo de vazios”.

Enquanto “esse cara” soa sempre como um completo vazio em pessoa, cheio de deslimites de humanidade e civilidade, seus atos disseminam nos dias de muitos brasileiros esse sentimento de que fala Manoel de Barros. Essas pequenas dores acumuladas, reiteradas, que vão dando morada a tantos vazios. Andamos, a maioria no país, muito “completos de vazios”. Não por falta de conteúdo ou vontade, mas por falta de espaço, liberdade, esperança… de independência.

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A sensação de que não podemos fazer nada. De que somos reféns “desses caras no Brasil”, raptores de um país já tão maltratado.

Mas esse sentimento de falta de independência também tem seus deslimites, e não por acaso está no fim do mesmo poema.

Ao fechar o texto com o verso “A minha independência tem algemas”, Manoel de Barros ressoa o sentimento que parece se espalhar pelo país hoje. A sensação de aprisionamento, de falta de autonomia diante de tanto vazio.

É uma equação sufocante, mas talvez esteja perto do fim. Todo deslimite encontra o abismo alguma hora. Para o bem ou para o mal.

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No nosso caso, as crises política, econômica e sanitária estão se abraçando nos últimos tempos, o que bagunça ainda mais qualquer visão clara de futuro, mas talvez esteja nesse mesmo verso de Manoel de Barros a chave para uma virada.

O passo das instituições ainda é lento, mesmo diante de tantos deslimites do governo, mas o caminho está desenhado, as provas estão na mesa, só falta uma pequena ação; a troca das algemas simbólicas que atrofiam a independência dos brasileiros por algemas reais nas mãos do maior responsável pelos vazios: “esse cara no Brasil”.

* Daniel Fraiha é jornalista e roteirista, Mestre em Criação e Produção de Conteúdos Digitais pela UFRJ e sócio da Projéteis – Criação e Roteiro

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