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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Eleições 2022: A terceira via no fio da navalha

Ex-procurador Carlos Fernando diz que polarização inviabiliza que moderados da direita, como Amoedo, ou da esquerda, como Flávio Dino, participem da disputa 

Por Carlos Fernando dos Santos Lima
Atualizado em 15 jun 2021, 12h33 - Publicado em 15 jun 2021, 09h38

“Se não for eu, não será ninguém”. Essa será o mantra dos extremistas ideológicos na campanha de 2022 para a presidência da república, como demonstra bem a desistência de João Amoedo de concorrer pelo Partido Novo para as próximas eleições. O que veremos nos próximos meses será uma crescente pressão dos setores radicais de esquerda e direita para eliminar possíveis contendores de seus campeões, Lula e Bolsonaro. A terceira via é o que eles mais temem, e contam com interesses mesquinhos, vaidades e traições nos diversos partidos para fazerem valer seu desejo de eliminar qualquer concorrente em seu espectro ideológico.

Na esquerda, se não atentar, Ciro Gomes será simplesmente tratorado pelo apelo do voto útil em Lula, como aliás aconteceu em 2018 consigo mesmo, e como aconteceu com Marina Silva em 2014. O Partido dos Trabalhadores nasceu como um partido de esquerda messiânico e único, que nunca vai admitir a sua perda de relevância perante outras legendas. Assim, incapaz de autocrítica, prefere enterrar qualquer possibilidade de uma esquerda moderna chegar ao poder a se tornar apenas um partido coadjuvante.

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Não que esteja falando que Ciro Gomes é um modelo de esquerda moderna. Seu estilo boquirroto e suas ideias da metade do século XX o fazem a mistura de Bolsonaro com Lula, melhorada é verdade, mas ainda uma representação do passado e não do futuro. Outros nomes como Flávio Dino, governador do Maranhão, seriam opções com uma visão mais contemporânea do mundo para a presidência, mas possivelmente dentro do seu partido acontecerá o mesmo que aconteceu com o Partido Novo – há partidos que nasceram para serem apenas linhas auxiliares de outros.

Na direita, a primeira baixa já aconteceu. É até difícil definir quais sejam os candidatos da direita, já que esta carece de um elemento realmente identificador. Sabemos bem quem é de direita, mas, fora Bolsonaro e Amoêdo, o que temos é um desarticulado grupo de partidos e políticos sem qualquer unidade ideológica. Mesmo Bolsonaro, que reflete a direita conservadora, aproxima-se do Partido dos Trabalhadores na defesa de estamentos (cada um o seu, obviamente) e de um nacionalismo antiquado.

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É uma pena não termos Amoedo no debate presidencial. Mesmo não concordando com alguma de suas ideias, o radical liberalismo econômico proposto pelo Partido Novo é algo que nunca tinha sido visto no Brasil, salvo talvez nas colocações de Roberto Campos. O Brasil sempre foi um país de cercadinhos: a direita significa o empresariado, e a esquerda o sindicalismo – com Bolsonaro tentando criar o seu próprio, que podemos chamar de militar-miliciano.

Na verdade, nunca se pensou no país como um todo, nem em um projeto de desenvolvimento nacional que funcionasse, independente de ideologias. O que acontece é que nossos políticos preferem afundar o país com seus ideais (e sede de poder) a melhorarem a condição da população com medidas pragmáticas. Nesse aspecto, o Novo tem muito a acrescentar ao debate sobre os rumos do país.

Infelizmente, o partido sucumbiu aos interesses de alguns de serem coadjuvantes de Jair Bolsonaro e aceitar o conservadorismo cultural deste. Nada mais equivocado que defender a liberdade econômica, mas não a individual, que exige respeito às opções de vida de cada um, sem querer conformar, como fazem os setores bolsonaristas, as pessoas ao seu ultrapassado modelo de família cristã ocidental.

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O que resta então para a terceira via é um grupo cada vez menor de políticos de centro-direita, Mandetta, Doria e Eduardo Leite, que não chegam a entusiasmar, mas que diante das opções obscurantistas são opções plenamente aceitáveis. Aqueles que defendem a Lava Jato e o combate à corrupção não podem colocar as fichas em qualquer um deles, pois são políticos profissionais e, no melhor caso, quando o político não é corrupto neste país, ele é cego à corrupção de seus correligionários.

Quanto a Sérgio Moro, único dos possíveis candidatos que conheço pessoalmente, creio que sua opção pela atividade privada irá prevalecer. A experiência das vicissitudes de enfrentar nossa corrupção endêmica, bem como do jogo sujo dos diversos estamentos, inclusive na mídia e nas altas cortes de justiça, que se sentem ameaçadas por um discurso radical de uma política limpa e de uma democracia sem influência do poder econômico, deve mantê-lo fora da próxima disputa.

Pode ser que surjam novos nomes, e possivelmente algum outsider, ou autoproclamado outsider, como fez Bolsonaro em 2018, para enfrentar a polarização entre Lula e o atual presidente. Entretanto, ser outsider não significa nada, salvo apenas que será apenas mais um tiro no escuro. Infelizmente, o lema de Tiririca: “pior não fica” não é verdade. Caminhamos no fio da navalha para o futuro.

Carlos Fernando dos Santos Lima é advogado especialista em compliance e procurador da República aposentado.

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