Bolsonaro tenta surfar em São Paulo depois de semana desastrosa
Derrotas na CPI, marca trágica da Covid, declarações infelizes de ministros e desemprego recorde marcam os últimos sete dias
A semana de instalação da CPI da Covid no Senado ficou marcada também como uma semana desastrosa para o presidente Jair Bolsonaro. Isso porque toda a estratégia utilizada por ele na comissão não deu certo. As tentativas de desgastar o senador Renan Calheiros (MDB-AL), com ataques do gabinete do ódio, e também com ações na Justiça para impedir que ele fosse o relator, soaram como apelos desesperados, e acabaram sem efeito.
As iniciativas envolvendo a Justiça em decisões do Legislativo, inclusive, soaram muito mal. A primeira ação foi inepta porque pedia a não eleição de Renan para a relatoria, sendo que não se tratava de uma eleição, mas sim de uma indicação do presidente da CPI, o senador Omar Azis (PSD-AM).
A segunda decisão foi a do ministro Ricardo Lewandowsky, do Supremo Tribunal Federal (STF), que indeferiu um mandado de segurança afirmando que não cabia ao Judiciário o impedimento da escolha de Renan para a relatoria, já que as regulamentações das comissões parlamentares de inquérito são feitas pelos regimentos internos da Câmara e do Senado.
Esse pedido de interferência da Justiça só gerou mal estar no Congresso porque Bolsonaro estava tentando interferir no Legislativo a partir do Judiciário. Ou seja, uma crise desnecessária entre poderes. Depois foi revelado que os primeiros requerimentos da ala governista tinham sido preparados por funcionária do Planalto. Nova interferência no Legislativo vindo de outro poder.
O governo Bolsonaro também não conseguiu impedir que os primeiros convocados fossem os ex-ministros e o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Os depoimentos estão previstos para a próxima semana, o que, por si só, já deixará o governo em alerta e estado permanente de tensão. Na CPI o governo acumula derrotas. Isso além dos rumores de desentendimento dos ministros palacianos sobre a articulação política.
Outro fato negativo da semana para o governo foi a ida do delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva, para depoimento na Câmara dos Deputados. Ele reafirmou tudo o que havia dito sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E levou os documentos mostrando indícios fortes de fraude na madeira que o ministro afirma que é legal.
Houve também na semana a divulgação de uma reunião interna no Ministério da Saúde. Os outros presentes não sabiam que estava sendo transmitida pela internet e fizeram declarações impróprias, mostrando o que acontece nos bastidores do governo quando os brasileiros não estão vendo. Um ano depois da divulgação da famosa reunião ministerial, eles continuam falando impropriedades.
Primeiro, o ministro-chefe da Casa Civil, Eduardo Ramos, diz que tomou a vacina escondido. Depois, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a fazer uma série de declarações preconceituosas. Atacou a China, criticou o Fies, programa de financiamento para estudantes de baixa renda, e criticou o fato do filho de um porteiro ter ganhado a bolsa. Ele disse que o suposto filho do porteiro teria ganhado bolsa apesar de ter “zerado” na prova, o que não faz sentido. As regras não permitem. Foi entendido como o ministro achando que o filho do pobre não deve ter bolsa para estudar.
Como se não bastassem essas vergonhosas declarações de seu staff mais próximo e os outros tropeços, o país ainda chegou à marca trágica de 400 mil mortos pela Covid-19 e o atraso na vacinação da população, que começa cada vez mais a ficar no ombro de Bolsonaro. O mês de abril encerrou com 82 mil mortos, o pior mês da pandemia.
Neste contexto todo negativo, Bolsonaro viajou atrás de agenda positiva. Tentou surfar em São Paulo. Participou de um almoço com empresárias e executivas de apoio a ele. Mas de novo ficou esquisito. Primeiro jantou só com homens, depois só com mulheres. Meio clube do bolinha. As fotos mostram todos nas mesas, 12 em cada mesa, e depois aglomerados e sem máscaras para a foto final.
Outro momento em que tentou surfar em São Paulo foi batendo o martelo no leilão da Cedae. Uma boa notícia na semana, mas ao contrário do que sugeriram os muitos discursos no palanque da Bolsa, esse é o fim de um processo iniciado governo Michel Temer. Foi o antecessor de Bolsonaro que mandou a lei para o marco do saneamento ao Congresso. Também foi naquela gestão que o BNDES começou a preparar o modelo de venda. Houve vários discursos de ministros. Bolsonaro foi o último. Apelou mais uma vez. Disse que Deus é que deu a ele o mandato presidencial. Política e religião mais uma vez usadas como tática de discurso.
Para encerrar a semana desastrosa, esse sábado é dia do trabalhador. Na sexta o IBGE divulgou que o trimestre terminado em fevereiro registrou o maior desemprego da série histórica: 14,4 milhões desempregados e seis milhões de pessoas em desalento nem procuram emprego. Vinte milhões sem emprego. Nada a comemorar, portanto, no dia do trabalho.