A nova estratégia que Bolsonaro ‘roubou’ de Lula
Presidente quer usar Auxílio Brasil para conseguir votos no Nordeste, reduto eleitoral do PT
A verdade é que o presidente Jair Bolsonaro sempre teve inveja de Lula. Mas com a perda de popularidade, e sem conseguir reverter os índices de rejeição crescentes, o presidente lança mão de uma estratégia antiga – e eleitoreira – para tentar se reerguer antes da disputa presidencial de 2022.
Ao criar o Auxílio Brasil, que nada mais é do que um Bolsa Família com novo nome, Bolsonaro tenta conquistar os eleitores de classes mais pobres e ganhar votos importantes para, no desespero, buscar a reeleição – hoje tida como improvável, diga-se de passagem.
Excelente reportagem publicada pelo Jornal O Globo mostra que a escolha do grupo prioritário para receber o benefício foi realizada de forma estratégica.
Segundo a repórter Fernanda Trisotto, autora da matéria, praticamente metade do valor do Auxílio Brasil será pago para a população da região Nordeste. Em 2022, ao menos R$ 36,6 bilhões do programa vão para os nordestinos.
Por lá, Bolsonaro amarga índices de reprovação altíssimos. Pesquisa Ipec do mês de setembro aponta que apenas 16% dos entrevistados do Nordeste acham o governo bom ou ótimo. Entenderam o problema?
A estratégia é antiga e foi usada pelo ex-presidente Lula durante sua gestão. O petista, inclusive, era criticado por adversários por usar o Bolsa Família de forma eleitoreira. O próprio Bolsonaro era um desses críticos mais ferrenhos.
É fato que o benefício foi fundamental para manter Lula e o PT no poder. Ocorre que ele nasceu de uma decisão política genuína de ajudar os mais pobres, e de um partido que, aliás, sempre levantou essa bandeira social. O PT e o próprio Lula tem, sim, muitos méritos de fazer o maior e mais bem sucedido programa social do país.
Agora, Bolsonaro quer fazer uma tentativa mequetrefe, negando completamente o discurso que o levou a vitória em 2018 – inclusive o da responsabilidade fiscal e da economia liberal liderada por Guedes. É uma pena que o presidente esteja tentando conquistar votos dessa forma em vez de buscar melhorar a gestão pífia que está fazendo no país.
Mesmo com o esforço eleitoreiro, é possível que o presidente não consiga reverter seus péssimos números e, além de sobrecarregar os cofres públicos, pode amargar uma derrota dura no Nordeste para aquele que, de fato, criou o benefício que Bolsonaro está tentando renomear agora.