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A coluna trata de desigualdade, com destaque para casos em que as prioridades na defesa dos mais ricos e mais fortes acabam abrigadas na legislação, na prática dos tribunais e nas tradições culturais
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Os lucros sobem, os preços aumentam e a qualidade cai na área da saúde

Sobrecarga no SUS, operadoras saudáveis, clientes empobrecidos e mercado com ofertas de baixo custo marcam o cenário brasileiro em plena pandemia

Por Marcos Emílio Gomes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 abr 2021, 12h42 - Publicado em 5 abr 2021, 17h33

(Esta é última contribuição deste colunista para Veja.com. Foi enriquecedora a experiência de contato com uma audiência tão qualificada e atenta às grandes questões do país. Espero que pelo menos parte dela continue debatendo esses temas no site Ora Essa!)

Em mais um paradoxo destes tempos em que um abraço pode matar e a distância passa a ser sinônimo de afeto, as operadoras de planos de saúde estão entre as poucas empresas que encontram motivos para comemorar resultados em plena crise sanitária.

Vale conferir alguns exemplos:

– A cooperativa nacional da Unimed teve seu maior melhor resultado desde 1998 e alcançou lucro de R$ 520 milhões no ano passado, 91,8% maior que o de 2019.

– A Qualicorp, que vende planos por adesão, apresentou crescimento no lucro líquido de 12,4% no último trimestre do ano comparado com o mesmo período em 2019, mesmo tendo de transferir os reajustes de preços para 2021 por determinação da ANS. No ano, teve lucro líquido de R$ 392 milhões.

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– A NotreDame Intermédica, que tem mais de 3,5 milhões de clientes, alcançou crescimento de 73,7% nos ganhos acumulados em 2020, somando R$ 735 milhões ao longo do ano.

– A Hapvida (em processo de fusão com com a NotreDame), a maior operadora de planos de saúde do Nordeste, teve lucro de R$ 2 bilhões antes de impostos, juros, amortização e depreciação, com crescimento de 63,8% de crescimento em relação 2019.

Em maio do ano passado a ANS divulgou levantamento mostrando que a epidemia não provocou nenhum prejuízo para as empresas que lidam com planos de saúde.

O lucro é um objetivo natural de qualquer investimento e também indicador de saúde em qualquer negócio. Mas há algo que parece bem fora do lugar quando um empreendimento traz resultados crescentes ao empreendedor e gera cada vez menos benefícios a quem está na outra ponta do negócio.

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De maio para cá, como é fácil notar, o cenário para essas companhias ficou melhor ainda.

Mas, para os 47 milhões de brasileiros que dependem de planos de saúde – 23% de uma população empobrecida –, as coisas são bem diferentes.

Primeiro, porque o adiamento do reajuste de 2020, parcelado em 12 meses desde janeiro, levará alguns planos a ter reajuste de até 30% este ano.

Depois, porque a superlotação de hospitais e UTIs não só deixou do lado de fora muitos contaminados pelo coronavírus, independentemente da categoria do plano em que estão inscritos, como levou ao adiamento de consultas, exames e procedimentos não urgentes que, mesmo sendo direito dos clientes, foram postergados com autorização da ANS.

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Isso contribuiu para a redução de custos das empresas de saúde e ajuda a explicar os lucros de 2020, já que o total de associados a planos de saúde em todo o país cresceu apenas 1,5%.

Para este ano, a maior parte dos analistas do setor prevê grande evasão de clientes mesmo com várias dessas empresas já tendo anunciado a criação de planos novos, geograficamente menos abrangentes e restritos em relação aos tipos de atendimento.

Transformada em artigo de luxo, a cobertura de plano de saúde é inacessível para mais de 70% da dos brasileiros.

Entre estes, agravando a situação, apenas pouco mais da metade recorre regularmente ao SUS, onde as filas podem ser grandes mesmo para os casos mais simples.

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Os outros – algo como 65 milhões de pessoas – não vão a médico nenhum ou utilizam consultórios, clínicas e hospitais pagando diretamente pelos procedimentos, o que contribui para que se entenda como as redes de atendimento popular como Dr. Consulta, Cia. da Consulta e GlobalMed tornaram-se nos últimos anos grandes negócios que podem rumar para a Bolsa de Valores.

Nessas redes de atendimento, a consulta mais simples, online ou em consultório, custa menos de R$ 100, com parcelamento em até 10 vezes.

Trata-se, evidentemente, de uma oferta com padrão limitado de complexidade, mas, num processo que demonstra o nível de achatamento na qualidade dos tratamentos de saúde acessíveis a parte considerável da população, já há clínicas desse padrão que estão conveniadas com operadoras de saúde, outras que fazem acordos específicos com empresas para dar cobertura aos empregados contornando os planos tradicionais e também aquelas que antecipam o atendimento para cliente que tenha direito a restituição de gastos médicos e só recebem depois que ele for reembolsado.

Num exemplo extremo, a empresa Yalo vende assinaturas na área de saúde que, por preços a partir de R$ 24,90, dão direito a descontos na rede Dr. Consulta e na compra de medicamentos em determinadas farmácias ou de laboratórios específicos para grupos de até cinco pessoas.

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Para um país que se orgulha de ter um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, as brechas por onde a iniciativa privada vem empreendendo mostram sinais evidentes de um nível de deterioração quase insuperável.

O orçamento do SUS vem sendo reduzido desde 2016, na contramão de um perfil populacional cada vez com mais idosos e demandante de maiores investimentos.

A pandemia, o desemprego, a paralisação econômica e a desvalorização cambial que encarece insumos, medicamentos e equipamentos agem como verdadeiras infecções oportunistas num organismo que já estava debilitado e desnutrido bem antes de 2020.

(Você pode comentar este texto no site Ora Essa!, em ambiente seguro, neste link e também, a partir de agora, seguir a coluna Ora Essa! no Twitter.)

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