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A coluna trata de desigualdade, com destaque para casos em que as prioridades na defesa dos mais ricos e mais fortes acabam abrigadas na legislação, na prática dos tribunais e nas tradições culturais
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O capitão Jair Bolsonaro está coberto de razões

Mas o acúmulo de questões miúdas o deixa cego para problemas que deveriam mobilizar a atenção de um presidente da República, entre elas a crise social

Por Marcos Emílio Gomes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2020, 11h24 - Publicado em 26 Maio 2020, 20h08

Jair Bolsonaro, eleito com 57 milhões de votos, é dono de um mandato legítimo e, mesmo num acervo de despropósitos, acaba por ter razão em muitas de suas observações sobre alguns dos problemas brasileiros. Foi apontando esses problemas, sobretudo os relacionados à corrupção e aos dissabores do cidadão na vida cotidiana, que chegou ao Palácio do Planalto, com estratégias – discutíveis mas não provadamente ilegais, até agora – que o levaram de azarão a favorito.

Está, então, coberto de razões, a ponto de não enxergar além delas e não perceber nem mesmo se são ou não relevantes. Essas razões que tem, para complicar, utiliza na dimensão errada, contra a nação e até contra si mesmo. Ao fazer isso, contribui para acirrar a perversa desigualdade brasileira nos aspectos sociais, econômicos, culturais, raciais e de gênero – o que não contraria sua plataforma eleitoral, porque nunca prometeu combater injustiças desse naipe, mas piora o cenário brasileiro no longo prazo, comprometendo conquistas de algumas décadas.

Numa lista rápida, estão entre suas razões a intervenção no Inmetro para podar a intenção de determinar em prazo curto a adoção de chips em bombas de combustíveis e a troca de tacógrafos e taxímetros; a indignação com a medida judicial que o impediu de pôr seu favorito na direção da Polícia Federal; as reclamações contra casos de burocracia no Iphan; e a crítica à intempestividade de algumas ações do Ibama.

E mais: a inconformidade com a utilização abusiva de certos monitoramentos por radar; a irritação com a atividade marqueteira de umas poucas ONGs; a discordância com os despropósitos propostos por determinados parlamentares; a denúncia do oportunismo de ex-aliados políticos; e as queixas contra uma oposição que tem integrantes acreditando que o vírus é o cabo eleitoral de um terceiro turno do pleito presidencial.

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Enterrado nessa montanha de razões a ponto de relegar a segundo plano as questões essenciais de governo, Bolsonaro demonstra sua vocação de capitão que jamais teria evoluído à condição de general, mesmo que não tivesse cometido os despropósitos que cometeu na caserna. Tarefeiro, o presidente não percebe que todas essas situações, pequenas ou naturais na vida política, desviam a atenção que deveria estar dedicando ao drama sanitário vivido pelo país e à urgência na definição de um plano pós-pandemia que vá além das obviedades recitadas por seu ministro da economia.

A consequência de ter um presidente aprisionado numa rede de malha estreita, aconselhado por fofoqueiros incapazes de administrar essas miudezas, enciumado de auxiliares minimamente preparados, negativamente reativo aos favores que a mídia lhe presta apontando a bagunça em seu quintal e ansioso diante do encolhimento do apoio público para sua campanha de 2022 é a aceitação de insanidades que só fazem aproximá-lo do abismo.

Nesse aspecto, a tal reunião de 22 de abril, teve papel didático. Deviam-se discutir medidas para recuperar a economia, diante dos abalos produzidos pelo combate à Covid-19, mas Pedro Guimarães, o presidente da Caixa Econômica, achou que era oportuno informar sua disposição para atender ao clientelismo dos acordos políticos de sustentação do governo: “Se precisar de uma diretoria, num sei o quê, desde que sejam honestos, o ministro Paulo Guedes é que decide”.

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Enquanto outros propuseram aproveitar a distração da imprensa com a epidemia para “passar a boiada” em questões polêmicas, perdeu-se um longo tempo discutindo prisões de pessoas que desrespeitaram regras da quarentena – abusos, sem dúvida, mas que estão longe de justificar o tempo tomado de um encontro do primeiro escalão do governo. De consistente no tal plano Pró-Brasil, a única coisa que ficou foi mesmo a apresentação de slides do ministro Braga Neto.

Bolsonaro, por seu lado, mesmo quando o tema central é o destino do país, não sai dos contornos restritos de seu universo. Na sua contribuição para o tema em debate, Bolsonaro informou achar que 10 milhões de empregos já foram “pro saco”, que funcionários estaduais não receberão salário e que a “porrada (na economia) vai ser muito maior do que você (Paulo Guedes) possa imaginar”. Ou seja, o presidente aposta que tudo vai piorar e o que tem a propor é que seus ministros o defendam politicamente. Alguém poderia ter manifestado preocupação em defender esses 10 milhões porque nessa estimativa, não há dúvida, Bolsonaro tem razão.

O site Ora Essa! tem um texto que complementa este artigo, neste link.

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