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A coluna trata de desigualdade, com destaque para casos em que as prioridades na defesa dos mais ricos e mais fortes acabam abrigadas na legislação, na prática dos tribunais e nas tradições culturais
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Militares são mão de obra disponível para a luta contra o coronavírus

Presidente tem poder para ordenar ação intensa das Forças Armadas na guerra contra a pandemia – uma possibilidade a lembrar no 31 de março

Por Marcos Emílio Gomes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2020, 11h27 - Publicado em 31 mar 2020, 15h51

O presidente Jair Bolsonaro, que nunca comandou nada e hoje é comandante-em-chefe das Forças Armadas, tem o poder de dar ordens suficientes para aliviar a crise provocada pelo combate à pandemia do Covid-19. Isso melhoraria sua posição na foto desse momento trágico da história sanitária do mundo, quando parece mais ocupado em contrariar a sensatez planetária e transformar o problema em questão eleitoral.

São notórias a capacidade e a vocação das três Armas para atuar nos pontos mais distantes do país e em momentos de comoção nacional. Não poucas vezes, realizam ações que atenuam o impacto da desigualdade social no Brasil. Contribuem para reduzir o impacto de calamidades que atingem sempre mais os que têm menos. Aumentam a oportunidade de sobrevivência dos que são geralmente considerados excluídos dos processos formais da economia, da legislação e até da dignidade.

Sobram exemplos. Brumadinho, enchentes, apoio ao tráfego de safras por estradas enlameadas, transporte de doentes de populações isoladas e campanhas de vacinação, para lembrar apenas poucos casos.

Mas as Forças Armadas dependem da hierarquia para que suas intervenções cresçam a ponto de fazer diferença neste momento. Basta conferir o que está sendo feito nas fontes oficiais de divulgação de informação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para perceber que há, sim, atividade na caserna contra a disseminação do coronavírus, mas ela está longe daquilo que poderia ser se o chefe supremo decidisse mobilizá-las de verdade.

Há noticias de reuniões nos estados com participação dos comandos regionais, informações acerca do apoio a medidas de prefeituras, dados relativos à produção de cloroquina e álcool gel e detalhes, principalmente, da chamada Operação Covid-19, com 5,5 mil militares, coordenada pelo Ministério da Defesa, para “apoio às ações federais, no controle de passageiros e tripulantes nos aeroportos, portos e terminais marítimos (…),  acesso das fronteiras (…), descontaminação de pessoal, ambientes e materiais (…), triagens de pessoas com suspeita de infecção (…) e hospitais de campanha”.

Com a disponibilidade de mais de 350 mil homens na ativa, pelo menos 1 milhão de reservistas recrutáveis, que passaram pelo período de treinamento obrigatório nas forças de defesa, em torno de 60 mil jovens no serviço militar atualmente e mais de 30 mil inativos com idade inferior a 60 anos (parte daqueles que se falava em contratar para o INSS), as Forças Armadas podem claramente fazer bem mais pelo país e para reduzir o impacto da crise junto à população carente.

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Missões a realizar não faltam. Entre elas:

Criar linhas de logística que façam chegar às comunidades carentes os alimentos que estão sendo desperdiçados nos cinturões verdes por fechamento de entrepostos e problemas de escoamento; distribuir nessas mesmas áreas álcool gel e produtos de higiene recolhidos em campanha junto a empresas e à população; atuar na orientação de civis no entorno de hospitais e postos de saúde, organizando filas de vacinação e triando pacientes de primeiro atendimento; atuar em terminais de transporte na organização de passageiros para evitar proximidade com risco de contaminação; promover a distribuição de medicamentos, equipamentos e acessórios para serviços de saúde; transportar pacientes em estado grave de regiões desassistidas para centros hospitalares; auxiliar na segurança e na desinfecção de áreas públicas.

A lista pode ir muito além disso, dependendo, é claro, da determinação do presidente e dos comandantes que o cercam. Por enquanto, porém, o que se tem na divulgação de ações militares, excetuadas as atividades já listadas, são em boa parte medidas que visam a proteger as próprias tropas da contaminação, com campanhas de esclarecimento e higiene e serviços de desinfecção no entorno de instalações das Forças Armadas. Leia nestes links notícias a respeito do Ministério da Defesa, da Força Aérea, da Marinha e do Exército.

O cuidado nos quarteis é mais do que necessário, considerando os riscos de uma epidemia sobre locais onde vivem centenas de homens, mas a medida fica bem aquém da missão constitucional dos militares. “Proteger os cidadãos” é atividade de alta relevância na atividade militar, como destacam os comunicados do estado-maior conjunto – certamente mais importante do que cogitar ataques à Venezuela, como já se especulou.

Como se sabe, Jair Bolsonaro trocou a farda pela política após processo disciplinar que avaliou sua desobediência aos códigos de conduta do Exército e seu plano terrorista para explodir bombas em instalações militares. Depois disso, o capitão reformado tornou-se vivandeira dedicada à celebração da memória da tortura, da anarquia e da violência política nos quarteis.

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Com seu apreço por homens fardados, transformou sua escrivaninha no Palácio do Planalto numa trincheira guardada por quatro generais e um major, atua como procurador das tropas para assuntos salariais e derrama-se emocionado quando busca exemplos de disciplina e patriotismo nas três Armas para discursar a favor da ordem e da hierarquia.

Neste momento, mesmo que suas preocupações com a economia sejam totalmente sinceras e admitindo-se que esteja honestamente confuso diante da necessidade de restrições sanitárias, nada o impede de mobilizar definitivamente as forças militares numa guerra contra o coronavírus. É só dar a ordem e comportar-se como comandante-em-chefe. Seria uma atitude ainda mais simbólica se fosse tomada hoje, 31 de março, data infame na história política do país.

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