O que une Deltan e Lula: ninguém pretende, por ora, sair de onde está
Dois polos da narrativa sobre a Lava Jato, o procurador e o petista querem ficar onde estão: o primeiro não quer promoção; o segundo rejeita o semiaberto
Dois lados da disputa de narrativas que se dá em torno da Operação Lava Jato, o procurador da República Deltan Dallagnol e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm ao menos uma coisa em comum: ninguém quer sair de onde está.
Na sexta-feira 18, o petista, por meio de seus advogados, fez chegar à Justiça que não aceita a progressão para o regime semiaberto, a que tem direito desde setembro por ter cumprido 1/6 da pena e por ter tido bom comportamento.
Alega que só irá deixar a cadeia em Curitiba, onde cumpre pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, quando ficar provada a sua inocência ou a suspeição do então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro – esse último caso deve ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal em novembro.
Do outro, o questionado procurador Deltan Dallagnol, que é coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, responsável pela acusação a Lula, também se recusa a deixar a função, nem mesmo em troca de um prêmio de consolação oferecido pela Procuradoria-Geral da República, que gostaria de vê-lo afastado do posto.
Uma das alternativas estudadas pela PGR era oferecer uma promoção a Deltan, de modo que ele “caísse para cima”. Mas o procurador não aceitou. Conforme revelou o Radar, antes de confirmar a desistência da promoção, o que provavelmente terminaria seu ciclo na Lava Jato, Deltan visitou todos os membros do Conselho Superior do Ministério Público Federal para dizer que não aceitaria a promoção.
Deltan tem certeza de que derrubará todos os procedimentos abertos contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Também como revelou o Radar, já há um plano no conselho para acabar com a gestão Deltan na República de Curitiba e mudar o comando da operação.
Tanto no caso de Lula quanto no de Deltan o raciocínio, no fundo, é parecido: aceitar sair de onde está agora seria quase que uma confissão de culpa. Nenhum dos dois quer saber disso.