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Hoje lembrados por Bolsonaro, pracinhas sofreram boicote no pós-guerra

Ex-combatentes da FEB são citados para marcar posição contra fascismo, mas história mostra que alguns deles sofreram até perseguição na ditadura militar

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 jun 2020, 10h55 - Publicado em 9 jun 2020, 21h49

Neste momento de revisitação histórica do confronto entre o fascismo e o antifascismo do século XX, o presidente Jair Bolsonaro decidiu recorrer aos ex-combatentes brasileiros da Segunda Guerra Mundial para marcar posição de que é contrário a regimes totalitários, apesar da escala autoritária de seus discursos.

No último domingo, dia 7, Bolsonaro publicou no Twitter o slogan da Força Expedicionária Brasil (FEB) – “A cobra fumou”. Na época, a mensagem tinha tom irônico e remetia à descrença popular de que era mais fácil a cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. “Derrotamos o nazismo e o fascismo”, escreveu Bolsonaro, tentando fazer um contraponto aos movimentos antifascistas que estão se levantando contra ele nas últimas semanas. No início de maio, Bolsonaro foi à cerimônia no Rio de Janeiro que celebrou os 74 anos da vitória dos Aliados sobre as tropas nazifascistas, em 1945, e fez questão de repetir: “Eles [os pracinhas] combateram o nazismo e o fascismo. Exatamente aquilo pelo que a esquerda nos acusa”.

A tática não é nova. Os então presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer também fizeram as devidas homenagens aos veteranos da FEB que lutaram contra as tropas nazifascistas, de 1943 a 1945. Mas a relação dos pracinhas com os governantes e a cúpula das Forças Armadas, que hoje os venera, nem sempre foi de reconhecimento e homenagem. No período da Guerra Fria, os combatentes sofreram abandono e boicote sobretudo dos colegas de farda mais conservadores, que viam em boa parte deles ligação com o comunismo – visão que Bolsonaro e alguns de seus ministros ainda compartilham sobre integrantes do seu governo.

“Numa era de Guerra Fria, a prioridade do Exército era a guerra revolucionária, e os inimigos a vigiar eram os internos”, disse a VEJA o historiador Francisco César Ferraz, um dos maiores estudiosos da participação do Brasil na Segunda Guerra e autor do livro A Guerra que não Acabou – A Reintegração Social dos Veteranos da FEB (1945-2000). “Houve boicote e esquecimento. Quando acabou a guerra, os expedicionários que eram militares regulares sofreram boicote daqueles que ficaram no Brasil, que temiam ficar em desvantagem na carreira, já que os expedicionários podiam ultrapassá-los nas promoções e méritos”.

Mesmo durante a ditadura militar – tão reverenciada por Bolsonaro -, boa parte dos expedicionários só era lembrada nos eventos comemorativos. E, apesar de a maioria deles ser conservadora, alguns chegaram até a ser presos e torturados pelo regime, como foi o caso do brigadeiro Moreira Lima, que participou de 94 missões na Itália. Em 1964, ele foi deposto do cargo por ter se declarado abertamente contra o golpe de 64, conforme relatou à Comissão Nacional da Verdade em 2012.

Só após a volta do período democrático, eles conquistaram o direito a uma pensão especial, como reconhecimento pelos sacrifícios na linha de frente, na Constituição de 1988. Na época, no entanto, dos 25.000 ex-combatentes, só havia 10.000 vivos.

A FEB foi enviada à Itália por ordem do presidente Getúlio Vargas e contribuiu para o desmoronamento do seu próprio governo conhecido como Estado Novo. Afinal, não fazia sentido mandar tropas para combater o nazifascismo, mantendo um regime ditatorial por aqui. Compara o historiador Ferraz: “A única coisa que Bolsonaro e Vargas têm em comum é a contradição de defender a democracia da boca para fora. Assim como era estranho que o Brasil da ditadura de Vargas atravessasse o oceano para lutar contra um regime de opressão, tendo um bem parecido em casa, também soa estranho um presidente apoiar o fechamento do Congresso e Judiciário, elogiar a tortura e querer entrar na barca honrada dos expedicionários que arriscaram sua vida pela pátria e pelas liberdades”.

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