Eleição na Câmara: o que a esquerda quer para apoiar Baleia Rossi
Dirigentes do PT, PSB, PDT e PCdoB pedem compromisso com instalação de CPIs e convocação de ministros, além de barrar pautas que consideram antidemocráticas
Não houve recesso parlamentar nas intensas negociações para definir quem será o próximo presidente da Câmara dos Deputados. Nesta segunda-feira, dia 28, o candidato Baleia Rossi (MDB-SP) recebeu uma carta-compromisso (leia na íntegra abaixo) assinada por quatro partidos de esquerda (PT e PCdoB) e centro-esquerda (PSB e PDT) como contrapartida para obter o apoio das siglas, que ao todo reúnem 121 deputados.
O documenta elenca cinco pontos considerados cruciais pelos dirigentes partidários. Entre eles, o de garantir a convocação de ministros do governo Jair Bolsonaro e a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para “cumprir a contento a sua função de fiscalização e controle”. E pede o respeito às “minorias parlamentares”, assegurando que a “oposição possa exercer seu dever de contrapor-se ao governo”.
O texto também cobra por uma atitude mais enérgica do emedebista na “proteção da democracia e instituições contra ataques autoritários”, seja não pautando projetos de “cunha antidemocrático” seja pelo repúdio a manifestações que “façam apologia da ditadura, tortura e arbítrio”.
A carta foi exibida durante uma videoconferência entre Baleia e os presidente do PT, Gleisi Hoffmann; do PSB, Carlos Siqueira; e do PCdoB, Luciana Santos. Também participaram os deputados Alessandro Molon (PSB-RJ), José Guimarães (PT-CE), Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e Wolney Queiroz (PDT-PE), entre outros. O atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também marcou presença no encontro virtual – ele faz campanha por Baleia contra a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio do Palácio do Planalto.
Os políticos que hoje são da oposição ao governo Bolsonaro saíram satisfeitos da reunião dizendo que Baleia se comprometeu a cumprir o acordo caso seja eleito.
Veja a íntegra da carta:
Por uma Câmara independente e livre
A eleição para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados ocorre em meio a uma profunda crise social, econômica, política e de saúde pública no Brasil, agravada por um governo federal insensível ao sofrimento do povo, irresponsável diante da pandemia e chefiado por um presidente da República que ao longo de sua trajetória sempre se colocou contra a democracia.
Nós, dos partidos de oposição, temos a responsabilidade de combater, dentro e fora do Parlamento, as políticas antidemocráticas, neoliberais, de desmonte do Estado e da economia brasileira, e de lutar para que nosso povo possa ter resguardados seus direitos à vida, à saúde, ao emprego e renda, à alimentação acessível, à educação, entre outros direitos essenciais.
Foi essa responsabilidade que nos uniu aos demais partidos do bloco que integramos para oferecer ao país e ao nosso povo saídas para os problemas que afligiram nosso povo nos dois últimos anos e, em especial, durante a pandemia, tal qual a aprovação da PEC do Orçamento de Guerra, que efetivamos juntos.
Além de derrotar Bolsonaro e sua pretensão de controlar o Congresso, queremos construir para a futura Mesa Diretora da Câmara dos Deputados uma plataforma de compromissos que objetive:
1) Defender a Constituição, que juramos obedecer e fazer obedecer no dia de nossa posse como parlamentares. Isso significa não apenas evitar sua deformação por propostas de emendas patrocinadas pelo governo, mas também garantir que seu texto e seus princípios sejam respeitados pelo Poder Executivo em cada um de seus atos, evitando que a alma viva de nossa República se torne letra morta.
2) Proteger a democracia e nossas instituições contra ataques autoritários de quem quer que seja, inclusive do presidente da República, seja por meio do repúdio a atos e manifestações que façam apologia da ditadura, da tortura e do arbítrio; seja pela manutenção da transparência, da participação e do controle social garantidos pela Constituição, e que o atual governo tenta, a todo instante, sabotar. Fundamental, por óbvio, não pautar projetos de cunho antidemocrático.
3) Garantir a independência do Poder Legislativo, o mais representativo dos poderes, fazendo-se respeitar suas atribuições, competências e prerrogativas. Isso significa:
3.1 apreciar projetos de decreto legislativo que visem a impedir que o Poder Executivo exorbite ou desvie de seu poder regulamentar para driblar, esvaziar ou burlar leis;
3.2 convocar ministros e outras autoridades para que venham prestar contas por atos seus ou de seus subordinados;
3.3 instalar Comissões Parlamentares de Inquérito, quando seus requisitos constitucionais tiverem sido observados, para que a Câmara possa cumprir a contento sua função de fiscalização e controle;
3.4 respeitar minuciosamente o devido processo legislativo constitucional e regimental e as minorias parlamentares, assegurando que a oposição possa exercer seu dever de contrapor-se ao governo tal qual garantem a Constituição e o Regimento;
3.5 garantir a proporcionalidade na distribuição de relatoria das matérias que tramitam na Casa;
3.6 não abrir mão dos instrumentos constitucionais para assegurar o respeito à Constituição, às leis, às instituições e à democracia.
4) Lutar pelos direitos do povo brasileiro, pautando projetos que garantam efetivamente o direito à vida e à saúde, por meio do adequado enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, garantindo-se o acesso à vacina a todos, o direito à subsistência, ao emprego e a uma renda mínima, pondo em prática medidas emergenciais que garantam o sustento de nossa população, sua segurança alimentar, bem como outras medidas que permitam fazer nossa economia voltar a crescer, gerando oportunidades de trabalho para todos e todas.
5) Assegurar a soberania nacional, proteger o patrimônio público e nossas riquezas naturais.
Tal compromisso demonstra que nossa prioridade é a defesa de nosso povo, de nossa democracia e de nossa Constituição, contra as práticas autoritárias e desestruturantes da República brasileira empreendidas pelo governo Bolsonaro, superando nossas divergências partidárias e ideológicas.
PT/PSB/PDT/PCdoB”