Devastação ambiental: o que o Brasil tem de bom e de ruim para a COP26
A boa notícia é que as queimadas na Amazônia, a ‘menina dos olhos’ da comunidade mundial, caíram em relação a 2020 e 2019; outros quatro biomas tiveram alta
O Brasil se prepara para participar da COP26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que começa no próximo domingo, 31, em Glasgow, na Escócia, quando tentará desfazer a imagem de vilão ambiental do mundo que o governo Jair Bolsonaro construiu nos primeiros anos de mandato — não dá para comemorar, mas o país chegará ao evento com ao menos uma boa notícia para dar.
Considerada a “menina dos olhos” da comunidade ambiental mundial, a Amazônia teve uma redução de área queimada em 2021, revertendo uma tendência dos dois primeiros anos. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, entre janeiro e setembro deste ano, foram queimados 36.938 quilômetros quadrados na Amazônia – foram 62.311 quilômetros quadrados no mesmo período de 2020, o que era um aumento em relação aos 59.826 em 2019.
A boa notícia na seara amazônica, no entanto, não se repete em outros quatro biomas nacionais: Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Caatinga.
Na mata atlântica, a área queimada aumentou 27,6% entre 2020 e 2021, também na comparação dos períodos entre janeiro e setembro, atingindo uma cobertura de 19.203 quilômetros quadrados destruídos – o número é o maior registrado desde 2011.
No Pantanal, as queimadas dispararam a partir de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, saltando de 2.749 quilômetros quadrados queimados em 2018, ainda com Michel Temer na Presidência, para 12.948 no ano seguinte.
Já a Caatinga atingiu a maior área queimada dos últimos dezoito anos (22.282 quilômetros quadrados), enquanto no Cerrado, o fogo destruiu a maior cobertura dos últimos cinco anos (124.021 quilômetros quadrados).
Plano ambiental
Para contornar a cobrança internacional, o governo federal lançou na noite de segunda-feira, 25, o Programa Nacional de Crescimento Verde, que busca “aliar o desenvolvimento econômico a iniciativas sustentáveis. De acordo com o texto, o programa tem seis objetivos principais:
- aliar o crescimento econômico ao desenvolvimento com iniciativas sustentáveis
- aprimorar a gestão de recursos naturais para incentivar a produtividade, a inovação e a competitividade
- criar empregos verdes
- promover a conservação de florestas e a proteção da biodiversidade
- reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com vistas a facilitar a transição para a economia de baixo carbono
- estimular a captação de recursos, públicos e privados, destinados ao desenvolvimento da economia verde, provenientes de fontes nacionais e internacionais
Para o diretor-executivo da WWF-Brasil, Maurício Voivodic, no entanto, a carta de intenções do programa contrasta com a realidade brasileira. “O que o governo fez foi um greenwashing governamental, quando uma história é contada passando uma maquiagem verde. A verdade é que o Brasil não fez a sua lição de casa, e os investidores sabem disso”, diz.
O ambientalista lembra que, prevendo as críticas à comitiva brasileira, não irão ao evento autoridades como o próprio Bolsonaro, além do chanceler Carlos França e da ministra Tereza Cristina (Agricultura). “Nós não vamos ter nada a mostrar, mas muito o que explicar. Pelo que temos acompanhado, a delegação brasileira vai se colocar menos como barreira e mais de uma forma propositiva”, afirma.