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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Cloroquina, fake news e gabinete paralelo: a CPI ouve o ‘fugitivo’ Wizard

Empresário bilionário que foi o único a faltar a depoimento será inquirido nesta quarta-feira em meio a uma devassa no seu sigilo e de onze empresas

Por Caíque Alencar Atualizado em 16 jul 2021, 18h03 - Publicado em 30 jun 2021, 07h00

Dono de uma fortuna estimada em 2,1 bilhões de reais, sócio de mais de uma dezena de marcas conhecidas e empenhado em construir a imagem de alguém comprometido com o voluntariado e os bons valores, o empresário Carlos Wizard Martins, 64 anos, se viu nos últimos dias como tema de um noticiário de tons policiais: único depoente a faltar à CPI da Pandemia, em andamento no Senado, no dia 17 de junho, ele foi alvo de um mandado de condução coercitiva – que não se realizou porque a Polícia Federal não o encontrou em sua casa, em Campinas – e da determinação da apreensão do seu passaporte e só não teve o seu nome incluído na lista de foragidos da Interpol (polícia internacional) porque seus advogados se apressaram em dizer que ele irá depor aos parlamentares nesta quarta-feira, dia 30 de junho, após voltar dos Estados Unidos.

A busca por ele teve até momentos de humor como quando, ainda com paradeiro desconhecido, viu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) “invadir’ uma live da qual participava para avisá-lo que a comissão estava em seu encalço. Mas o episódio todo é “café pequeno” perto do que o aguarda: uma devassa em suas contas bancárias – pessoais e de suas empresas – e de seus telefones, e-mails, mensagens de aplicativos, tudo com o objetivo: esclarecer, afinal, qual foi o seu papel no gabinete paralelo que orbitou em torno do Ministério da Saúde e que orientou boa parte da política errática do governo Jair Bolsonaro no combate à pandemia da Covid-19, como a perseguição da política de imunidade de rebanho, ou seja, a contaminação do maior número possível de brasileiros como forma de proteção contra a doença. O empresário é um dos maiores defensores do tratamento precoce com medicamentos sem eficácia comprovada cientificamente contra a Covid-19.

A sua porta de entrada no governo Bolsonaro foi o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Em entrevista à TV Brasil em julho do ano passado, Wizard disse que recebeu convite do general para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Os dois se conheceram na cidade de Boa Vista, em Roraima, durante a Operação Acolhida, força-tarefa que atendia refugiados venezuelanos — Wizard atuava como voluntário, enquanto Pazuello era coordenador da operação. Após o convite, porém, o empresário não quis assumir o comando da secretaria e disse que preferia ser um “conselheiro independente”. A declaração foi dada pelo empresário ao lado da médica Nise Yamaguchi, oncologista e imunologista também entusiasta da hidroxicloroquina contra a Covid-19 e citada como responsável por tentar mudar a bula do medicamento, iniciativa que já foi confirmada em outros depoimentos à CPI.

LEIA TAMBÉM: Investigado na CPI, Wizard é pedra no sapato da rede de escolas de idiomas

O envolvimento do empresário com o Ministério da Saúde, no entanto, vem de um pouco antes. Em junho do ano passado, quando já havia sido convidado por Pazuello, mas ainda não tinha nomeação formal, Wizard acusou governadores e prefeitos de inflar o número de mortes e contaminações com o objetivo de ter um repasse maior por parte do governo federal — à época, o empresário chegou a dizer que tudo era “fantasioso ou manipulado”. Ele é acusado de ter sido o autor da ideia de mudar os critérios para a contagem de casos e mortes pela Covid-19, depois descartada pelo ministério.

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Esse é um dos pontos que o senador Humberto Costa (PT-PE) aponta como um dos caminhos que a investigação deve seguir, mas também cita a defesa que Wizard faz da hidroxicloroquina. “Nós temos indícios de que ele foi o inspirador para fraudar os números do Ministério da Saúde e vamos investigar esse charlatanismo que foi a indicação de remédios sem eficácia comprovada”, afirmou.

Sobre a defesa dos medicamentos sem eficácia comprovada contra a cloroquina, o próprio Wizard deixou claro isso em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 12 de março de 2021. “Eu sou tão adepto do tratamento profilático que a cada 15 dias eu tomo hidroxicloroquina. Tomo invermectina, zinco e vitamina D. Já estamos com um ano de pandemia, e, até agora, não tive nenhum sintoma de Covid. Não peguei”, afirmou.

Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), autor do requerimento de convocação, a oitiva do empresário terá como foco entender como se dava o funcionamento desse “conselho independente” e ainda identificar outros membros que possam ter feito parte do grupo. Durante o seu depoimento à CPI nos dias 19 e 20 de maio, Pazuello afirmou que Wizard propôs reunir médicos e outros especialistas em um conselho para auxiliar o ministério no combate à pandemia. “A condução dos questionamentos também vai ter como objetivo investigar os financiamentos e a atuação como voluntário que ele tinha”, disse Vieira.

A CPI espera que Wizard explique se se ele era integrante do “gabinete paralelo” que aconselhava o governo e se houve da parte dele financiamento para a difusão de notícias anticientíficas ou fake news sobre a doença e a pandemia. A fim de ampliar as investigações contra o empresário, a comissão aprovou em 23 de junho requerimentos do relator Renan Calheiros (MDB-AL) para quebrar o sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático de onze empresas ligadas a Wizard.

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Para Renan, Wizard, como integrante do gabinete paralelo, defendeu não só o uso de cloroquina, com foi incentivador de outras medidas consideradas ineficientes para conter a crise sanitária. “Mais do que um mero conselheiro do ex-ministro Pazuello, o senhor Wizard também defendeu publicamente o tratamento precoce contra o coronavírus e se posicionou contrariamente a medidas de confinamento, havendo indícios de que tenha mobilizado recursos financeiros para fortalecer a aceitação das medidas que o presidente da República julgava adequadas, mesmo sem qualquer comprovação científica”, afirmou em seus requerimentos de quebra de sigilo direcionados a Wizard e suas empresas.

Segundo a CNN Brasil, Wizard esteve ao menos doze vezes no Palácio do Planalto em 2020, segundo os registros oficiais de entrada e saída do prédio. Uma das reuniões teria sido com o então ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, no dia 2 de junho. Também constam encontros na Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência), na Secretaria-Geral da Presidência e no próprio gabinete de Bolsonaro, com auxiliares presidenciais.

O empresário

Curitibano, Wizard é graduado em ciência da computação e estatística por uma universidade americana e se tornou conhecido ao fundar em 1987 a franquia de escolas de idiomas Wizard – da empresa, que não é mais dele, ele incorporou nome. Com o passar dos anos, ele comprou outras empresas e criou uma gestora de investimentos, a Sforza, que reúne franquias de alimentação, educação, esportes e serviços financeiros. Autor de livros de auto-ajuda, ele é responsável por obras como Desperte o Milionário que Há em Você (Buzz Editora, 2018) e É Do Zero ao Milhão (Buzz Editora, 2017), nas quais tenta transmitir mensagens incentivadoras para empreendedores.

 

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