A cúpula do futuro governo decidiu apoiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2019. O nome foi insistentemente defendido pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que conseguiu convencer o presidente eleito, Jair Bolsonaro, sobre as vantagens de contar com Maia nessa posição para a aprovação dos projetos mais caros da equipe econômica.

No quartel-general do governo de transição, instalado no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, Maia deixou de ser chamado por seu nome. Agora, é tratado com indisfarçável intimidade nas conversas como “Bolinha”, apelido reservado pelo presidente da Câmara apenas a seus amigos mais próximos.

Guedes e Maia construíram uma relação de amizade e de confiança desde os tempos em que o presidente da Câmara atuava no setor financeiro, no Rio de Janeiro. Nos anos 1990, ele trabalhou para os bancos BMG e Icatu e tinha em Guedes um mestre. Nas últimas semanas, o futuro ministro recorreu a seu velho amigo e ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), para impedir a inclusão na pauta de ambas as Casas do Congresso os projetos com potencial de aumentar abruptamente as despesas federais.

Em sua argumentação, Guedes afirmou que seria de muito mais valia a condução da Casa por um deputado com perfil de hábil articulador do que a escolha de um político com comportamento de “trator”, como defendera o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho e conselheiro do presidente eleito.

O apoio do futuro governo à recondução de Maia, entretanto, não se dá de forma pacífica na base do PSL, desgostoso com a indicação de três políticos do partido Democratas para ministérios de grande envergadura: o gaúcho Onyx Lorenzoni para a Casa Civil, Tereza Cristina para a Agricultura e Luiz Henrique Mandetta para a Saúde.

Para contornar essa reação em sua base, a equipe de transição considera a possibilidade de manter no Ministério das Cidades a área – e o orçamento – de saneamento público, que antes seria transferida para a nova pasta da Infraestrutura. Um nome do PSL, obviamente, ficaria com Cidades. Mas não está claro se essa oferta será suficiente para apaziguar os ânimos do partido do presidente eleito.

Outro obstáculo ainda maior será a reação do plenário da Câmara dos Deputados. A ideia de entregar a presidência da Casa – e a terceira posição na linha de sucessão do Palácio Planalto – a um partido claramente vinculado ao governo Bolsonaro causa resistência não apenas entre as legendas de oposição. Esta batalha caberá principalmente a Lorenzoni, que articulou o apoio dos Democratas, e ao próprio Maia.