A receita de fritura do presidente Jair Bolsonaro
Esvaziamento de poderes, caneladas nas redes sociais e recados em coletivas e transmissões ao vivo são alguns dos ingredientes
O presidente Jair Bolsonaro recorre a táticas recorrentes quando quer forçar a demissão, ou seja, “fritar” um ministro que o desagrada. O mais novo alvo, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, perdeu o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o ministério da Economia de Paulo Guedes. Anteriormente, ele já havia perdido a articulação política para o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. O esvaziamento de poderes é um dos ingredientes da “receita de fritura” do presidente, que também inclui caneladas nas redes sociais e declarações em coletivas de imprensa e transmissões ao vivo.
Para abafar polêmicas que ganham uma repercussão negativa quase de forma instantânea, Bolsonaro usa a internet. Quando pegou mal a recontratação do ex-número dois da Casa Civil, José Vicente Santini, que usou avião da FAB para ir à Índia, o presidente anunciou no Twitter que tornaria “sem efeito” a recondução – um recado a Lorenzoni, então seu chefe direto, e que estava em férias. Um dia antes, em entrevista, havia classificado como “imoral” e “inadmissível” a conduta de Santini.
Na recente rusga não declarada com o ministro Sérgio Moro, ameaçou mantê-lo no comando da Justiça, mesmo se fosse recriado o ministério da Segurança Pública, o que implicaria a perda de controle da Polícia Federal (PF). A proposta não prosperou, mas Bolsonaro estava consciente que a ideia não agradaria o ex-juiz da Lava Jato: “Lógico que o Moro deve ser contra”, declarou o presidente em uma entrevista coletiva. No ano passado, o ministro mais popular do governo federal já havia perdido o controle do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e sofreu uma derrota com a decisão de Bolsonaro de manter a figura do juiz de garantias no pacote anticrime.
É sistemática a conduta do presidente para se livrar de subordinados desafetos. Sob circunstâncias parecidas, foram demitidos do alto escalão de ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), Floriano Peixoto e o general Santos Cruz (Secretaria de Governo), além de Ricardo Vélez (Ministério da Educação). Na corda bamba, Lorenzoni, que não goza da mesma popularidade de Moro, diz que se mantém no governo, mas uma definição cabe a Bolsonaro.