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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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O mito da cobiça na Amazônia

Essa visão pertence aos tempos imperiais, que já passaram

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 13 nov 2020, 09h14 - Publicado em 13 nov 2020, 06h00

Muitos ainda acreditam que a Amazônia é cobiçada por grandes potências. Trata-se, na verdade, de mito do qual se tem ocupado o presidente Jair Bolsonaro, enquanto os exportadores brasileiros são prejudicados pela péssima imagem da política ambiental do governo.

O mito alcançara o auge no início dos anos 1970, quando o matemático e futurólogo americano Herman Kahn propôs construir um gigantesco lago na bacia amazônica. Ele dizia que isso facilitaria o sistema de transporte e desenvolveria o comércio com outros países, mas imaginou-se que seu objetivo era internacionalizar a região.

Tal cobiça poderia até ter existido muitos séculos atrás, nos tempos imperiais do hard power (poder armado). Nesse período, o progresso era associado à capacidade de mobilizar recursos humanos e materiais para invadir, ocupar e explorar outros territórios. O Egito, feito colônia pela Roma antiga, passou a assegurar o seu suprimento de trigo.

Na era colonialista — do século XVI aos anos 1960 —, potências europeias e o Japão buscaram tanto a expansão territorial quanto criar mercados para suas manufaturas. Impuseram seus regimes legais com vistas a garantir segurança jurídica para as atividades de suas empresas em terras estrangeiras. Adolf Hitler, o último líder a guiar-se por essa estratégia, reivindicava um “espaço vital” para a Alemanha.

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“O poder hoje é baseado na reputação construída a partir da ascendência intelectual”

No século XX, mostrou-se que a produtividade — não a conquista — era a fonte da prosperidade. Segundo o historiador escocês Niall Ferguson, as colônias pouco contribuíram para o Império Britânico. A descolonização, iniciada no pós-guerra, se intensificou com o comitê criado pelas Nações Unidas (1962). A anexação recente da Crimeia pela Rússia (2014) — que antes lhe pertencera — não visou à expansão geopolítica.

Hoje, com as mudanças globais e a obsolescência do hard power como instrumento de dominação, surgiu o soft power (poder brando), conceito desenvolvido pelo cientista político americano Joseph Nye. Em vez de submeter países pela força, recorre-se a ações para influenciar indiretamente comportamentos ou interesses por meios culturais ou ideológicos.

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Para o cientista político Sérgio Abranches, os recursos de poder mais importantes passaram a ser ciência, tecnologia, conhecimento, influência cultural e habilidade diplomática. O soft power, diz, é uma forma mais sutil de poder baseada na reputação construída mediante ascendência intelectual em um mundo globalizado.

As invasões como instrumento de poder e dominação ficaram para trás. Guerras de que atualmente participam grandes potências visam a derrubar ditadores que apoiam grupos terroristas capazes de ameaçar sua segurança interna — caso das guerras do Iraque, do Afeganistão e da Síria — ou por razões humanitárias, como ocorreu no conflito dos Bálcãs. Se houver cobiça sobre a Amazônia, estará presente em grupos que agem à margem da lei: madeireiros, grileiros e garimpeiros. O governo precisa atualizar-se.

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Publicado em VEJA de 18 de novembro de 2020, edição nº 2713

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