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Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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Moeda única entre Brasil e Argentina é um delírio

Não existem as mínimas condições para criar uma moeda comum, a começar pelo equilíbrio macroeconômico entre os dois países, que está longe de acontecer

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 7 jun 2019, 09h31 - Publicado em 7 jun 2019, 08h41

Durante a visita que ontem o presidente Jair Bolsonaro fez à Argentina, falou-se em moeda única entre os dois países. A ideia não faz o menor sentido. Estamos longe de ter as condições para dar esse passo no processo de integração do Mercosul.
Experiências de moeda única fracassaram na história. A do euro, que até aqui sobreviveu a crises, tem origem no projeto de integração iniciado com o Tratado de Roma (1958). O projeto, iniciado com seis países – França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo –, compreende atualmente 28 nações.

Esse projeto vai muito além do seu aspecto econômico. Sua maior inspiração foi a necessidade de por um fim às guerras da região e aos seus custos em vidas humanas e em destruição da infraestrutura e do potencial de geração de renda e bem-estar. O horror da Segunda Guerra foi o impulso fundamental. Nada parecido existe na América do Sul.

A criação da moeda única foi pensada desde o início da integração europeia, mas se sabia que era preciso criar as precondições para o seu funcionamento, tanto a estabilidade macroeconômica regional quanto a criação de entidades supranacionais para lidar com questões cruciais como as das políticas fiscal e monetária. A América do Sul sequer começou a pensar nessas condições.

A criação do euro pressupunha a instituição de um Banco Central Europeu e a independência formal dos bancos centrais dos países membros – o que aconteceu – mas também uma união bancária e fiscal, que está por ser feita. O advento da moeda única, mesmo sem a existência de todas as precondições, foi motivado pela reunificação da Alemanha. Os líderes da França e do Reino Unido enxergaram nessa reunificação os riscos de uma Alemanha mais poderosa provocar uma nova guerra.

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A moeda única, que nasceu em 1992, foi, assim, a maneira de vincular definitivamente a Alemanha ao projeto europeu, levando-a a renunciar à sua própria moeda, o forte marco. O chanceler alemão, Helmut Kohn, apoiou a ideia. Ele demonstrou saber os riscos de seu país engajar-se novamente em um conflito com seus vizinhos. Para ele, era “preferível uma Alemanha europeia a uma Europa alemã”.

Como se vê, o euro é fruto de um processo longo, ainda inconcluso, que surgiu depois de mais de trinta anos de profunda e bem-sucedida integração econômica, que compreendeu a instituição de um sistema comum de tributação do consumo, o Imposto sobre o Valor Agregado, o IVA europeu.

Brasil e Argentina sequer exibem a condição inicial para pensar em uma moeda única, o equilíbrio macroeconômico. Ambos estão em crise fiscal e a Argentina voltou a lidar com grave problema inflacionário. A ideia da moeda única não passa, pois, de um delírio.

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