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Prevenção às drogas é ação e não sermão. A Islândia prova isso

Com um programa simples e bem direcionado, a Islândia conseguiu reduzir de forma surpreendente e efetiva o consumo de álcool e drogas entre os jovens

Por Ronaldo Laranjeira
Atualizado em 28 dez 2017, 16h33 - Publicado em 28 dez 2017, 16h33

Um país que, literalmente, “inverteu” um ditado: do vinho para água. Imagine a seguinte situação: em apenas duas décadas, a Islândia conseguiu fazer com que a juventude que mais bebia na Europa se tornasse a que adota o estilo de vida mais saudável no continente. E mais: com medidas relativamente simples, que podem ser replicadas ao redor do mundo. Parece brincadeira, mas não é.

Em 1998, 42% dos adolescentes islandeses entre 15 e 16 anos afirmaram ter ficado alcoolizados no último mês – 23% também fumavam e 17% usavam maconha. Números preocupantes. Após as medidas adotadas no país, em 2016 esses índices caíram de forma impressionante: de 42% para 5%, de 23% para 3% e de 17% para 7%, respectivamente.

Como a Islândia conseguiu?

Basicamente, a Islândia conseguiu realizar o que diversas nações estão tentando há décadas, na maioria dos casos sem sucesso. O que foi feito de diferente? Ouviram os jovens e identificaram suas necessidades, além de transformar a prevenção, que saiu do puro falatório e partiu para a ação.

Tudo isso aconteceu graças ao início do programa Juventude na Islândia (Youth in Iceland), justamente em 1998. Anteriormente, dentre as principais ações realizadas pelo governo estava apenas ensinar às crianças os impactos negativos provocados pelo uso de drogas. Os números mostram que, claramente, o que estava sendo feito não apresentava resultados positivos.

Aí teve início esta iniciativa, que busca identificar questões como características familiares, hábitos, anseios e possíveis problemas emocionais dos jovens, dentre outras questões, por meio de questionários aplicados periodicamente aos adolescentes das escolas islandesas.

A pesquisa identifica estas e outras variáveis, que integram informes repassados para cada distrito e escola pesquisada. O resultado? Ações específicas, segmentadas para os jovens de cada comunidade, com alternativas de lazer e esporte elaboradas para combater os fatores de risco, gatilhos sociais e psicológicos identificados no estudo, que possam levar os adolescentes a consumir drogas.

A escolha dessas alternativas é baseada no conceito de que podem provocar um efeito parecido ao dos entorpecentes no cérebro, por meio da endorfina, afastando os jovens de seu consumo. Aqui está um dos grandes trunfos do programa: considerar o perfil dos adolescentes ao ser elaborado – ávidos por desafios e por experimentar novas sensações. Além disso, é uma população que passa por descobertas constantes, períodos de ansiedade e angústia, que muitas vezes encontra nas drogas uma forma de enfrentar essas questões.

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Outra grande sacada do Juventude na Islândia é o fato de ser realizado a nível local, desde a pesquisa até sua aplicação, em um esforço conjunto entre governos municipais, escolas e as próprias comunidades.

Prevenção começa em casa

Tudo começa com os pais, considerados como o principal ponto de prevenção. O programa defende que eles, ao passarem mais tempo com os filhos, dão o suporte necessário que precisam e funcionam como fator preventivo, ajudando os jovens a enfrentar dificuldades, ao mesmo tempo em que têm a possibilidade de acompanhá-los e identificar um possível consumo de drogas, por exemplo.

Outro passo importante foi o aumento do vínculo entre as escolas e os pais, por meio de conselhos escolares e organizações com mães e pais, criados por lei em todos os centros de ensino. Além disso, o setor público passou a financiar mais atividades extraescolares, como esportivas ou culturais. Tais atividades podem variar de local para local, já que são definidas com base nos resultados obtidos durante a pesquisa. Ou seja: é utilizado o que funciona para a juventude daquela região.

Outras medidas adotadas foram o enrijecimento de leis antidrogas ou a determinação que prevê que crianças menores de 12 anos não podem andar sozinhas nas ruas depois das 20h e, no caso de adolescentes de 13 a 16 anos, após as 22h (com algumas exceções).

Resultados surpreendentes

Os resultados falam por si só: queda drástica no consumo de drogas e diminuição do risco de uso, adoção de um estilo de vida mais saudável e até a obtenção de melhores resultados acadêmicos por parte dos jovens. Tudo isso com medidas de certa forma simples, mas com uma diferença crucial: são políticas baseadas em evidências e não no famoso “acho que”, um fato que já citei inclusive nesta coluna e que defendo veementemente.

Além disso, o programa se destaca por ser uma ação sustentada e atualizada constantemente, já que os questionários são reaplicados aos jovens periodicamente, o que faz com que as ações do Juventude na Islândia possam ser readequadas e permanecerem eficazes.

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Um exemplo prático da importância de abandonarmos de vez os achismos e utilizarmos dados confiáveis na tomada de decisões, principalmente de políticas públicas. A Islândia fez isso, e funciona.

 

(Ricardo Matsukawa/VEJA)

 

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