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Pesquisa revela como a obesidade causa o diabetes tipo 2

Não é novidade que a obesidade é um fator de risco para o diabetes, mas agora uma nova pesquisa revelou o mecanismo dessa associação

Por Freddy Eliaschewitz
Atualizado em 10 nov 2017, 12h00 - Publicado em 10 nov 2017, 12h00

Que a obesidade é o principal fator de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 é fato estabelecido há várias décadas. A epidemia global em curso de diabetes é consequência direta do aumento da prevalência de obesidade, observada na maioria dos países a partir dos anos 60.

A associação entre obesidade e diabetes

Quando uma pessoa engorda o seu tecido adiposo aumenta. Essa expansão do tecido adiposo requer um aumento correspondente da rede vascular para supri-lo de oxigênio e nutrientes. Ocorre que se o aumento do tecido adiposo for proporcionalmente maior do que a rede vascular (o que geralmente ocorre quando o ganho de peso é grande ou rápido ), as células do tecido adiposo passam a ser submetidas a um ambiente de relativa escassez de oxigênio (hipóxia).

Nesta condição, secretam substâncias que atraem um tipo de glóbulos brancos, os macrófagos, que passam a infiltrar o tecido adiposo. Os macrófagos infiltrados no tecido adiposo são ativados e passam a secretar várias substâncias (citocinas). Algumas facilitam o crescimento de novos capilares amenizando a falta de oxigênio e outras, como o TNF alfa, têm a propriedade de diminuir o efeito da insulina, o hormônio que controla o nível de açúcar (glicose).

O papel da insulina

Deste modo, quem desenvolve obesidade, tem agora que produzir muito mais insulina para superar o efeito inibidor das substâncias produzidas pelos macrófagos que passaram a habitar no seu tecido adiposo expandido. Baseados neste conhecimento, pesquisadores desenvolveram estratégias para inibir o efeito do TNF alfa, com o propósito de diminuir a resistência à insulina e o consequente diabetes associado à obesidade.

Uma destas tentativas foi o uso, em 2007, de um anticorpo anti-TNF alfa que produziu apenas uma pequena melhora no controle do metabolismo de pacientes com diabetes e obesos, indicando que deveriam existir outros mecanismos, ainda desconhecidos, responsáveis por provocar diabetes nos obesos.

A nova pesquisa

Após dez anos de pesquisas, cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, parecem ter encontrado uma resposta para essa questão. Desde o final da década de 90 sabe-se que as células podem comunicar-se através dos exosomas, partículas constituídas por uma membrana (semelhante à membrana celular) que envelopam diversos tipos de informação genética, representadas por sequências de DNA, RNA mensageiro ou microRNA (miRNA)s.

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Estas moléculas não poderiam ser diretamente secretadas na circulação porque seriam imediatamente destruídas por enzimas presentes no sangue (DNAses e RNAses). Assim, através dos exosomas, uma célula pode modificar o funcionamento de outra célula à distância, uma vez que a célula receptora incorporará as novas informações genéticas contidas no exosoma.

Os pesquisadores demonstraram que exosomas provenientes de macrófagos existentes no tecido adiposo de animais obesos, com resistência à insulina, eram capazes de inibir o efeito da insulina quando colocados em cultura de células musculares ou de fígado. Além disso, a injeção destes exosomas em animais normais era capaz de provocar resistência à insulina nestes animais, apesar destes serem magros.

De modo reverso, a injeção nos animais obesos de exosomas provenientes de macrófagos de animais normais atenuava a resistência à insulina.

Após a clara demonstração que os exosomas dos macrófagos eram capazes de modular a resistência à insulina, os pesquisadores conduziram uma série de experimentos para identificar qual substância presente nestas partículas era responsável pelo efeito. Verificaram que o mi RNA-155 estava aumentado em três vezes no exosoma dos animais obesos em relação aos animais magros e que este RNA tanto “in vitro” quanto “in vivo” era capaz de produzir resistência à insulina.
O mi RNA-155 interfere com o gene PPAR gama inibindo a sua expressão.

Possível tratamento

Um dos medicamentos utilizados no tratamento do diabetes, a pioglitazona tem a propriedade de estimular a expressão deste gene. Deste modo, teria efeito contrário ao do miRNA-155 e portanto, seria a medicação específica para atenuar o efeito de aumento da resistência à insulina associado à obesidade.

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Certamente o conhecimento dos mecanismos que vinculam a obesidade ao diabetes é relevante em um mundo que em 2020 abrigará 1 bilhão de habitantes com sobrepeso ou obesidade e 643 milhões de portadores de diabetes. Este conhecimento é pré-requisito para o desenvolvimento de tratamentos capazes de evitar que os obesos se tornem diabéticos.

Referência: Ying W, Riopel M, Bandyopadhyay G, Dong Y, Birmingham A, Seo JB, Ofrecio JM,
Wollam J, Hernandez-Carretero A, Fu W, Li P, Olefsky JM. Adipose Tissue
Macrophage-Derived Exosomal miRNAs Can Modulate In Vivo and In Vitro Insulin
Sensitivity. Cell. 2017 Sep 19.

(Heitor Feitosa/VEJA.com)

 

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