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Os pacientes “vivedores”

Mesmo nas piores situações imagináveis, alguns pacientes preferem se manter positivos

Por Ben-Hur Ferraz Neto
4 abr 2018, 18h58

Durante os últimos 30 anos de vida profissional como médico cirurgião de fígado, vias biliares e transplantes, venho cuidando de pessoas, na maioria das vezes, portadores de tumores e doenças muito graves que podem levar a morte em curto período de tempo. Essa experiência me fez observar e tentar analisar o porquê alguns pacientes apresentam excelente recuperação de um complexo tratamento cirúrgico e, outros, não.

Lembro, claramente, dentre alguns milhares de casos graves tratados, um em especial. O paciente se encontrava em uma situação muito desfavorável e sem a possibilidade de um tratamento curativo. Estava internado por mais de 60 dias, com 3 drenos que saiam do abdome e exteriorizavam bile, secreções e um pouco de sangue. O caso era terminal e muito grave. Todavia, ao entrar, diariamente no seu quarto, e lhe perguntar como se sentia, a resposta era sempre a mesma: “Maravilha, melhor impossível, doutor!”. Esta afirmação sempre ficava martelando na minha cabeça. Como pode alguém tão doente, conhecedor de seus problemas e ciente da sua gravidade, estar tão bem?]

Na verdade, eu sempre enfatizei para os meus pacientes que o conhecimento do seu problema e a confiança no tratamento eram fundamentais para o sucesso de um procedimento tão complexo. Sempre mostrei que, pelo menos a metade do tratamento, estava nas mãos do paciente, ou melhor, na mente do paciente. Mais recentemente, um paciente submetido a um transplante de fígado em gravíssima condição clínica, pai de família e próximo dos 50 anos de idade, depois de passar por toda a espera que um transplante requer, ter sido submetido a uma das maiores operações já realizadas em um ser humano, quase jogou a toalha.

Inicialmente, por que não conseguia se alimentar e precisar de uma sonda que, através do nariz, chegava ao intestino, para que a alimentação necessária fosse administrada. Isso para ele era a morte! Mesmo depois de tudo que passou e de ter superado o pior. Internado há várias semanas e com um quadro clínico inesperado, entrei no quarto dele e comentei: “Sabe que durante a minha experiência médica pude observar dois grupos distintos de pacientes, os vivedores e os outros, que prefiro nem mencionar como os defino. Meu amigo, você não está no grupo dos que denomino vivedores, mas tenho certeza de que você estará bem, de volta a sua família e curado, se quiser! Por isso, que tal mudar a cabeça e o grupo?”

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Hoje, recuperado, este paciente é mais um dos inúmeros que me ajudaram a fazê-los sobreviver. A medicina tem evoluído de forma extraordinária. Tem possibilitado diagnósticos e tratamentos que foram, até poucos anos atrás, inimagináveis. Mas, a vontade de viver, o compromisso com a vida, a confiança no profissional que o atende, a resiliência, estão intrinsecamente unidos à recuperação de um enfermo.

Sou um dos maiores apaixonados pela inteligência artificial, pelo big data, pelos robôs que serão capazes de diagnosticar e mostrar o melhor caminho para médicos e pacientes. A tecnologia já é, e será ainda mais, responsável pelos bons e precisos diagnósticos, bem como por boa parte do sucesso do tratamento. Mas, quando eu estiver muito doente, gravemente enfermo no hospital, quero uma mão amiga e o carinho do médico que elegi como o depositário da confiança para a melhor decisão e esclarecimento das minhas dores ou do meu digno fim.

 

 

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