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O impacto da pandemia nas relações sexuais

A Organização Mundial de Saúde divulgou recomendações para os solteiros em tempos de Covid-19, que incluem cuidados com masturbação e sexo virtual

Por Carmita Abdo
Atualizado em 17 ago 2020, 15h46 - Publicado em 17 ago 2020, 13h35

Até sermos atropelados pela pandemia da Covid-19, estávamos atravessando uma fase de inúmeras inovações biotecnológicas, as quais vinham favorecendo a longevidade. Antibióticos, vacinas, medicamentos psiquiátricos e terapias genéticas preventivas, entre outras, eram colocadas a serviço das pessoas viverem cada vez mais e melhor. Contudo, já se questionava se os portadores de doença mental conseguiriam obter essa mesma vida longa.

Recentemente, na Suécia, Finlândia e Dinamarca foi desenvolvido um estudo sobre a expectativa de vida, concluindo que os homens e as mulheres com transtornos mentais morrem cerca de 15 a 20 anos antes de que aqueles da população geral.

Além disso, quanto maior a recessão, maior a ameaça para esta e as próximas gerações, em decorrência de educação deficiente, baixa renda, más condições sanitárias, baixo nível de informação sobre saúde, bem como influência de algumas crenças e práticas culturais nada saudáveis. A relação entre pobreza e transtorno mental é inequívoca.

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Antes do confinamento, a prevalência de transtornos mentais era de 18% a 25% na comunidade, 27% a 48% nas clínicas de atendimento, sendo de 12% a 29% entre crianças e adolescentes. Na última década, segundo a Organização Mundial da Saúde, o diagnóstico de depressão em crianças aumentou de 4,5% para 8%. A população afetada por problemas mentais somava 20 milhões de pessoas em 1990 e passou a 35 milhões, em 2010. Os transtornos mais prevalentes eram depressão e ansiedade, além de quadros mentais com manifestações somáticas.

Constatava-se, ainda, o preocupante fenômeno da “exclusão social”, ou seja, o abandono desses doentes pela sociedade e até por suas famílias. Enquanto escrevo este texto, recebo a informação de que nos Estados Unidos, nas duas últimas semanas de julho, mais de 97 mil crianças contraíram o Covid-19, segundo estudo da Academia Americana de Pediatria e da Children’s Hospital Association. Nesse período, as escolas ainda estavam fechadas, devido à pandemia. Esse alto índice da Covid-19 na infância preocupa familiares e professores. Embora os estudos apontem que a probabilidade da criança desenvolver um quadro grave seja menor, os pesquisadores alertam que aquelas com menos de 5 anos podem carregar uma carga viral maior e que ainda é preciso entender se isso aumenta a capacidade de transmissão do vírus.

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Também de acordo com a Organização Mundial da Saúde, um quarto dos adultos em todo o mundo relatam que foram abusados fisicamente quando crianças, enquanto 1 em cada 5 mulheres e 1 em cada 13 homens refere abuso sexual na infância. Além disso, muitas crianças estão sujeitas a abuso emocional/psicológico e à negligência.

Dado que os anos da infância são um período crítico de desenvolvimento psicossexual, tem havido muito interesse no impacto das adversidades na infância sobre o funcionamento sexual adulto. Sem dúvida, experiências traumáticas têm efeito prejudicial no desenvolvimento da vida social, no crescimento, na resposta sexual e no relacionamento interpessoal do adulto, pois geram medo da intimidade.

Especificamente, mulheres com histórico de experiências traumáticas na infância relatam maior dificuldade afetiva e tendência a maiores níveis de preocupação. Essas consequências podem ser explicadas pela sobrecarga e pelo desgaste do corpo e do cérebro, resultantes dos efeitos cumulativos do estresse crônico, que pode inclusive ocasionar depressão.

Uma história de trauma na infância também pode levar à menor habilidade de enfrentamento, prejudicando assim a capacidade de reagir de maneira eficaz aos embates do cotidiano. O estresse diário na infância está comprovadamente correlacionado com pior qualidade da vida conjugal, o que pode afetar a função sexual, particularmente o desejo. Ser criança, em tempos de pandemia e, especialmente, adquirir a doença, pode significar maior exposição a experiências traumáticas e respectivos efeitos prejudiciais ao desenvolvimento. Conviver com adultos desesperançados, desempregados e/ou expostos ao vírus também pode impactar negativa e cronicamente.

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Como a expectativa de vida vem crescendo, são esperados mais quadros depressivos e mais déficits cognitivos decorrentes do envelhecimento. Por outro lado, pesquisas recentes revelam que a atividade sexual satisfatória favorece o incremento neuronal (neurogênese) e reduz a ansiedade, ao contrário do estresse e da depressão que levam à deterioração das células cerebrais.

Antes da eclosão da pandemia, estávamos mergulhados na “modernidade líquida”, caracterizada por descompromisso nos relacionamentos, provisoriedade e individualidade. Os vínculos eram voláteis, privilegiando a liberdade individual, proporcional ao poder de consumo de cada um. Eram frequentes as dissoluções de laços afetivos e sociais, não havendo pacto com a permanência e a durabilidade. No entanto, essa suposta liberdade desencadeava a sensação de desamparo e patologias mentais, como depressão e ansiedade, decorrentes de solidão e isolamento.

Contrapondo-se à realidade predominante num passado recente, a Organização Mundial de Saúde recomenda para os solteiros, em tempos de Covid-19: masturbação (lavar as mãos com água e sabão, antes e depois) e sexo “virtual”. E para todos: sexo protegido (máscaras, preservativos, evitar contato facial, com a região anal e com as secreções em geral), lavar mãos e brinquedos sexuais com água e sabão, por pelo menos 20 segundos, antes de utilizar, higienizar com álcool gel a 70% dispositivos com telas sensíveis ao toque, como telefones, tablets e notebooks. A resposta da população brasileira tem sido, segundo a VEJA (3 de julho): aumento de 150% de homens cadastrados em aplicativos de relacionamento, queda de 70% no movimento dos motéis de São Paulo e Rio de Janeiro, redução de 20% na venda de preservativos em todo o país.

Este choque de ideias e de tendências (as que vinham se consolidando e as que se impuseram, repentinamente), me fizeram lembrar de um aspecto fascinante que caracteriza o movimento das águas na região da Amazônia: a POROROCA, fenômeno natural produzido pelo encontro das correntes fluviais com as águas oceânicas. Pororoca deriva do tupi poro’roka, gerúndio do verbo poro’rog, «estrondar». Bora segurar essa onda!

(./.)

 

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