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Fuja da fake news: vacina para Covid-19 não afeta nosso material genético

Duas das vacinas em estágio mais avançado de pesquisa, a da Pfizer e da Moderna, têm sido alvo desse tipo de boato completamente infundado

Por Salmo Raskin
Atualizado em 7 dez 2020, 12h56 - Publicado em 7 dez 2020, 12h48

Nos próximos dias vários países começarão a receber as primeiras vacinas para Covid-19. É a única esperança do planeta conter esta pandemia que já matou 1,5 milhões de pessoas.

Num verdadeiro milagre tecnológico, antes de completar um ano da identificação da sequência genética no novo coronavírus, as duas primeiras vacinas, de RNAm, completaram todas as etapas tradicionais de investigação, e em Fase 3 demonstraram ser seguras e com eficiência superior a 90%. Detalhes sobre as vacinas genéticas podem ser lidos em matéria anterior neste blog. Por mais incrível que possa parecer, algumas pessoas, ao invés de bater palmas para a ciência, divulgam informações anti-vacinas. Uma delas é que as vacinas alteram o material genético. Não há absolutamente nenhuma evidência neste sentido.

Vacinas de RNAm

Duas das vacinas em estágio mais avançado de pesquisa, a da Pfizer e da Moderna, são vacinas de RNAm. Porque, justamente ao contrário de fake news, elas não modificam o material genético? Porque este tipo de vacina sequer atinge o núcleo da célula! Serão metabolizadas pelo nosso organismo FORA do núcleo da célula, mais especificamente no citoplasma, aonde estão organelas chamadas ribossomos. O RNAm se gruda aos ribossomos e a maquinaria natural da célula irá produzir a proteína Spike, e somente esta proteína, entre as mais de 25 necessárias para compor o coronavírus, portanto, é impossível que o vírus seja formado em nosso organismo pela introdução destas vacinas.

Nosso organismo reconhece a proteína Spike como estranha e produz anticorpos contra ela. O RNAm introduzido pela vacina entrega sua mensagem e é rapidamente degradado minutos ou horas após entrar no nosso corpo, não se tornam parte permanente de nosso corpo. A mensagem produz a proteína SPIKE e nosso corpo reage produzindo anticorpos. Pronto, estaremos protegidos da Covid-19, pelo menos temporariamente. Repito; o RNAm sequer ultrapassa a membrana do núcleo da célula, e mesmo que ultrapassasse e entrasse no núcleo não alteraria nosso material genético!!!

Apesar de vacinas de RNA serem novas, elas já foram aplicadas em ambiente de pesquisa desde o início de 2009, na tentativa de prevenir a infecção pelo HIV. Só levando em conta as pesquisas da Pfizer e Moderna para Covid-19, mais de 40 mil voluntários já participaram das etapas de pesquisa, e tudo indica que são muito seguras. Dados preliminares sugerem que tem potencial de proteger contra a Covid-19 em mais de 95% dos vacinados, talvez um pouco menos no mundo real fora do ambiente controlado das pesquisas científicas. Justamente ao contrário das fake news, a grande vantagem das vacinas de RNAm é que não se integram ao genoma humano e, portanto, não alteram nosso material genético!

Vacinas vetorizadas

Várias vacinas para Covid-19 que se utilizam de um vetor para carregar material genético para dentro de nossas células estão finalizando a fase 3 de pesquisa, entre elas as vacinas Sputnik V (Russa), Jansen/Johnson&Johnson, Oxford/AstraZeneca e Novavax (esta última proteína). Elas utilizam a tecnologia chamada de DNA Recombinante, pois misturam material genético de um determinado vírus (por exemplo adenovírus) com material genético de outro organismo (por exemplo um pedaço de DNA do coronavirus). Através de “engenharia genética” é então construído um Vetor. O Vetor é o veículo que carrega um pedaço de DNA ou a própria proteína Spike para dentro da célula. Na construção deste Vetor retira-se as sequências de material genético do adenovírus que permitiriam a ele se dividir dentro das células humanas e coloca-se no lugar um pedaço de DNA que codifica para a proteína Spike ou a própria proteína Spike, com o intuito de que este pedaço de DNA produza a proteína Spike dentro do nosso corpo, no núcleo da célula, ou já produza os próprios anticorpos no caso do vetor já entregar a própria proteína.

A tecnologia não pode ser considerada nova, visto que há 42 anos, em agosto de 1978, uma pequena “start up” de biotecnologia norte americana chamada Genetech a utilizou de forma prática pela primeira vez, inserindo o gene humano da insulina dentro do DNA de uma bactéria, para produzir em larga escala este hormônio tão importante para os diabéticos. De lá para cá a tecnologia de DNA recombinante vem sendo utilizada de forma ampla na Medicina, por exemplo, na formulação de medicamentos para tratar desde hemofilia, certas formas de deficiência visual até Atrofia Muscular Espinhal. Mais do que isto, já há vacina autorizada pelo FDA (órgão regulador norte-americano) e EMA (órgão regulador Europeu) com esta tecnologia, a vacina para o vírus Ebola, desenvolvidas pela Johnson & Johnson/Janssen. Esse regime de vacina utiliza a tecnologia AdVac®, que também está sendo usada para desenvolver a vacina para prevenção da Covid-19.

O regime preventivo da vacina contra o Ebola utiliza uma estratégia de vetor viral não replicante, na qual os vírus (serotipo de adenovírus 26) e o Vaccinia modificado Ancara (MVA) são geneticamente modificados para não se replicarem em células humanas. Mais de cem mil voluntários já participaram das etapas de pesquisa deste tipo de vacina vetorizada para Covid-19, e tudo indica que são muito seguras. Não há qualquer evidência de que tenham alterado o material genético dos milhares de vacinados.

Vacinas de vírus inativado

Estratégia antiga e já tradicional de desenvolvimento de vacinas, aonde antes de ser injetado em nosso organismo sob forma de vacina o vírus é morto por agentes físicos e químicos. Diversas vacinas historicamente foram inoculadas através desta tecnologia em milhões de pessoas, e não se sabe de nenhum caso em que o material genético sofreu alteração. É a estratégia da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Wuhan Institute of Biological Products pela empresa SinoVac, que no Brasil tem parceria com o Instituto Butantã. Dezenas de milhares de voluntários já participaram das etapas de pesquisa deste tipo de vacina para Covid-19, incluindo milhares de brasileiros, além de milhares de pessoas que já foram vacinadas na China, e tudo indica que são muito seguras. Se protegem contra a Covid-19 só saberemos depois da publicação dos resultados detalhados em revistas científicas, o que deve ocorrer em breve. Mas não alteram o material genético do vacinado.

Vacinas de DNA

Estratégia que consiste na inserção de um fragmento de DNA que codifica para a proteína SPIKE. Este tipo de vacina, assim como as vetorizadas, deve atingir o núcleo da célula. Este fragmento de DNA é entregue ao núcleo da célula dentro de uma estrutura chamada Plasmídeo, que é uma molécula de DNA circular, pequena, EXTRACROMOSSÔMICA (fora do DNA humano), e que, portanto, também não se integra ao DNA genômico humano. Vacinas de DNA já existem desde 1990, quando um DNA codificando para uma proteína do vírus da Influenza A encapsulado em plasmídeo permitiu a proteção de forma segura. Desde então, vacinas de DNA já foram utilizadas para tratar uma variedade de doenças, incluindo alergias, doenças autoimunes e câncer. No que se refere a doenças infecciosa, Plasmídeos já foram amplamente testados em pesquisas de vacinas para MERS, Ebola, e Zika vírus.

A teórica possibilidade de integração do plasmídeo no DNA humano é rigorosamente testada em estudos pré-clínicos em animais. Importante! Entre as 13 vacinas que se encontram em fase 3 de pesquisa para Covid-19, não há NENHUMA vacina de DNA, portanto não faz o mínimo sentido dizer que as vacinas que estão chegando alterarão o material genético humano, dando a entender que as vacinas que estão chegando são de DNA. Se estas vacinas de DNA para Covid-19 são seguras de modo geral e se protegem contra a Covid-19 só saberemos depois da publicação dos resultados detalhados em revistas científicas, de suas Fases 3, o que neste caso NÃO deve ocorrer em breve, e sim demorar, visto que sequer entraram em Fase 3 de pesquisa.

Finalmente, importante ressaltar que uma vacina ser segura não quer dizer que ela não possa causar efeitos adversos leves horas após a aplicação, como dor no local da injeção, febre, cansaço. Estes efeitos mostram justamente que nosso organismo reconheceu a invasão e está começando a se defender. É exatamente o que queremos! Poucas horas depois estes efeitos passam, e você começa a sentir um outro tipo de efeito; a sensação de que tua vida vai voltar a ser muito parecida com o que era até um ano atrás!!

Bem, eu acabo de fazer a minha parte. Agora você tem que fazer a tua, divulgando esta matéria. Vamos viralizar (oops!!) TRUE NEWS!!!!!!!!!!Arte Salmo Raskin

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