Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Letra de Médico Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil
Continua após publicidade

É preciso aceitar que a obesidade é uma questão de saúde pública

o Congresso Europeu de Obesidade (ECO) começa hoje em Viena, na Áustria, e pretende discutir problemas e soluções relacionados à doença

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 23 Maio 2018, 21h10 - Publicado em 23 Maio 2018, 12h34

Há dois dias estou em Viena, na Áustria, aguardando o Congresso Europeu de Obesidade (ECO: European Congress on Obesity), que se inicia hoje. Me debrucei por algumas horas nos estudos apresentados no último encontro realizado na cidade do Porto, em 2017. 

Em meu entendimento a comunidade europeia debuta na aceitação da obesidade como grave problema de saúde pública, mantendo alguma dificuldade em aceitar o inconteste fato que a doença apresenta causas multifatoriais, é de difícil tratamento e mudanças comportamentais podem potencialmente evitar seu início ou estacionar sua evolução, mas, de regra, não oferecem magreza sustentável. 

Contudo, nesses eventos existe uma maravilhosa amostra viciada de cientistas e médicos pesquisadores de todas as nacionalidades que veem o mundo como ele é, enxergando todas as fronteiras com linhas divisórias tênues, incapazes não só de evitar a imigração ilegal, assim como, inapto para impedir o viés da força bruta do interesse econômico bem acima do bom senso. 

Gosto do observatório científico europeu acerca dessa doença, às vezes concluindo o óbvio, que nem sempre é fácil; em outras buscando possíveis causas, também definindo suscetibilidades e em algumas oportunidades sugerindo condutas. 

“Obeso, mas em forma”, ou ainda, “Gordo, mas saudável”?

Pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, apresentaram no ECO 2017 um estudo que demonstra exatamente o contrário da afirmação do subtítulo acima. Estas afirmações rondam, há muito tempo, consultórios médicos, de nutricionistas, academias e afins. Tais deduções partem do pressuposto de que a obesidade não aumenta o risco de morte prematura quando desacompanhada de hipertensão, alterações no metabolismo da glicose ou elevações nos níveis de gordura no sangue. 

A pesquisa deduz que obesos (IMC>30), ainda que sem comorbidades, apresentam um risco muito maior de desenvolver doenças cardíacas (doença coronariana e insuficiência cardíaca), cérebro-vasculares (acidente vascular isquêmico ou hemorrágico) e insuficiência vascular periférica, quando comparados com pacientes de IMC <30.

Continua após a publicidade

O grupo britânico analisou os registros médicos de 3,5 milhões de obesos “saudáveis” entre 1995 e 2015, concluindo que estes apresentaram 50% maior probabilidade de desenvolver doença coronariana, e entre 7% e 11% para desenvolver doença cérebro vascular e doença vascular periférica. Quase óbvio, mas, sujeito a questionamentos, penso que ratifique o conceito que esta patologia tenha que ser obrigatoriamente tratada.

Anticoncepcionais e ganho ponderal

Os anticoncepcionais orais, transdérmicos e versões injetáveis são continuamente vistos como mal feitores em favor do ganho de peso, com um estudo recente demonstrando que tal suspeita é a principal causa de abandono do método pelas pacientes. 

A rejeição parte da decisão voluntária de mulheres resolutas no entendimento do uso do contraceptivo como fator engordativo. Enxergo justificativas: a estimulação estrogênica pode promover retenção hídrica, assim como, um aumento na gordura subcutânea, particularmente no peito, quadris e coxas; por outra via os progestágenos podem induzir aumento do apetite devido a suas propriedades anabolizantes. Porém, revisões recentes não conseguem estabelecer essa relação nada interessante entre uso de anticoncepcionais e sobrepeso/obesidade. Enquanto lidamos com a dúvida sustentamos debates.

Outro estudo apresentado no ECO 2017, executado no Departamento de Medicina da Universidade de Friburgo, na Suíça, demonstrou interessante resultado envolvendo o tema. A pesquisa comparou mulheres em uso de anticoncepcionais, com outras que não os utilizavam, observando o efeito térmico (ET) – energia despendida na digestão e absorção de determinado alimento -, causado por uma dieta com alto percentual de proteínas (24% do valor calórico total) para cada um dos grupos. 

Continua após a publicidade

O estudo concluiu que mulheres em uso de contraceptivos dessa natureza tiveram a abolição do ET da dieta hiperproteica, situação não encontrada nas pares do outro grupo. Uma possível causa em um universo suscetível. 

Do meu belvedere brasileiro

Me encontro cético e otimista, que o leitor me permita o paradoxo da assertiva, mas, em tempos de volumosa carga de informações on line, muito do que verei já nutro questionamentos. Igualmente, com imensa expectativa de ser convencido por argumentos que só ambientes de absoluto consenso acadêmico são capazes de entregar.
 
 

 

Quem faz Letra de Médico

Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.