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Dietas e suplementos não melhoram a saúde cardiovascular

Abrangente revisão de estudos científicos envolvendo 992.000 pessoas conclui que a maioria das dietas e suplementos não beneficiam o coração

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 15 jul 2019, 15h50 - Publicado em 15 jul 2019, 15h23

Escrevi há alguns meses em Veja: “Afora a correta eliminação de carboidratos refinados, gorduras sem qualidade e alimentos processados (com todos os seus aditivos) das dietas, o que temos visto são elucubrações sugerindo o emagrecimento por rearranjos alimentares”.

Ao tempo que reafirmo a assertiva acima, anoto que recebi companhia em minha impermeabilidade aos fabulosos e fatigantes novos e velhos conceitos nutricionais que abolem ou agregam alimentos intencionando solucionar algumas patologias.

No The New York Times de 08 de julho me deparei com reportagem que aborda um trabalho publicado na revista Annals of Internal Medicine deste mês, o qual revisou os dados de centenas de testes clínicos abrangendo quase um milhão de pessoas e concluiu que apenas uma das oito dietas e dois de 16 suplementos avaliados tiveram algum efeito perceptível (protetor) nos desfechos cardiovasculares.

Ainda que de impacto estatístico pouco significativo a utilização de ácido fólico como suplemento trouxe proteção quanto a ocorrência de Acidente Vascular Cerebral (AVC), enquanto comparável relevância foi encontrada para o uso suplementar de ácidos graxos ômega-3 (óleo de peixe) no contexto coronariano. Pior, esta revisão encontra dados condizentes com aumento na incidência de AVC com a suplementação sumária de vitamina D e cálcio.

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 De outro lado, as dietas com baixo teor de sal reduziram a mortalidade por todas as causas em pessoas normotensas, enquanto curiosamente naquelas com hipertensão este cuidado diminuiu apenas as mortes por doenças cardiovasculares.

O estudo

Liderado pelo Dr. Safi U. Khan da West Virginia University, nos Estados Unidos, o estudo anota minuciosa avaliação em rigorosas pesquisas utilizando dietas com baixo teor de gordura pretendendo diminuir os níveis de colesterol e com isso minorar a incidência das doenças coronarianas (recomendação universalmente entregue pelas autoridades de saúde há muitas décadas). Surpreendentemente, no rigor interpretativo dos cientistas deste trabalho, não foram encontradas evidências que a menor ingestão de gorduras, incluindo as saturadas, tenha trazido impacto na mortalidade ou morbidade cardiovascular.

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A dieta mediterrânica é o único conceito alimentar estatisticamente relacionado à maior longevidade e está debruçado sob a óbvia utilização de alimentos sem processamento e por aqui reinam gorduras poli-insaturadas, grãos sem refino, verduras, legumes, frutas secas, castanhas e peixes (e carnes magras). Contudo, mesmo sob a sombra do prestígio estatístico restou a dedução de entendê-la como neutra e não protetora.

Considerações

Eu não tenho dúvidas que a citada publicação criará muitos fóruns de discussão em inúmeras searas e sempre será assim quando envolver universo tão amplo com tantos paradigmas e dogmas. O motivo é simples: oferecemos fabulosas concepções para que resolvam aquilo que não são capazes. Um exemplo claro é estimular a prática de exercícios para o emagrecimento, quando neste quesito deveríamos apontar que o sedentarismo faz com que ganhemos peso e o exercício “contínuo” diminui o risco de engordar. São observações muito diferentes.

Sob outra ótica, foi deduzido que o consumo de gorduras saturadas se relaciona às doenças cardiovasculares com base em estudos estatísticos que foram incapazes de subtrair o consumo amplo e abusivo das insalubres gorduras trans. Estes óleos vegetais hidrogenados ganharam a América e o mundo a partir de 1911 em verdadeira catequização midiática estimulante à substituição das gorduras saturadas animais, entre estas a manteiga, queijos e as gorduras suínas, por essa alternativa falsamente saudável da gordura vegetal semi-solidificada em galpões industriais.

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Em apenas dois itens vê-se equívocos claros que por um lado deixa de orientar a prática de exercícios moderados – a prática de exercícios exaustivos alegam risco vascular emparelhado ao sedentarismo – para as extraordinárias proteções cardiovasculares (e por aqui o coração agradece muito), osteomuscular, imunológica, metabólica e cognitiva, tão esclarecidas em seus caminhos físico-químicos; e por outro, dando margem à utilização de substitutivos industrializados em lugar de gorduras naturais.

Que não reste o entendimento do estímulo ao consumo de artigos gordurosos ricos em conservantes maléficos tais quais os embutidos, nem tampouco haja clareamento de horizontes para carnes de pecuária e avicultura intensivas com suas questionáveis rações e antibióticos.

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E por outro prisma, não menos grave, é extremamente importante que não nos quedemos às correntes conspirativas que afrontam a utilização de fármacos para baixar os níveis de colesterol na proteção da doença arteriosclerótica. Afora os eventuais deslizes na determinação das causas, existe forte relação entre a utilização de estatinas no decréscimo dos níveis de colesterol e aumento na proteção quanto aos eventos coronarianos. Se o meio utilizado pelo fármaco neste benefício não está relacionado com a redução dos níveis de gorduras sanguíneas e se encontra em outro predicado da droga teremos que aguardar para saber. 

“Viver é perigoso demais” assim escreveu o incrível Guimarães Rosa. Já para o fascinante Johann Goethe, “na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira”. Cá com meus livros entendo que os senões e cuidados ligados a suposições não devam enclausurar desejos. Acho então que nosso escritor e diplomata –  talvez por ter sido médico – encerre melhor essa coluna em sua frase “Viver é um descuido prosseguido” ou, melhor ainda: Viver é etecetera. 

 

 

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