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Covid-19 X obesidade: usar um guarda-chuva não esconde o temporal

Temos cada vez mais novos dados que comprovam que a obesidade isoladamente é um fator de risco para as formas graves e mortalidade por coronavírus

Por Ricardo Cohen
Atualizado em 5 jun 2020, 16h00 - Publicado em 5 jun 2020, 13h09

Estamos vivendo uma situação de exceção e inédita. Temos uma doença infecciosa, viral, de grande transmissibilidade e ainda sem tratamento eficaz e comprovado, e sem vacinas. Nesta crise de saúde, precisamos mais do que nunca tomar decisões para o “agora” e prepararmo-nos para as eventuais próximas pandemias. Temos cada vez mais novos dados que comprovam que a obesidade isoladamente é um fator de risco para as formas graves e mortalidade por Covid-19.

Mais um estudo foi publicado há poucos dias, em 16.749 pacientes no Reino Unido, que novamente apontou a obesidade como fator preditor de morte pelo novo coronavírus. Mais um reforço para a necessidade de combater a obesidade e suas doenças associadas, como o diabetes e hipertensão. Isso não é novidade. Durante a pandemia do H1N1, a obesidade também foi diretamente relacionada com mortalidade. Porém, observa-se que, há décadas, quase nenhuma estratégia é desenhada para combater essa doença grave e letal. A menção da obesidade é simplesmente registrada.

Quais as razões para o absoluto descontrole da pandemia obesidade? Essa enfermidade crônica e progressiva ainda é considerada por muitos, seja o público em geral e (inacreditavelmente) profissionais de saúde, como fruto de escolhas erradas. É uma doença que tem diversas causas fisiológicas e genéticas. O portador de obesidade não é culpado(a), assim como a pessoa com algum câncer também não é. Portanto, como toda doença crônica e progressiva, ela e suas associações merecem ser reconhecidas e tratadas. Vivemos numa era em que muitos julgam as pessoas pelo seu peso. Negar a seriedade e estigmatizar as pessoas portadoras de obesidade é dificultar ainda mais o acesso ao melhor tratamento.

Está ficando cada vez mais difícil negar que a obesidade é um fator de risco para maus resultados com a Covid-19. Mesmo que autoridades de saúde incansavelmente alertem sobre os riscos da obesidade para aumento de mortalidade e outros problemas incapacitantes, existem os que defendem que “deve-se aceitar os indivíduos como são”, independente dos riscos. No entanto, não se pode ignorar que a obesidade, na maioria das vezes, vem acompanhada de doenças associadas (diabetes e hipertensão arterial, por exemplo), que aumentam os riscos de o indivíduo ter problema cardiovascular e AVC. Uma pessoa com esse quadro clínico, acometida pela Covid-19, não pode ignorar as doenças pré-existentes no tratamento do vírus.

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Recentemente, um artigo no site norte-americano Health.com (https://www.health.com/condition/infectious-diseases/coronavirus/obesity-covid-19) publicou que ativistas temem o aviso de risco do Center of Disease Control (EUA), e afirmam que a obesidade grave coloca uma pessoa em risco por maus resultados. Na profusão de informações médicas sobre o novo coronavírus, algumas com fundamento e outras não, é basicamente unânime que pessoas com obesidade estão recebendo tratamento mais intensivo – e não menos, quando infectadas. A maior e mais importante questão é que o preconceito contra os portadores de obesidade deve desaparecer, para que o cuidado dedicado a essas pessoas seja o melhor possível, por meio de tratamentos clínicos ou cirúrgicos.

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Encorajar os portadores dessas condições a buscarem tratamento adequado é fundamental para combater a epidemia da obesidade. Porém, sabemos que as modificações do estilo de vida não são, isoladamente, formas eficazes de tratamento, mas sim adjuvantes. Existem algumas drogas disponíveis que podem ajudar na perda de peso e melhora do diabetes e outras comorbidades. São remédios relativamente novos e ainda sem resultados a longo prazo. Quando o tratamento clínico falha, a cirurgia bariátrica deve ser prontamente considerada. E não como a “última esperança”, mas sim um tratamento seguro e eficaz a longo prazo na maioria dos pacientes.

Neste momento, devemos traçar estratégias de como tratar aqueles que mais necessitam, numa época de restrição de recursos de saúde. Há alguns dias, foi publicado na revista Lancet Diabetes&Endocinology, uma sugestão de priorização de cirurgia bariátrica para aqueles onde o tempo de espera prolongado pode agravar o descontrole das doenças associadas e aumentar a mortalidade.

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O Conselho Federal de Medicina foi além. Como existem incontáveis publicações de alto nível de evidência que mostram bons resultados, considerou que naquelas regiões onde os Conselhos de Medicina, governos locais e Hospitais flexibilizem as cirurgias eletivas, as operações bariátricas podem e devem ser agendadas. Claro que com todas as medidas de cuidado para a proteção do paciente e da equipe assistencial. E ainda acrescentou uma estratégia baseada na publicação citada acima, onde naquelas regiões onde ainda há preocupação com a Covid-19, os portadores de obesidade e diabetes grave sejam priorizados, desde que os recursos de saúde assim o permitam. Isso é um bom começo. Precisamos de seriedade e dedicação para tratar a obesidade e suas consequências.

Infelizmente, outras pandemias virais virão, por isso precisamos compreender as lições que a Covid-19 deixa. O secretário substituto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde afirmou que do total de mortes por coronavírus no Brasil, 65% das pessoas tinham um fator de risco como a obesidade. Se forem usados recursos para tratar adequadamente essa pandemia dessas enfermidades crônicas que nos persegue há décadas, seguramente nas próximas não haverá sobrecarga de serviços de saúde, incluindo UTIs.

(./.)

 

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