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Comportamento evita obesidade (ou sua piora), mas não é tratamento

Pesquisa aponta que 56 em cada 100 brasileiros adultos estão com excesso de peso, enquanto um em cada cinco estão obesos

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 12 set 2019, 16h43 - Publicado em 12 set 2019, 13h43

Dados divulgados há algumas semanas pelo Ministério da Saúde contemplando o intervalo entre os anos de 2006 e 2018 apontaram aumento de 30,8% (42,6% para 55,7%) na prevalência de adultos com excesso de peso e de 68% (11,8 % para 19,8%) daqueles com obesidade. Em números mais objetivos as informações colhidas pelo Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico) apontam que 56 em cada 100 brasileiros adultos estão com excesso de peso, enquanto um em cada cinco estão categorizados como obesos.

O fato de ter havido uma estabilização nas prevalências de sobrepeso e obesidade em 2015 e 2016 fez com que fosse alardeada uma relação causa-efeito que seria resultante de mudanças de comportamento observadas desde o início do estudo em 2006. Tais alterações comportamentais se perpetuam e vão se ampliando continuamente, merecendo destaque os aumentos de 15,5% no consumo de frutas e hortaliças e 25% na prática de exercícios, enquanto o consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas declinou em 53,4%.

O que parece não estar sendo apreciado é o fato de que as boas atitudes evitam o ganho de peso, mas não o tratam, o processo não é revertido, para isso necessitamos de outras ferramentas.

O moto-contínuo da obesidade

Se para a evolução de nossa espécie nos fez bem a capacidade de guardarmos energia em depósitos de gorduras em nossos corpos, atualmente o seu excesso patrocina o abreviamento de nossas existências, com comprometimento do bem-estar. É imperativo que procuremos desvendar e combater as causas ambientais, comportamentais e eventualmente infecciosas para o ganho exagerado de peso perante inúmeras suscetibilidades genéticas, enquanto o entendimento do moto-contínuo ao qual se submete o organismo em sua trajetória para obesidade torna claro a necessidade de intervenções. 

À medida que aumentam os depósitos gordurosos existe acréscimo da gordura visceral, aquela dentro do abdômen, entre as vísceras e dentro delas (exemplo: esteatose hepática), extremamente mobilizável e de metabolismo dinâmico, sendo constantemente formada e decomposta, envolvendo um cenário de substâncias nocivas.

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Esse reservatório energético é composto de triglicerídeos os quais são formados por três ácidos graxos ligados a um glicerol e uma vez solicitados esses componentes ganham a circulação desagregados entre si, porém, alguns desses elementos em concentrações limítrofes causam inúmeros transtornos, entre os quais dificultar a ação periférica à insulina, ou seja, interferindo na entrega da glicose às células.

A inoperância da insulina faz com que os níveis de glicose se elevem e com isso o pâncreas aumenta a produção desse hormônio para restabelecer a glicemia, então, ao tempo que a maior concentração de insulina controla os níveis glicêmicos, o seu poder anabolizante exacerba a gordura visceral e com isso ocorre acréscimo do universo de ácidos graxos circulantes (entre outras substâncias), sendo gerado mais impedimento à ação insulínica e o ciclo então se perpetua.

Resultantes do ganho ponderal

Nesse contexto metabólico são geradas muitas substâncias, algumas participando no processo de arteriosclerose e seus consequentes comprometimentos em artérias coronarianas, cerebrais e nos demais órgãos, outras atuando no aumento da resistência vascular com resultante elevação pressórica, existindo aquelas que colaboram para a exaustão da capacidade produtora de insulina e evolução subsequente para o Diabetes, enquanto várias irão se relacionar com o desenvolvimento de enorme quantidade de doenças inflamatórias e tumorais.

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As propostas

Parece claro que o custo desse processo vai além de cuidar das consequências mais imediatas do ganho ponderal, tais quais dores articulares, desconfortos gástricos, distúrbios do sono e psíquicos. 

Governos por todo o mundo passam a aceitar uma modulação econômica que perde arrecadações da indústria de alimentos processados e bebidas não alcoólicas no intuito de diminuir uma consagrada causa de ganho ponderal, e então ganhar fôlego com a redução dos gastos relacionados ao excesso de peso e suas consequências, buscando uma réplica do que se sucedeu quanto ao tabagismo.

Inúmeros programas governamentais estimulam a prática rotineira de exercícios associado a perfis alimentares que contemplam hortaliças, legumes, grãos integrais, carnes magras, gorduras insaturadas e diminutas quantidades de açúcar e sal. É nessa esteira que empreendedores por todo o mundo apostam academias esportivas e em mercados até então bastante alternativos, tais quais o de alimentos orgânicos, vegetarianos e mais recentemente vegano. Um ganho, bem além do modismo que prospecta melhores tempos, porém, distantes.

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Expectativas 

Esta atmosfera salutar e politicamente correta entrega óbvios e mensuráveis benefícios àqueles organismos recém-chegados dos úteros maternos e lhes protegem de boa parte dos corruptores dos centros controladores da fome e saciedade, as substâncias que modificam estes locais gerenciadores no cérebro e fazem com que comamos mais do que necessitamos. O impedimento do sedentarismo infantil com o estímulo aos exercícios e limitação do tempo de entretenimento em frente a telas fornece condições orgânicas de equilíbrio nos centros cerebrais de recompensa, dificultando ciclos compulsivos alimentares futuros. 

Organismos em qualquer faixa etária sem excesso de depósito gorduroso serão proporcionalmente protegidos, naquilo que não lhe foi alterado, enquanto aqueles com comprometimento estabelecido, com sobrepeso ou obesidade, terão maiores chances de conter o aumento ponderal.

Digo com isso que todas estas ações devam ser exaustivamente utilizadas por todo o planeta para quem sabe em duas ou três gerações sejamos agraciados com prevalências menores de sobrepeso e obesidade, mas estaremos apenas estancando, se conseguirmos, os reais problemas de 56% dos adultos brasileiros e em percentuais aproximados na maior parte do mundo.

Conclusões

Estou absolutamente convicto que essa multidão de portadores de excesso de peso deve ser contemplada com ações governamentais irrestritas que não prescindem das campanhas citadas, mas obrigam enfático envolvimento terapêutico o qual tange a vanguarda do tratamento farmacológico e eventualmente cirúrgico.

É fato que teremos que absorver casos intratáveis, seja por determinação pessoal ou outros impedimentos, mas em todo o restante haverá inquestionáveis ganhos clínicos e redução de custos já a médio prazo, especialmente pelas drásticas reduções na ocorrência de novos casos de Diabetes tipo 2, assim como melhor controle dos já existentes, prevenção e tratamento mais confortável de hipertensão, impactante decréscimo de eventos coronarianos e vasculares cerebrais e encolhimento brutal na necessidade de próteses ortopédicas. 

Se os tratamentos de vanguarda para a obesidade possuem preços proibitivos em uma observação ligeira, seguramente são muito mais baratos que suas consequências. Responsabilizar o obeso pela sua condição é condená-lo por ter vivido como lhe fora mostrado ser correto e entregar o tratamento à sua determinação pessoal é desonesto por ser sabidamente impossível. 

O obeso não tem culpa, tem desejos gerados por substâncias as quais não possui gerenciamento, o restante é meramente culpabilização da vítima.

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