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Câncer de próstata, rim e bexiga: os novos remédios

Juntos, esses tumores representam mais de 13% de todos os diagnósticos da doença no Brasil -- mas há avanços extraordinários

Por Fernando Maluf
Atualizado em 3 mar 2021, 12h16 - Publicado em 3 mar 2021, 12h14

A Sociedade Americana de Oncologia Clínica realizou há poucos dias o Genitourinary (GU) Cancers Symposium 2021, evento focado principalmente nos tumores de próstata, bexiga e rim. Juntos, esses tipos de câncer representam mais de 13% de todos os diagnósticos de neoplasias no Brasil.

Só para o câncer de próstata, o mais incidente entre os homens brasileiros (quase 30% dos registros), o Instituto Nacional de Câncer projeta 66 mil novos casos em 2021. Conhecer e discutir novas propostas de tratamentos para estas doenças é fundamental para melhorar prognósticos e a qualidade de vida dos pacientes.

A proposta principal do simpósio ASCO GU 2021, realizado de modo virtual neste ano, foi trazer o cuidado centrado no paciente, com diversas apresentações de caráter multidisciplinar e palestrantes de todo mundo compartilhando informações e experiências sobre práticas que mudaram a pesquisa clínica, neste cenário desafiador para a Ciência.

Mais uma vez, os pesquisadores mostraram os avanços em estudos de novas drogas mais inteligentes para o combate e controle do câncer, o sucesso na combinação de terapias em diversos casos e o progresso nas análises dos perfis genéticos de pacientes e do próprio tumor para tratamentos mais eficientes.

Destaco a atualização de um estudo com 200 homens com câncer de próstata hormônio-resistente e que já haviam falhado em vários tratamentos. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um que recebeu uma quimioterapia de nova geração chamada cabazitaxel e foi medicado com uma nova droga, um radiofármaco chamado Lutécio PSMA.

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Este medicamento atua diretamente no PSMA, proteína de membrana específica da célula tumoral prostática, que se liga ao lutécio, uma droga radioativa. A radiação, quando injetada no corpo do paciente num intervalo médio de quarto a seis semanas, penetra especificamente no tumor introduzindo uma dose letal de radioterapia. O estudo mostrou que essa droga teve melhores resultados que a quimioterapia para estes pacientes, diminuindo o risco de progressão da doença ou morte em 37%, na comparação entre os dois tratamentos. Além disso, vemos que a taxa de resposta foi duas vezes maior, além melhor da tolerabilidade, qualidade de vida superior e uma diminuição da dor dos pacientes.

O medicamento já está aprovado para uso no Brasil, ainda não é coberto pelos planos de saúde, mas é uma opção relevante para pacientes com câncer de próstata resistente à castração que são refratários a múltiplos tratamentos.

Em tumores de bexiga, um dos trabalhos apresentados colocou grandes expectativas sobre o imunoterápico pembrolizumabe, que tem função de estimular o sistema imune, promovendo uma melhor eficácia do linfócito contra o tumor. Essa droga foi estudada em pacientes com câncer de bexiga superficial, mas recorrente, que haviam falhado o tratamento com BCG, que é o primeiro tratamento utilizado contra a doença. Neste estudo com 96 pacientes, a taxa de resposta completa foi de 40%, o que é muito elevado para este tipo de situação.

Outra pesquisa evidenciou o uso dos medicamentos chamados “anticorpo droga-conjugado”. Essa classe de remédios possui um anticorpo que se liga ao um receptor que é predominantemente expresso nas células do câncer, liberando uma substância incrivelmente tóxica dentro do tumor e não na corrente sanguínea. É o mecanismo que chamamos de “cavalo de troia”.

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Essa medicação, chamada enfortumab vedotin e se liga à nectina 4, que é uma proteína expressa no câncer de bexiga, e libera dentro do tumor uma substância chamada auristatina, um agente antineoplásico sintético. Esse estudo envolveu 608 pacientes com doença já metastática, que já haviam passado por quimioterapia e imunoterapia. O que o estudo mostrou é que o enfortumab vedotin, comparado com quimioterápico, reduziu o risco de morte em 30% e o risco de progressão ou morte em 39%, evidenciando que esta nova deve ser a terapia de escolha em quem já falou em dois tratamentos prévios.

Em tumores de rim, o estudo de fase II SWOG 1500 avaliou a eficácia do cabozantinibe (um novo antiangiogênico, que inibe os fatores de crescimento vascular além de outras vias importantes para o crescimento do tumor), crizotinibe (medicamento usado para câncer de pulmão) ou savolitinibe (específico para este tumor de rim) versus sunitinibe (outra droga anti-angiogênica) no tratamento do carcinoma renal papilífero metastático. Este é o segundo tipo mais incidente de câncer de rim, correspondendo a cerca de 15% dos casos diagnosticados, mas é uma doença extremamente agressiva, que não conta ainda com um “padrão ouro” de tratamento.

A pesquisa avaliou 152 pacientes, que poderiam ter recebido ou não tratamento sistema prévio. Os autores concluíram que apenas o cabozantinibe apresentou um aumento significativo de sobrevida livre de progressão da doença além de uma taxa de resposta seis vezes maior que a droga considerada no passado a padrão. Estes dados mostram que o uso de deste medicamento pode ser o novo padrão de tratamento para pacientes em tumores papilares renais metastáticos.

Os resultados destes e de outros estudos apresentados abrem uma perspectiva muito boa para novas abordagens dos tumores geniturinários, com terapias mais eficientes e com menos efeitos colaterais. A despeito destes grandes avanços, reforço a importância do esforço pela prevenção de novos casos de câncer, com o foco em hábitos mais saudáveis, do diagnóstico precoce da doença, com a realização dos exames periódicos nas populações e faixas etárias preconizadas, bem como a confiança na orientação médica para rastreamento e tratamento.

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Letra de Médico - Fernando Cotait Maluf
(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)
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