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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Por que sonho de diploma na USP resultou no suicídio de um jovem negro?

A sociedade precisa ter interesse em saber por que nossos jovens se suicidam nas universidades com frequência assustadora

Por José Vicente
10 jun 2021, 12h47

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio representa 1,4% das mortes em todo o mundo, a segunda causa entre jovens de 15 a 29 anos. Para cada evento consumado, outras vinte vítimas têm algum tipo de ideação sobre o assunto ou atentam contra a vida. O Brasil lidera o ranking dos países com maior taxa de depressão e ansiedade na América Latina, e o índice de suicídios de estudante nas universidades do Brasil – e do mundo -, além de crescente, tem alcançado dimensão de tragicidade.

Marcados por uma sociedade onde o individualismo e o consumo se impõem e afligidos pelos vários fatores individuais, familiares e sociais que impactam e fragilizam sua confiança e encorajamento, a sobrevivência dos jovens nesse ecossistema exige abrir mão de coisas importantes, mas escassas no espaço universitário de qualificação para disputa: amizade, reconhecimento, afeto, acolhimento, compreensão e empatia plena e genuína são mercadorias rarefeitas nesse ambiente. Conviver e manter-se equilibrado mental e emocionalmente nesse oceano tempestuoso, exige que o universitário seja permanentemente, antes de tudo um forte.

Os três suicídios cometidos por estudantes da USP, em apenas dois meses, são manifestações eloquentes dessa premência, e, por isso mesmo, precisam servir como sinal de alerta e agente radical de impulsionamento de novas formas, estratégias e métodos de abordagem e intervenção que produzam melhor e mais qualificada resolução. Seja estimulando e fortalecendo ações preventivas, seja, principalmente, evitando a perda das vidas.

O caso mais recente, o suicídio do estudante negro de geografia, da USP, Ricardo Lima da Silva, residente no CRUSP – conjunto residencial da USP, no dia 25 de maio, ganha contorno especial e exige uma investigação não somente minuciosa e rigorosa como particularizada, especializada e transparente da questão, na medida em que se somaram ao episódio fatídico denúncias consistentes da ocorrência de racismo e discriminação racial.

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Informações e testemunhos apontam que Ricardo teria sido vitima de “bullying racial”, isto é, agressões raciais perpetradas por alguns alunos e mesmo professores, e também racismo estrutural, visto que denunciara formalmente o caso e havia pedido ajuda à instituição, sem obter qualquer resposta. Por que ninguém além dos seguranças privados e alguns colegas alunos tentaram evitar a tragédia? Ninguém mais teria se importado com o destino da vida do jovem negro que por longo tempo e olhares impassíveis ameaçou e se lançou rumo à morte do sexto andar o prédio da CRUSP onde morava.

Restando incompreensível a inexistência tanto de plano de emergência de envergadura para essas situações, quanto de um corpo de intervenção rápida com profissionais especializados e altamente treinados para mediar, negociar, conduzir e produzir resoluções para casos dessa natureza, a morte de um jovem por suicídio não pode e não deve ser do interesse apenas da USP e demais universidades. Seus motivos, circunstancias, causas e possíveis responsáveis ativos ou passivos precisam ser perseguidos, conhecidos e tratados para impedir que se repitam. Tanto quanto a universidade, a sociedade precisa ter interesse em saber por que nossos jovens se suicidam nas universidades com frequência assustadora. E, obrigatoriamente, responder e esclarecer: por que o sonho do diploma da USP de um jovem negro resultou no pesadelo do suicídio?

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