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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Ismael Ivo, a face da paixão

Uma perda e uma dor atroz para todos que puderam conhecer e conviver com o Pelé da dança e coreografia

Por José Vicente
9 abr 2021, 20h26

Nos tempos de pandemia quando dormimos nem sempre acordamos e algumas vez quando acordamos, o desejo era de ter continuado manietados pelos desígnios do sono. Para evitar receber algumas notícias gostaríamos de não acordar nunca mais. Nessa manhã, acordamos mais tristes com a noticia da perda de mais um fantástico brasileiro para a Covid-19. Desta vez perdemos o Pelé da dança e coreografia, perdemos Ismael Ivo.

Uma perda e uma dor atroz para todos que puderam conhecer e conviver com essa figura humana particularizada. Uma perda e uma dor incomensurável para aqueles amantes da arte da dança e que sabiam reconhecer e apreciar um talento único e incansável. Uma perda injustificável para todos aqueles que irão conhecer sua história e não poderão tê-lo por perto para tocá-lo, para admirá-lo.

Sob todos os aspectos a perda de Ismael nos remete para o inconformismo sobre o senso de justiça da morte e para a nossa impotência diante dos mistérios do universo. Como pode um ser invisível e que nada sabe do belo, da arte, da dança de utopia e sublimação, prostrar diante de si o mais valentes dos leões? E, porque os bons? Porque aqueles que iluminam e avivam as almas? Porque aqueles que descortinam o universo e nos propiciam o deleite e o júbilo?

Quem pode vê-lo singrando os palcos e cortando o ar com a leveza e fabulosidade de sua impecável e única capacidade artística, nunca mais foi a mesma pessoa. Ou ficou enraivecido por conhecer suas limitações e mediocridade, ou ficou embevecido por ver e sentir a materialização do divino tão vivo e deslumbrante, bem a frente dos olhos.

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Mas, afinal, como um jovenzinho negro do fundo da zona leste de São Paulo e filho de empregada doméstica pode tornar realidade concreta uma quimera que nem os grandes alquimistas conseguiram? Como conseguira se transformar de um metal simples e retorcido em montanha de ouro puro? Pela paixão. A paixão pela dança foi sua pedra filosofal.

A mim, a resposta foi dada pelo próprio Ismael nas diferentes ocasiões em que tive a subida hora de estar ao seu lado. Eu me apaixonei pela dança tão logo pude conhecê-la nos seus traços rudimentares, primeiramente à distancia e nas telas da televisão.Naquele dias ela se transformou no meu grande sonho e na minha grande paixão. O resto foi disciplina, energia, tenacidade e compromisso, comigo e com meu sonho maravilhoso. Nem pensava em ser um dos melhores do mundo. Pensava em vivê-la intensamente, descobrir cada um dos seus segredos e ser com ela eternamente feliz. Quem com ele conviveu sempre teve a certeza que ele conseguiu. Foi feliz, foi um dos melhores do Brasil e do mundo e tatuou sua imponência, generosidade amizade em cada um que pode tocar e alcançar.

Se não temos acuidade para compreender a razão das coisas da vida e menos da morte, e, se não temos meio para interferir nos motivos do destino, resta-nos lamentar, sob protesto, pela partida tão inoportuna e fora de hora. Da mesma forma, resta-nos clamar aos céus intensamente para que se realize o milagre e potência da ressurreição. A sagrada sublimação que transforma pessoas em estrelas e corpos celestes e transportam as almas gloriosas para mundos mais belos, mais justos e mais venturoso.

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