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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Democracia Americana, um ataque sem surpresa

Ninguém poderia imaginar que, na terra que mantém viva a ideia de democracia, o Capitólio pudesse ser vítima de um ataque de terroristas domésticos

Por José Vicente
Atualizado em 8 jan 2021, 19h36 - Publicado em 8 jan 2021, 19h18

Os Estados Unidos da América, de forma inédita, colocaram de pé e grafaram em sede constitucional as ideias iluministas que os utópicos franceses tiraram do papel somente em 1789. Poder do povo e em seu nome exercido, liberdade e igualdade dos indivíduos inalienáveis, ação e distribuição do poder do estado, expressos e garantidos legalmente. Tudo isso desaguando num sistema de organização social em que a competição pelas oportunidades jazia na iniciativa e engenhosidade do indivíduo, antecedidos pela imparcialidade e tratamento igualitário e justo independentemente de origem, cor ou raça.

Mas, no caminho do destino manifesto pensado pelos pais fundadores se conformou outra verdade. A verdade manifesta do casuísmo e ambiguidade. A liberdade iluminada americana estruturou-se sobre escravidão negra e a igualdade inegociável acolheu legalmente o apartheid racial. A democracia libertária é a que faz acordo e trocas comerciais com a ditadura comunista chinesa, as ditaduras religiosas ou personalistas do Oriente Médio, afins e a atômica norte-coreana. E os direitos humanos que a centralizam convivem e coadunam com o trancafiamento de pais imigrantes atrás das grades e seus filhos em quase campos de concentração. Mantêm encarcerados o maior contingente de presidiários do planeta e onde a igualdade dos negros acaba no tiro certeiro e impune das forças policiais.

Contradição, negação, pragmatismo, dissimulação ou estratagema?

Seja o que for, nenhum americano, nem em pesadelo, acreditou que alguém em qualquer tempo, e muito menos duas dúzias de “bárbaros” do Oriente Médio, pudesse colocar as torres gêmeas de Nova York no chão. Nos dias seguintes ao fatídico 11 de setembro de 2001, os americanos contavam e enterravam os corpos das mais de 3.000 vitimas, do mais devastador ataque de terroristas internacionais, em solo americano.

Recolhido no conforto da supremacia econômico-militar e confiante na invulnerabilidade de seu território, os americanos trataram com temeridade a máxima de nunca subestimar o inimigo e fizeram concessões injustificadas em assuntos sensíveis como é a segurança do estado e das pessoas. Preferiram remediar que prevenir: foram surpreendidos pela própria imprudência.

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Da mesma maneira, ninguém em qualquer lugar do mundo poderia imaginar que, na terra que criou e mantém viva a ideia e o sentido de democracia e liberdade, o Capitólio, a Casa do Povo, pudesse ser vítima de um ataque violento, trágico e destrutivo realizado por terroristas domésticos, como bem definiu o presidente eleito Joe Biden. Além de promover mortes e ferimentos, esses, os demais e o comandante em chefe terrorista, Donald Trump, feriram de morte, também, o coração da democracia americana. Macularam a casa do povo e vilipendiaram o sagrado resultado das urnas.

Sem surpresa. Tudo planejado, orquestrado e executado ao longo dos quatro anos de governo Trump. À luz do dia, na frente das câmeras, por dentro das instituições democráticas, com aquiescência, indiferença e mesmo omissão de grande parte da classe política e jurídica. Com o apoio e estímulo de grande parte da população. Com a condescendência daqueles que se recusam a aprender com o 11 de setembro que terrorismo é um só.

Seja externo ou doméstico manda a providência que ele e seus autores sejam combatidos e desarticulados preventiva e impiedosamente. E que a democracia, seja boa ou imperfeita, seja a democracia americana, nunca deixe de ser prestigiada, valorizada, vigiada e defendida, com vigor e severidade.

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