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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Darnella Frazier glorificou Floyd e melhorou o mundo

A filmagem pelo seu celular de toda a ação policial permitiu ao mundo conhecer a verdade sobre a morte de Floyd e sobre a conduta criminosa dos policiais

Por José Vicente
Atualizado em 27 abr 2021, 19h41 - Publicado em 27 abr 2021, 19h18

O mundo deve muito a Rosa Parks, a simples costureira negra de Montgomery, no Alabama, que, em 1955, se rebelou contra as ordens de um sistema legal desumano e injusto e, em alto e bom som, disse não à submissão e à tentativa da sociedade da sua época de tratar de forma distinta homens e mulheres, em decorrência da sua raça. Ao se recusar a levantar do banco do ônibus em que viajava para cedê-lo a um homem branco, conforme mandava a lei, ela deu início à implosão do sistema de apartheid dos Estados Unidos. Um ano depois, a lei foi revogada e se tornou o combustível para a campanha de direitos civis conduzida por Martin Luther King. Em 1964, o governo americano extinguia o regime de segregação dos negros em todo o país.

O assassinato do cidadão negro George Floyd, dos que o antecederam e dos que o sucederam, a permanência do histórico da brutalidade do ódio racial, da discriminação, exclusão e cerceamento social de toda a natureza e, principalmente, a brutalidade da hostilidade e violência policial contra os negros americanos demonstram à exaustão que a sociedade e a realidade nova arquitetada pela luta dos direitos civis não se consolidou e não alcançou seu objetivo central de garantir o tratamento justo e igualitário, como pretendeu aquela multidão nas ruas e, no passado, os pais fundadores da nação.

O julgamento honesto, público, transparente e em tempo recorde, a condenação do policial Derek Chauvin, com os testemunhos acusadores de membros da sua própria instituição policial, bem como sua devida prisão, são auspiciosos indicativos de que as forças policiais foram atingidas em cheio na sua contradição e ambiguidade e foram curvadas pela potência da voz roucas das ruas.

A demissão imediata dos policiais envolvidos no crime, a indenização de 150 milhões de dólares pagos antecipadamente à família pela cidade de Minneapolis, os projetos de lei para mudança da estrutura e abordagem e a construção do orçamento policial subordinado a indicadores de ação policial cidadã, da mesma forma, traduzem-se como um novo paradigma para medir e construir os próximos passos dessa longa e interminável travessia rumo à cidadania plena para os negros americanos.

A atitude de coragem e rebeldia de Rosa Parks e depois o espírito de luta e tenacidade dos negros americanos e seus aliados brancos entregaram para todos os americanos um mundo diferente e transformado. Um mundo que não mais permitiu o apartamento legal dos seus cidadãos e que não mais aceitou qualquer outro fundamento de disputa das oportunidades sociais que não o talento, a capacidade e o mérito.

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Da mesma maneira, a atitude de desprendimento e coragem de Darnella Frazier, uma jovem negra de 17 anos, moradora de Minneapolis, que não se intimidou diante do perigo e se rebelou contra a agressão cruel, violenta e injusta de Derek e seus camaradas, entregou para os americanos e o mundo a possibilidade de construção de um país e mundo melhor. A filmagem pelo seu celular de toda a cena e ação policial, e depois a publicação das imagens nas redes sociais, permitiu ao mundo conhecer a verdade sobre a morte de Floyd e a verdade sobre a ação criminosa dos policiais.

Novamente levou americanos brancos e negros às ruas, mobilizou o estado e as instituições a rever seus conceitos e fortaleceu, em todos, a crença na força da sociedade civil e a nobreza da rebeldia solitária na defesa e promoção da justiça, da segurança e do bem estar do outro, enquanto expressão de todos.

Darnella é a Rosa Parks que glorificou Floyd e melhorou o mundo.

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