Os mais ricos aumentaram a aposta em Bolsonaro
Caiu de maneira significativa a taxa de reprovação do presidente nessa fatia do eleitorado, caracterizada pela renda mensal acima de dez salários mínimos
Os eleitores mais ricos aumentaram sua aposta em Jair Bolsonaro nos últimos dois meses. É o que mostra a pesquisa Datafolha divulgada ontem à noite.
Caiu de maneira significativa a taxa de reprovação do presidente nessa fatia do eleitorado, caracterizada pela renda mensal acima de dez salários mínimos (R$ 11 mil na média nacional).
Em julho, 58% desaprovavam a maneira como Bolsonaro conduzia o governo. Agora, são 46%. Ou seja, houve uma melhoria de doze pontos percentuais na avaliação desse segmento de eleitores.
Nele, se destacam os empresários: 47% classificam como “ótima” ou “boa” a maneira como Bolsonaro governa. É o único grupo pesquisado onde a aprovação supera a crítica (34% de “ruim” e “péssima”).
Os resultados sugerem uma tendência de avaliação gradualmente favorável a Bolsonaro entre os mais ricos. Em julho, a desaprovação detectada pelo Datafolha já estava cinco pontos abaixo do índice do segundo trimestre. Agora ficou ainda menor, em doze pontos.
Essa percepção é absolutamente contrária à da ampla maioria do eleitorado. Está na contramão da opinião que prevalece na classe média e nos mais pobres, onde se concentram oito de cada dez brasileiros aptos a votar.
Mais atingidos pelos desarranjos da economia, traduzidos no vigor da inflação e do desemprego, são esses os responsáveis pelo nível recorde de repúdio ao governo: 53% de reprovação e somente 22% de “ótimo” ou “bom”. É 21 pontos acima do registrado há nove meses.
Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do Datafolha, anotaram a resiliência dos eleitores mais ricos. Ao apresentar a pesquisa, chamaram a atenção para dois aspectos do histórico desse segmento que qualificam como “estratégico” para Bolsonaro.
Eles foram os primeiros a “despertar” para o candidato PSL em 2018. E, também, foram os pioneiros no “desembarque” do apoio ao presidente durante o desgoverno da pandemia, que matou mais de 589 até ontem.
É a elite do eleitorado, mais ampla que a fração de bolsonaristas fiéis, restrita a 11% (já foi 17%) da amostra de 3.667 eleitores entrevistados nesta semana, e identificada por critérios como voto declarado, confiança e avaliação.
Pelo comportamento recente, a maioria desse grupo não se autojustifica em compromisso de fidelidade com o bolsonarismo. Paulino e Janoni sugerem aguardar, para ver se os mais ricos “anteciparão ou não movimentos que poderiam se espalhar”, como em 2018. É condimento de suspense numa eleição que vai acontecer em 13 meses — tempo equivalente à eternidade na política.