O show da CPI: “V. Excia. é um oportunista pequeno, sorrateiro”
O debate tem sido instrutivo, principalmente, sobre a dificuldade da bancada governista em defender o governo, que perdeu o controle da gestão da pandemia
O debate na CPI da Pandemia tem sido instrutivo em muita coisa. Principalmente, sobre a dificuldade da bancada governista em defender o governo Jair Bolsonaro, que perdeu o controle da maior crise sanitária do século.
Um dos mais persistentes, raramente bem sucedido, é o senador Eduardo Girão, do Podemos do Ceará. Ontem, em reunião reservada houve acordo para não convocar prefeitos. Na sessão aberta ao público, ele surpreendeu ao tentar retomar a discussão:
— Não concordei com o acordo de não olhar para prefeitos…
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) ficou impaciente: – Senador, o seu pedido está indeferido.
– Tá, mas o senhor…
– Não precisa me explicar nada mais não — cortou Aziz. — A sua questão está indeferida.
Quinze minutos depois, Girão voltou ao tema, em tom de desafio: – E os prefeitos, senador Omar Aziz? Como é que não vamos ouvir mesmo os prefeitos de capitais?
Aziz retrucou: – Olha, senador Eduardo Girão, vossa excelência é um oportunista. E oportunista pequeno. Vossa excelência estava lá, escutou o que nós acordamos…
Girão persistiu: – Eu não fiz esse acordo.
Aziz reagiu: — Desde o primeiro momento, toda a sociedade brasileira, que tem inteligência, sabe que vossa excelência está aqui com um único objetivo: é que a gente não investigue por que a gente não comprou vacina. E vossa excelência, que não entende patavina de saúde, quer impor a cloroquina na cabeça da população. Vossa excelência, repito, é um oportunista. É oportunista, porque lá…
O líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) tentou intervir: — Calma, presidente!
– Não. Calma, não — continuou Aziz, voltando-se para Girão: – Veja bem, a coisa que eu mais repeti lá [na reunião reservada] foi: ‘O senador Eduardo Girão depois vai querer tirar proveito disso’.
Se voltou para o líder do governo: — Falei ou não falei isso?
Girão: – Eu respeito o senhor, eu respeito o senhor. Agora…
Aziz: – Vossa excelência não respeita ninguém. Age sorrateiramente. Vossa excelência não respeita ninguém.
Girão: – O senhor está sendo pressionado pela população brasileira, que quer toda a verdade. O senhor só quer uma parte da verdade.
Aziz: – Vossa excelência não quer verdade. Volto a repetir é um oportunista…
Girão: – O senhor está nessa presidência, eu sou…
Aziz: – Vossa excelência não me diga que é meu amigo, porque não é meu amigo, não. Vossa excelência é sorrateiro.
Girão recolheu-se em lamento: – Eu queria fazer uma coisa justa, independente. Eu não quero imunizar ninguém! Não quero imunizar ninguém!
E a sessão da CPI seguiu em clima de tumulto no recinto, como costumam registrar os taquígrafos do Congresso.