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Informação e análise
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O dia em que a defesa do governo na CPI se perdeu num Rolex

O senador Marcos Rogério leu um veemente discurso defendendo o governo, mas na comissão e nas redes a atenção se concentrava no seu reluzente relógio

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 jul 2021, 10h56 - Publicado em 16 jul 2021, 09h00

“Quem está dando palco a trambiqueiro, vendedor de ilusão, é a CPI da Pandemia”, disse o senador Marcos Rogério. Expoente do DEM no Centrão e candidato ao governo de Rondônia. No plenário da comissão, criticava o inquérito parlamentar televisionado sobre a má gestão e os negócios obscuros no Ministério da Saúde na emergência sanitária.

O terno escuro e a máscara negra no rosto emprestavam-lhe uma estudada sobriedade. Os gestos comedidos marcavam pausas na leitura de um longo discurso em defesa do governo Jair Bolsonaro. Às vezes, repuxavam a manga da camisa branca exibindo o relógio-ferramenta no pulso.

O objeto reluzente do senador roubou a atenção no plenário da CPI, enquanto ele defendia o governo enredado em suspeitas de corrupção numa trama surreal: a compra de 400 milhões de doses inexistentes de vacina indiana, com sobrepreço de 1.000% e corretagem nacional, supostamente fornecidas por um antigo empório de material de construção de Miami, já investigado no Canadá por tentativa de estelionato.

É negócio de R$ 1,6 bilhão, reservados no Orçamento da União, no qual se destacam, entre outros, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), cinco coronéis e um major integrantes da cúpula do Ministério da Saúde, um cabo da PM de Minas e um pastor que se apresenta como “conferencista da Paz Mundial”.

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O senador Marcos Rogério foi à CPI para ler um texto formatado para a própria campanha nas redes sociais, mas nesse ambiente o público ficou concentrado no seu pulso. É um Rolex Daytona — indicaram fãs do londrino Hans Wilsdorf, que há 95 anos renovou a arte da relojoaria com a invenção do Oyster Perpetual, o primeiro modelo de pulso impermeável, ícone de elegância e precisão cronométrica.

Uns avaliaram a peça em 20 mil dólares (R$ 98 mil). Outros viram uma réplica cotada a 1 dólar (R$ 4,90) nos camelôs da rua Vinte e Cinco de Março, área comercial de São Paulo cujo nome homenageia a Constituição do Império do Brasil, outorgada em 1824, dois anos antes do lançamento do primeiro Rolex.

Alguns observaram a preferência de líderes do Centrão pela ostentação de símbolos de riqueza e poder, lembrando que há pouco tempo o senador piauiense Ciro Nogueira foi fotografado com o pulso adornado por um Richard Mille 011 numa barraca do Mercado do Mafuá, em Teresina — o nome do lugar é corruptela de “ma foire”, “minha feira” em francês, designava a região onde se alimentavam operários de uma ferrovia em construção nos anos 1920.

Os originais RM-011 são vendidos a partir de 225 mil dólares (R$ 1,1 milhão). Colecionadores disputam edições limitadas, cotadas acima de 1,2 milhão de dólares (R$ 5,8 milhões). Mas há réplicas acessíveis, via internet, ao preço-base de 60 dólares (R$ 300).

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Relógios permeiam histórias de poder em Brasília. Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, era deputado federal em agosto de 2003, quando o chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, saiu de um jantar com o deputado José Carlos Martinez, um dos líderes do PTB, levando um vistoso Rolex.

Com o presente, Martinez selava a participação do PTB no projeto de Dirceu para dar a Lula uma espécie de “Centrão”, definido na época como a “maior base parlamentar do Ocidente” numa irônica referência à Arena, esteio da ditadura militar no Congresso.

Não demorou para o chefe da Casa Civil descobrir que o Rolex era falso. A aliança partidária durou mais alguns meses. Acabou no Mensalão.

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