Fiasco da oposição rachada nas ruas deu fôlego a Bolsonaro
Para o candidato à reeleição foi uma dádiva. Opositores juntaram nas ruas de 18 capitais menos gente do que ele tem de seguidores numa única rede social
A oposição deu um presente a Jair Bolsonaro, ontem. Desunida, juntou nas ruas de 18 capitais menos gente do que ele tem numa única rede social.
Para ele, foi uma dádiva. Havia começado a semana enlevado no delírio de uma guerra com o Supremo Tribunal Federal. Caiu na real em menos de 24 horas. Ao perceber o mandato na linha de tiro, assinou a rendição.
Opositores de todas as tendências estavam diante de um candidato à reeleição em 2022 aprisionado no próprio tumulto, em pleno derretimento nas pesquisas de intenção de voto — com taxa de rejeição acima de 50%. Viam um presidente arrastado pela inflação de dois dígitos, persistente na corrosão do bolso dos pobres, que compõem 80% do eleitorado, numa economia combalida e estagnada.
Mesmo num cenário como esse, a oposição não conseguiu apresentar unida numa frente política, como previsto. Acabou dando fôlego a Bolsonaro.
Os dissidentes das manifestações contra o governo perderam tempo entretidos num acerto de contas sobre o passado dos líderes e partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Com esse pretexto, o maior partido oposicionista, o PT, optou pela omissão no domingo. E, num toque de sarcasmo, fechou o dia expondo na rede videos do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad estrelando manifestações muito mais recheadas de público. Haddad, registra a História, emulou Lula na disputa de 2018 e saiu das urnas derrotado por Bolsonaro.
Lula hoje lidera as pesquisas, com larga vantagem sobre Bolsonaro. Mas, também, carrega uma expressiva taxa de rejeição, acima de 40%.
É legítimo que Lula e o PT sonhem com Bolsonaro como o adversário ideal para 2022 e apostem na adesão por gravidade de toda a oposição numa frente, sob hegemonia da liderança petista.
Costuma ser a lógica dos times que se julgam com a mão na taça de campeão, por antecipação. Mas nela ficam de fora três detalhes relevantes:
1) Faltam 14 meses para a eleição, uma eternidade em política;
2) Pelas pesquisas, quem quiser vencer amanhã vai precisar conquistar votos na massa de eleitores que hoje dizem rejeitar Bolsonaro e relutam sobre Lula;
3) Bolsonaro é presidente, o governo tem máquina e orçamento, e, em política, não se morre de uma única vez. A chance de ressurreição é permanente.