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Informação e análise
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Capital da intriga política, Brasília vai ter o seu Dia do Arrependimento

No ritmo da CPI da Pandemia, a cidade promete um calendário de fortes emoções, com as pressões por um impeachment que hoje parece tão incerto quanto remoto

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jul 2021, 09h43 - Publicado em 5 jul 2021, 09h00

Capital da intriga política, Brasília vai ter um Dia do Arrependimento no calendário oficial de eventos. Será no 12 de outubro, ampliando o caráter religioso do feriado, segundo uma legislação local aprovada meses atrás, questionada e validada pela Justiça na semana passada.

São raros os momentos de contrição no centro e na periferia do poder. Mais raras ainda as ocasiões de confissão pública de remorsos ou derrotas políticas. Mas elas acontecem.

Às vezes, ocorre de maneira insólita, como na sexta-feira 2 de julho de 1993, quando um deputado federal subiu à tribuna e disse para um plenário vazio: “Não sei o que é mais melancólico: se um fim de manhã de sexta-feira para o Parlamento ou se tudo aquilo que estamos vendo, e vivendo compassivamente, ainda quero adverbiar no tempo, contra o Parlamento.”

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“Sr. Presidente, senhoras e senhores deputados” — anunciou, em tom grave, Vital do Rêgo, do PDT da Paraíba, completando: “Eu estou profundamente decepcionado comigo mesmo”.

Quem o escutava, tomou um susto. Ele continuou: “Reduzi-me gradualmente a uma figura microscópica pela impossibilidade de ser, e como gostaria de ser, o que já fui e o que penso que deveria ser.”

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Qualquer eu seja a razão, olhar no retrovisor é importante, lembrou o ex-presidente José Sarney em dezembro de 2014, quando se despedia de seis décadas de mandatos eletivos. Depois da presidência, atravessara 23 anos como senador pelo MDB do Amapá.

“Eu tenho um arrependimento” — confessou. “Fazendo um ‘mea-culpa’: Penso que é preciso proibir que os ex-presidentes ocupem qualquer cargo público, mesmo que seja cargo eletivo. Nos Estados Unidos é assim, e eles passam a ter uma função que serve ao país. Então, eu me arrependo. Acho que foi um erro que eu cometi ter voltado, depois de presidente, à vida pública [no Senado].”

Outro ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, no ano passado admitiu angústia por um equívoco — consequência da vaidade, um de seus pecados favoritos —, que até hoje repercute na vida política nacional: “Cabe aqui um ‘mea-culpa’. Permiti, e por fim aceitei, o instituto da reeleição. Devo reconhecer que historicamente foi um erro.”

Fernando Henrique acaba de completar 90 anos. Já viu quase tudo no poder, inclusive impeachments — votou por um, o de Fernando Collor, ajudou a impedir outro, o de Lula, e assistiu em casa a um terceiro, o de Dilma Rousseff.

Ontem, comentou os protestos nas ruas e a avalanche de pedidos de impedimento de Jair Bolsonaro (122 já protocolados na Câmara). “O custo para a memória democrática é sempre elevado”, escreveu. “Mas… que fazer? Se o próprio presidente não cuidar de inibir os atos capazes de favorecerem a ação do Congresso nesse sentido, ela acaba ocorrendo.”

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Acrescentou: “Ainda há tempo para consertar o rumo. Mas, com a proximidade das eleições, o jogo político voltará a pressionar. Não adianta jogar a culpa na mídia ou ‘nos políticos’: trata-se de um sinal de alerta a ser devidamente compreendido pelos que exercem o poder. E o poder é cruel. Principalmente quando alguém é dele retirado pelo voto dos congressistas, e não pelo voto do povo.”

“Por tudo isso, presidente” — sugeriu— “atue enquanto há tempo. Um pouco mais que ele transcorra e já será tarde. Quando acontecer o inevitável, se não houver reação prática de sua parte, de pouco adiantarão os queixumes… Reafirmo: abra os olhos, presidente. Querendo ou não, se for tarde, as lágrimas podem não ser de crocodilo, mas não serão suficientes para evitar o que por ora parece ser longínquo.”

No ritmo da CPI da Pandemia, a capital da intriga promete um calendário de fortes emoções nas próximas semanas, com pressões crescentes por impeachment, aparentemente remoto. Por enquanto, a única certeza é que Brasília vai ter o seu Dia do Arrependimento.

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