Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Jorge Pontes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
Continua após publicidade

Nova ‘revolta da vacina’ expõe o bolsonarismo ao ridículo

Era só o que faltava: a politização da produção de vacinas para imunização da sociedade brasileira contra o coronavírus

Por Jorge Pontes
Atualizado em 23 out 2020, 18h37 - Publicado em 23 out 2020, 18h32

Na noite da última quarta-feira, dia 21 de outubro, Bolsonaro desancou publicamente o seu ministro da Saúde Eduardo Pazuello e bateu o martelo: a CoronaVac, vacina desenvolvida contra a Covid-19 pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, e que vem sendo testada no Brasil pelo centenário Instituto Butantan, não será adquirida pelo governo federal, mesmo se vier a ser chancelada cientificamente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Estava claro como água que Bolsonaro desautorizava Pazuello tão somente porque o projeto dessa vacina foi de iniciativa do governador de São Paulo, João Dória, que é adversário em potencial do presidente no pleito de 2022.

Era só o que faltava, para aprofundar ainda mais as trevas que atravessamos, a politização da produção de vacinas para imunização da sociedade brasileira contra o coronavírus.

Assistimos agora, em pleno terceiro milênio, na esteira do terraplanismo absurdamente defendido por alguns próceres do bolsonarismo, um verdadeiro revival da “revolta da vacina”, celeuma popular que assolou o Rio de Janeiro em 1904, e que coincidentemente ocorreu em relação à obrigatoriedade legal da vacinação contra a varíola, flagelo que assolava a então capital federal naquele início de século.

Continua após a publicidade

É o fim da picada lançar um tema de tamanha relevância nesse enorme Fla x Flu que se tornou o debate público no Brasil. Efetivamente o bolsonarismo não vê mais limites para a politização das coisas. Tudo é bandeira a ser levantada e defendida fanaticamente.

Os argumentos para rejeitar a vacina são rasos, e – pasmem – teriam sido passados a Bolsonaro por apoiadores possessos, nos cercadinhos virtuais que ele frequenta. Há, nesse caso, dois aspectos preocupantes. O primeiro é percebermos que a turba presente nas redes sociais, com o debate rasteiro de sempre e vociferando insanidades, tem o poder de influenciar e pautar decisões – equivocadas – do presidente da República; o segundo é como a aprovação de uma vacina, algo de cunho absolutamente científico, pode se tornar, de uma hora para outra, mais um tema para aprofundar o divisionismo da nossa sociedade.

Não sabemos o que é pior, se a influência de Bolsonaro nas redes ou vice-versa.

Continua após a publicidade

Na manhã de quinta-feira, dia seguinte ao imbróglio envolvendo a catracada sofrida por Pazuello, estava estabelecida a nova cizânia: milhões de celulares, e redes sociais no país inteiro, bombardeadas por posts com críticas ferozes em relação à “vacina comunista chinesa”. Eram legiões já odiando e espinafrando o produto da Sinovac Biotech, e também a todos que ousassem achar razões para defender a sua aquisição.

Os que vociferam contra a Coronavac, tão somente por ser chinesa, talvez ignorem que grande parte dos antibióticos utilizados por nós brasileiros têm procedência naquele país asiático, assim como outras vacinas contra o Covid-19, como a que vem sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford, tem seu principal insumo igualmente fabricado na China, conforme confirmação de pesquisadores da Fiocruz, onde o medicamento será produzido.

Por derradeiro, percebemos que quanto menos exigente for a platéia do circo, e quanto mais fuleiro for o expectador, menos aplicado será o palhaço na sua performance, e mais mambembe será o espetáculo oferecido. A boa (e as vezes esquecida) notícia é que, a cada quatro anos, podemos mudar a trupe inteira desse circo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.