O dilema do jardim vertical: ser ou não ser natural?
Desde que fiz meu primeiro programa sobre os jardins verticais, lá se vão três anos e meio, essa novidade passou de mera tendência de moda a expediente cada vez mais disseminado no paisagismo urbano (em São Paulo, ao menos). E essa é uma notícia para se comemorar, claro. O jardim vertical é excelente alternativa para trazer […]
Desde que fiz meu primeiro programa sobre os jardins verticais, lá se vão três anos e meio, essa novidade passou de mera tendência de moda a expediente cada vez mais disseminado no paisagismo urbano (em São Paulo, ao menos). E essa é uma notícia para se comemorar, claro. O jardim vertical é excelente alternativa para trazer o verde a lugares pequenos, muros áridos e edifícios em busca de uma solução decorativa que conjugue impacto visual e correção ambiental. Além de beleza, o jardim vertical ajuda a regular o calor, aumenta os níveis de umidade no ar e traz até mais bichos para ambientes urbanos, de borboletas a beija-flores. Vale rememorar aqui os primeiros passos para sua instalação:
https://veja.abril.com.br/multimidia/video/jardim-vertical-traz-o-verde-para-a-parede-da-sala
Neste post, me arrisco a palpitar sobre um dilema existencial patente em tantas paredes verdes que vejo pela cidade: ser ou não ser um conjunto natural. Explico melhor. Certas combinações de plantas dão um ar mais casual à parede verde, por serem espécies típicas de ambientes aéreos. Enfim, são pendentes, epífitas (que seguem a estratégia de se apoiar em árvores na natureza) ou típicas de encostas íngremes. Se você deseja imitar os padrões de crescimento e distribuição aleatória das plantas como na natureza, eis algumas espécies valiosas:
Em muitos arranjos verticais, contudo, o paisagista segue a lógica oposta: faz questão de subverter a ideia do que seja natural, conjugando espécies que normalmente não crescem em paredes – além de usá-las para criar padronagens geométricas, brincando com as cores e texturas. Até o capim do Texas, espécie de hábito notoriamente rasteiro, pede passagem no carnaval de cores e texturas que assola as paredes verdes paulistanas. Toda essa heterodoxia é ruim? Não necessariamente.
Quando cultivadas com critério, essas composições atípicas podem ter seu valor. Virar a natureza pelo avesso é, afinal, um mote explorado com sucesso na arte moderna e contemporânea. Brincar com as formas antinaturais é uma pedra de toque nos projetos de um modernista como Burle Marx. Mas investir na miscelânea sem atentar para as necessidades e suscetibilidades de algumas plantas – em matéria de luminosidade, por exemplo – pode resultar em vexame paisagístico. Eis um apanhado de espécies que funcionam bem nesse caso: