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Por Marcelo Marthe
Ideias práticas e reflexões culturais sobre jardinagem, paisagismo e botânica
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As palmeiras da discórdia do Parque Trianon

A ideia de retirar as plantas australianas que invadiram a mata do parque paulistano alimenta um Fla-Flu botânico. É chocante, mas elas devem ser eliminadas

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 set 2017, 18h45 - Publicado em 19 set 2017, 18h06

Troncos marcados com laços de fita plástica amarela e preta chamam a atenção de quem caminha pelo Trianon, tradicional parque que conserva um pedaço de Mata Atlântica bem no meio da Avenida Paulista. Não se trata de enfeite, mas de sentença de morte: os laços designam árvores que serão eliminadas do parque em breve. São palmeiras da espécie Archontophoenix cunninghamii, mais conhecida como seafórtia ou palmeira-real. A planta tem origem australiana e constitui aquilo que os biólogos chamam de espécie invasora: ao longo de décadas, a espaçosa palmeira gringa disseminou-se até virar uma figura onipresente na paisagem do Trianon. A iniciativa de cortar o mal pela raiz está causando um acalorado Fla-Flu botânico nas redes sociais.

De um lado estão os especialistas que, amparados por uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo, brigam pelo extermínio imediato das seafórtias. Seu argumento é que a palmeira, com seu crescimento vigoroso e propagação exponencial ajudada pelo fato de ter suas sementes espalhadas pelos pássaros, ameaça a própria existência da vegetação nativa do parque. Sem concorrentes tão fortes, ela inibiria a regeneração natural da floresta do Trianon.

Na outra ponta da disputa estão os amantes das plantas que denunciam uma suposta crueldade e até certa motivação xenófoba por parte dos algozes das seafórtias. Seus argumentos não raro apelam para uma franca humanização das plantas. É como se a ideia de exterminá-las se confundisse com um genocídio ambiental: um atentado à beleza movido pelo puro ódio a uma espécie estrangeira.

De minha parte, creio que é preciso se despir de paixões ao analisar o problema. Sim, muitas vezes há um inegável voluntarismo xiita por trás da ideia de cultuar a pureza nativa absoluta no paisagismo. A prova do quanto isso pode ser equivocado é o legado de Burle Marx: se tal radicalismo fosse regra, não haveria jardins como os do mestre que era capaz de fazer um uso criterioso de espécies estrangeiras, mesclando-as a joias da flora nacional garimpadas por ele mesmo.

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No caso das seafórtias do Trianon, no entanto, não há dúvida de que eles estão certos: as palmeiras devem ser eliminadas. O parque, afinal, é uma relíquia única – um extrato de Mata Atlântica de Planalto conservado por mais de um século bem no meio da metrópole. E as seafórtias desvirtuam sua natureza: no lugar delas, deveriam crescer palmeiras típicas da vegetação original, como o palmito-juçara (Euterpe edulis). É furado o argumento de que as seafórtias fizeram por merecer seu domínio, ao preencher um espaço que a mata não mais consegue preencher por já não contar com insetos e animais que outrora garantiam a regeneração natural. Se essa aplicação canhestra do conceito de meritocracia ao meio ambiente fosse válida, toda e qualquer praga vegetal – digamos, a tiririca – teria o direito de dominar o mundo sem contestação, já que se trata de uma vencedora por excelência.

Para não dizerem que sou um completo insensível, deixo aqui uma ideia: nada impede que as seafórtias tiradas do Trianon sejam reutilizadas no paisagismo, em locais adequados (leia-se: longe de matas nativas). Se isso for complicado, só há uma coisa a fazer: cortem-lhes as cabeças!

 

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