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Por Coluna
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“Você Nunca Esteve Realmente Aqui”: o colosso Joaquin Phoenix

O prêmio de melhor ator em Cannes, este ano, é o mínimo que ele merece pelo desempenho como um assassino profissional que resgata adolescentes

Por Isabela Boscov Atualizado em 10 ago 2018, 18h41 - Publicado em 10 ago 2018, 18h41

Há anos venho tentando descrever o trabalho de Joaquin Phoenix em filmes como Gladiador, ou O Mestre, ou Ela, ou Johnny & June, e nunca chego a um resultado que me satisfaça: talvez o ator mais complicado de sua geração, Phoenix compõe desempenhos abstratos e indecodificáveis, mas intensamente emotivos e comunicativos. Quanto menos ele faz e quanto menos fala (e seus personagens em geral falam muito pouco), mais expressivo ele fica; é como se a lente da câmera ficasse ela própria em suspense, à espera de registrar qualquer coisa que passe pela fisionomia dele, ou qualquer palavra que ele articule. Phoenix é um colosso. Não sei como ele faz o que faz – mas sei que pouca gente é capaz de fazer como ele.

Você Nunca Esteve Realmente Aqui
(Supo Mungam/Divulgação)

Daí a dificuldade de substantivar Joe, o veterano de guerra traumatizado que ele interpreta neste filme da diretora escocesa Lynne Ramsay (de Precisamos Falar Sobre o Kevin). De início, Joe parece quase um autômato: vive de localizar e recuperar adolescentes desaparecidas ou raptadas e é conhecido como um profissional “de resultados”; faz o que for preciso, com quem for preciso. Joe mora com a mãe idosa e, possivelmente, no passado ambos sofreram abusos físicos e psicológicos por parte do pai dele. Joe é sujeito a flashbacks – impressões que se intrometem em sua memória quando ele está em ação. Ao receber a incumbência de resgatar a filha de um candidato a governador que foi aliciada por uma rede obscura de exploração de menores, Joe entra em uma barafunda que está muito além do seu controle, e suas alucinações ou lembrançam disparam numa espiral cada vez mais larga.

Você Nunca Esteve Realmente Aqui
(Supo Mungam/Divulgação)

Lynne Ramsay filma muito pouco (este é seu quarto longa-metragem em quase vinte anos), mas muito bem e de maneira muito pessoal, num estilo impressionista, com elipses de tempo e de sentido que se alinham com as lacunas de informação enfrentadas por seus personagens. Você Nunca Esteve Realmente Aqui tem aquele tipo de enredo que costuma render apologias da violência e do justiçamento como O Protetor, com Denzel Washington – filmes em que o espectador se desculpa por torcer pela selvageria porque ela é cometida contra gente da pior espécie possível e em defesa de inocentes. Lynne tem o propósito oposto em mente: a violência de Joe causa repulsa apesar de, sim, ser cometida contra pessoas repugnantes e em defesa de inocentes. Ela causa repulsa ou no mínimo consternação porque vê-se de onde ela nasce – de brutalidades que Joe viveu e não pode cancelar, e que provocaram deformidades de alma, por assim dizer, que não há como reparar. Joe, no âmago, é tão indefeso quanto a Nina (Ekaterina Samsonov) que ele tem de resgatar e que, também ela, nunca vai poder apagar suas desfigurações. À medida que o filme avança, mais íntima e mais cheia de compaixão vai se tornando a câmera no modo como se aproxima de Joe e de Nina. Como eu, acho que Lynne sente a necessidade de proteger um homem assim assustador.

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Trailer

VOCÊ NUNCA ESTEVE REALMENTE AQUI
(You Were Never Really Here)
Estados Unidos/Inglaterra/França, 2017
Direção: Lynne Ramsay
Com Joaquin Phoenix, Judith Roberts, Ekaterina Samsonov, John Doman, Alex Manette, Alessandro Nivola
Distribuição: Supo Mungam

 

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