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Por Coluna
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Silicon Valley

A comédia da angústia: se você já sentiu pânico no trabalho, esta série genial é para você

Por Isabela Boscov Atualizado em 18 abr 2017, 15h43 - Publicado em 18 abr 2017, 15h42

No domingo 23 de abril, estreia na HBO a quarta temporada de Silicon Valley. Ou seja: durante dez semanas, uma das melhores meias-horas já escritas para a TV estará indo ao ar para me fazer rir de nervoso. Cada um dos 28 episódios já exibidos nas três primeiras temporadas é uma tortura sublime. Você revive os piores momentos que já experimentou ou testemunhou no trabalho; todas as variações possíveis de erros, fracassos, constrangimentos, bolas-fora, gafes, birras, puxadas de tapete, decepções, frustrações, desânimos – os seus e os alheios. É aflitivo, mas é também consolador: seja você caixa do McDonald’s, professor de colégio ou gênio das start-ups de tecnologia do norte da Califórnia, como os protagonistas, são consideráveis as chances de que já tenha se sentido como eles se sentem – com vontade de cortar os pulsos, ou de nunca mais sair da cama para ir ao trabalho, ou de viver de plantar batatas em algum lugar do qual ninguém ouviu falar. E, como eles também, você aguenta, e volta para mais uma temporada de novas aflições.

Silicon Valley

Se nunca viu Silicon Valley, recupere o tempo perdido antes deste domingo: a coisa toda começa quando Richard (Thomas Middleditch), que trabalha no Hooli (leia-se Google e similares), inventa um algoritmo revolucionário de compressão de dados chamado Pied Piper e decide se aventurar por conta própria em uma start-up só sua. Ou antes fosse só sua: Richard mora com outros techies em um “berçário” de start-ups mantido pelo largado e salafrário Bachman (T.J. Miller). Tem de dividir a invenção, o trabalho e a empresa com os colegas, portanto. Mas a pressão, essa ela tem de suportar sozinho, e o Pied Piper é a sua bênção e a sua maldição. Se ninguém investir nele, será um fracasso. Se investirem nele e o retorno não for o previsto, será um fracasso. Se o retorno for bom mas ele for um mau presidente de empresa, será um fracasso. Se ele errar o jeito e a hora de lançar o produto, será um fracasso. Se os gigantes do Vale do Silício (como o próprio Hooli) roubarem sua ideia, será um fracasso. Se eles a comprarem em vez de roubar, ainda assim será um fracasso. Enfim, você pegou a ideia: Richard e os amigos estão sempre a um passo de acertar, e a um milímetro de se estropiarem completamente. É impressionante a quantidade de desenvolvimentos que o criador Mike Judge tira dessa ideia: todo episódio, Richard empurra uma pedra montanha acima e, quando está quase chegando no cume, ela rola para baixo de novo. Toca recomeçar no episódio seguinte.

Silicon Valley
(HBO/Divulgação)

Mike Judge, que na década de 90 criou os sensacionais Beavis & Butt-head, é o grande profeta moderno da mediocridade, inutilidade e ansiedade. Dois dos filmes que ele dirigiu são, para mim, obrigatórios (e hilariantes). Como Enlouquecer Seu Chefe, de 1999 (disponível na Netflix), é uma comédia sobre o tédio insano da rotina em um escritório. E Idiocracia, de 2006, é uma obra-prima da sociologia politicamente incorreta: um sujeito que para os padrões atuais é de inteligência mediana sai do congelamento, 500 anos no futuro, e descobre que virou o gênio da raça: como os idiotas se reproduzem muito mais do que os inteligentes e/ou instruídos, no correr desses cinco séculos a humanidade foi ficando de uma burrice impenetrável. As pessoas têm nome de refrigerante ou salgadinho, e ninguém entende por que as plantações não crescem se são regadas com Gatorade, que é tão gostoso. Toda vez que revejo, rio do começo ao fim – e choro, porque o futuro de Idiocracia nada mais é do que uma versão caricatural do presente.

Silicon Valley
(HBO/Divulgação)

Silicon Valley, porém, é o auge de Mike Judge. Além desse clima meio enlouquecedor das pessoas que estão correndo em círculos e da crônica meticulosamente observada da maneira como se vive nesse ambiente do Vale do Silício, os personagens são maravilhosos. Richard é tão tímido e ansioso, sempre tentando acomodar todo mundo – mas, por baixo dessa docilidade, corre uma raiva autêntica. Bachman é um folgado de primeira, mas não consigo deixar de gostar dele, porque ele nem entende o quanto é carente também. Como o CEO do Hooli, Matt Ross é um show: arrogante, irascível – e inseguro até a medula. Na primeira temporada, Christopher Evan Welch brilhou como o estranho e enigmático CEO de uma empresa concorrente do Hooli; tragicamente, porém, Welch morreu antes de poder concluir sua participação na segunda temporada. O meu preferido, no entanto, é o Donald interpretado por Zach Woods, que saiu do Hooli porque acreditava na ideia de Richard e faz das tripas coração para ajudá-lo. Todo mundo acha Donald insignificante; nunca se dão ao trabalho de lembrar o nome dele, e o chamam simplesmente de “Jared”. Donald é um mestre em se auto-anular, mas é de uma coragem e de uma paciência comoventes. Vivo ansiosa por ele. Por todos eles, na verdade. São só 30 minutos, mas quando eles acabam estou suando frio, com o coração disparado. Uma tortura sublime, mesmo.

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