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Robert Pattinson, o ator que não para de se reinventar

Um quê especial ele sempre teve, mas não se esperava que renascesse de 'Crepúsculo' como um ator imprevisível, eletrizante — e de primeira categoria

Por Isabela Boscov Atualizado em 31 jul 2020, 18h04 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00

De 2001 — Uma Odisseia no Espaço a Interestelar, de O Primeiro Homem a Ad Astra, o cinema vê nas viagens espaciais antes de tudo uma afirmação do espírito, ou um símbolo da sede humana pelo desconhecido e pela transformação. High Life (França/Inglaterra/Estados Unidos/Alemanha/Polônia, 2018), da diretora francesa Claire Denis, junta-se a Solaris, do russo Andrei Tarkovsky, e a Gravidade, do mexicano Alfonso Cuarón, no grupo das raras e notáveis exceções, aquelas em que a pressão da continuidade física precede tudo o mais. No estranho, parado mas fascinante filme de Denis, que acaba de estrear no NOW e em outras plataformas, uma faceta surpreendentemente terna desse imperativo biológico é revelada já na primeira cena: executando um reparo do lado de fora da nave, o astronauta Monte luta com as ferramentas ao mesmo tempo que faz ruídos carinhosos ao microfone do capacete para confortar a bebê que, lá dentro, no berço, se impacienta com a ausência dele. Por algum motivo, pai e filha são os únicos que restaram, e Monte agora acumula todas as tarefas, desde cuidar da horta até lançar no espaço os corpos dos companheiros mortos. Nada é mais importante, porém, do que segurar a pequena Willow no colo, deixá-la brincar, falar com ela — assegurar que ela viva e floresça, enfim. São momentos de uma intimidade e de um amor profundos, que Robert Pattinson, no papel de Monte, captura em detalhes delicados mas vívidos, da mesma forma que convence de maneira visceral nos vários entrechos de selvageria, horror e animalidade que compõem sua história. É uma grande interpretação, que ancora sozinha as muitas ideias que a diretora explora. A esta altura, entretanto, não é mais surpresa que Pattinson seja capaz de um desempenho como esse — contra todos os indícios de seu início de carreira.

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Não há como negar que o inglês Pattinson, hoje com 34 anos, teve sempre um quê especial. Na breve participação em Harry Potter e o Cálice de Fogo e, logo em seguida, como o vampiro de Crepúsculo, ficou nítido esse algo indefinível a que se chama star quality. Talento e carisma, no entanto, não necessariamente coexistem, e seus dons dramatúrgicos eram bem menos óbvios. Nos quatro anos de Crepúsculo, aliás, mal foi possível detectá-los. Vago, hesitante e descolorido na saga e nos outros papéis com que já então procurava se descolar dela — um Salvador Dalí de paródia em Poucas Cinzas (2008), um lânguido tratador de circo em Água para Elefantes (2011) —, Pattinson parecia ter mais futuro como celebridade que como ator. Em retrospecto, porém, constata-se que Crepúsculo ao mesmo tempo conseguiu identificar duas pessoas singulares entre a massa de candidatos ao par central, como tratou de mascarar sua singularidade. Cada vez mais contrariada no papel de Bella à medida que os cinco filmes de Crepúsculo prosseguiam, Kristen Stewart se libertou com momentos de brilho genuíno, como em Para Sempre Alice (2014) e Personal Shopper (2016).

Pattinson, contudo, disparou — e segue em ascensão vertical (confira o gráfico ao longo da reportagem). Na sua faixa etária, é possivelmente o ator mais requisitado do momento, e também o mais imprevisível. Aquela vagueza que o caracterizava amadureceu em qualidades bem mais estimulantes: uma reticência que intriga, um despojamento eletrizante na forma como aborda seus personagens e não raro uma certa ferocidade. Há que se destacar também a sua perspicácia em perceber tão cedo que, para escapar de uma carreira infrutífera, precisaria se impor testes nos quais inevitavelmente falharia em público.

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Para um ator interessado em perder de vista sua zona de conforto, não há opção melhor do que trabalhar com David Cronenberg. Pois, de saída de Crepúsculo, Pattinson fez isso não uma, mas duas vezes: submeteu-se ao cineasta que é sinônimo do incômodo e do perturbador em Cosmópolis, de 2012, e dois anos depois em Mapas para as Estrelas. Não são nem de longe atuações memoráveis, mas o solavanco fez um bem enorme a Pattinson. Notificou os profissionais do ramo de que ele virara um topa-tudo — e provou a ele mesmo que nada lhe é mais confortável que o desconforto. Desse, ele experimentou doses fartas em The Rover e em Z: A Cidade Perdida (no qual, em papel não muito grande, ofusca o restante do elenco), mas sobretudo em Bom Comportamento, o filme que verdadeiramente o desconstruiu para obrigá-lo a se reorganizar.

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De lá para cá, sem nunca perder aquele algo inacessível que o torna tão interessante, Pattinson virou o que não se podia antever: um ator que é uma potência, seja como coadjuvante (em O Rei), como protagonista (em High Life) ou em duelo com um único outro ator (em O Farol). De setembro até outubro do ano que vem — se a pandemia não embaralhar os planos —, ele ressurge em quatro novos trabalhos de alto calibre: o misterioso Tenet, de Christopher Nolan, a adaptação de Waiting for the Barbarians, do escritor sul-africano J.M. Coetzee, na qual contracena com Mark Rylance e Johnny Depp, o thriller da Netflix The Devil All Time e, claro, The Batman. É essa, justamente, a aposta mais arriscada. Bruce Wayne é um desses personagens dominantes que tanto podem demolir um ator quanto catapultá-lo. É difícil não provocar alguma medida de decepção quando se o encarna, e mais difícil ainda sair de sua sombra; há que ter muita personalidade para submergir nele e, ao mesmo tempo, se impor a ele. Alguns anos atrás, ninguém o cogitaria — mas, se alguém é capaz de fazê-lo hoje, esse ator é Robert Pattinson.

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Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698

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