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Por Coluna
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‘Peterloo’, uma batalha entre palavras e armas

Diálogos e discursos são o eixo ao longo do qual progride o notável filme de Mike Leigh sobre um comício que virou massacre na Manchester de 1819

Por Isabela Boscov Atualizado em 6 set 2019, 10h24 - Publicado em 6 set 2019, 06h30

Em 16 de agosto de 1819, cerca de 100 000 pessoas se reuniram na praça de St. Peter’s Field, em Manchester, para um comício em que oradores célebres falariam sobre reforma social — especificamente, a ampliação do direito ao voto, uma vez que o dever do imposto era já universal. Mas, em questão de momentos, a reunião pacífica virou um massacre, que os jornalistas presentes ao local, chocados, apelidaram de Peterloo, em referência à sangrenta Batalha de Waterloo, de 1815, na qual a Inglaterra derrotara a França de Napoleão Bonaparte. Aqui, porém, os soldados estavam atacando não uma força inimiga, mas os próprios cidadãos. Como se chegou até ali é do que se ocupa o notável Peterloo (Inglaterra, 2018), do diretor inglês Mike Leigh, que estreia no país nesta quinta-feira.

Há muita contextualização histórica em Peterloo, além de verdadeiras maratonas de diálogos e discursos — ambas coisas que exigem plateias dispostas a colocar toda a sua atenção a serviço do filme. Mas ele tem considerável poder de ecoar no presente: o massacre de Manchester é um caso exemplar de como a miopia e a covardia políticas podem agravar um impasse até o ponto do insustentável. Não havia nada que as classes dominantes inglesas temessem mais que uma reprise em solo britânico da Revolução Francesa, de 1789, com sua abolição violenta da aristocracia e da monarquia. Exceto, talvez, uma reprise da Guerra de Independência americana, de 1775-1783, em que a coroa fora derrotada por sua ex-colônia em nome justamente dessa bandeira, a de que à taxação deve corresponder a representação política. O norte da Inglaterra era então o berço fervilhante da Revolução Industrial — junto com a qual nascera uma classe nova, o operariado, sujeita a níveis até ali inéditos de exploração, e clamorosa por direitos também inéditos. A fome, além disso, grassava. Medo e paranoia de um lado, insatisfação e aspiração do outro e, no meio deles, destacamentos de cavalaria com as baionetas à mostra: essa foi a receita do desastre.

No início, Leigh apresenta seus personagens em cenas tranquilas, de tons difusos, que conjuram na tela uma Inglaterra na qual sobrevive ainda o idílio pastoral dos séculos anteriores (o trabalho do cinegrafista Dick Pope é estupendo, rivalizando com suas conquistas em outros filmes de Leigh, como Topsy-Turvy e Sr. Turner). Aos poucos, o conjunto vai ganhando em colorido, dinâmica e vibração — até culminar no caos e no pavor do massacre. O eixo que orienta essa progressão, porém, é a palavra: do cuidado com que parte do elenco reproduz os antigos dialetos do Norte inglês à beleza da oratória de ativistas como Henry Hunt (Rory Kinnear), Peterloo é tão imersivo para os ouvidos quanto para os olhos e o pensamento.

Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651

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