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Por Coluna
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Pais e filhas: 11 filmes para comemorar um amor especial

Tanto faz o gosto cinematográfico: em dramas ou comédias, e até no terror e na ficção, sempre há um filme capaz de dizer a um pai como ele é importante

Por Isabela Boscov Atualizado em 8 ago 2020, 17h45 - Publicado em 8 ago 2020, 17h25

Não é desfeita aos filhos – é só meu jeito de mandar um recado (ou onze) para o melhor pai do mundo.

Drama: Um Laço de Amor

Onde: Apple TV, Looke, Telecine

O título brasileiro sugere muito xarope, mas não é o caso: Marc Webb, diretor do queridíssimo (500) Dias com Ela, tem mesmo um toque tão firme quanto delicado, além de um despojamento que serve muito bem à história de Frank, o tio (Chris Evans, ótimo) que cuida da sobrinha Mary (a cativante Mckenna Grace), de 6 anos, praticamente desde o nascimento e escolhe morar num trailer park em um lugarejo da Flórida para garantir à menina alguma normalidade e o máximo possível de infância: Mary é um prodígio matemático de capacidade singular, da mesma maneira que sua mãe foi – uma jovem sempre infeliz e deslocada, que se suicidou. Por essa razão, também, Frank decide mandá-la para uma escola comum. Mas a inteligência dela imediatamente atrai atenções indesejáveis, incluindo a da avó até ali ausente (Lindsay Duncan) e agora interessadíssima em realizar por meio da menina a ambição que sua própria filha não cumpriu. Pode não ser muito original, mas é de uma honestidade revigorante – e a química entre Evans e Mckenna é uma beleza.

Um Laço de Amor
Gifted, 2017 (- Fox/Divulgação)

Comédia dramática: Curvas da Vida

Onde: Apple TV, Looke

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Há duas constantes nos filmes de Clint Eastwood. A primeira é a necessidade de crescer moralmente – vale dizer, aprender ou rever alguma coisa crucial a respeito do mundo e de si mesmo. A segunda é a relação entre pais e filhas. As duas coisas estão ligadas, porque nada tem mais força para mover um homem plantado nas suas convicções do que esse amor particular. Clint não está nem aí para a biologia: suas “filhas” podem ser a boxeadora vira-lata de Menina de Ouro, a garota asiática da casa ao lado de Gran Torino, a prostituta que o contrata para uma vingança em Os Imperdoáveis. Por acaso, em Curvas da Vida a personagem de Amy Adams é mesmo sua filha de nascença, o que não impede que ele bata cabeça com ela o tempo todo – questão de admiração: turrona e cheia de fibra como o pai, ela é tudo que ele mesmo queria ser, e mais um pouco. Quem dirige é Robert Lorenz, colaborador de Eastwood de longa data.

Curvas da Vida
Trouble with the Curve, 2012 (- Warner/Divulgação)

Super-heróis: Logan

Onde: Apple TV, Looke, Telecine

Está-se em 2029; quase todos os mutantes morreram, e há mais de vinte anos não se tem notícia de um novo nascimento. Mas ele aconteceu: Laura (a impressionante Dafne Keen), de 11 anos, tem o esqueleto e as lâminas de adamantium de Wolverine, e o mesmo poder de cura. Não fala e, quando acuada, exibe uma selvageria inocente de si mesma, mas cujo rastro de corpos e mutilações é assustadoramente real. Laura é uma criança que precisa com urgência de limites – e de salvação. Logan é sua última chance contra o exército particular que a persegue. Mas a fuga árdua, prolongada e repleta de sangue não faz muito por reconciliar Logan com a ideia de paternidade, que o repugna e o consome em igual medida. Intensamente violento e profundamente triste, Logan é possivelmente o melhor de todos os filmes dos X-Men. Ou é, simplesmente, um belíssimo filme, seja de super-herói ou não. 

Logan
Logan, 2017 (- Fox/Divulgação)

Para se sentir bem: De Repente uma Família

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Onde: Telecine

Estou tapeando um pouco com este título, já que a mãe, aqui, divide por igual com o pai as atribulações e as recompensas de formar uma família da noite para o dia. Mark Wahlberg e Rose Byrne são o casal que, vendo-se em situação financeira confortável, embarca na ideia de adotar um trio de irmãos cansados de rodar pelo sistema de famílias temporárias – a muito formidável adolescente Lizzie (a ótima Isabela Moner, de Sicario: Dia do Soldado), o desastrado Juan e a pequena mas furiosa Lita. No começo (beeem no começo) é uma lua-de-mel; mas não demora até o casal chegar toda semana no grupo de apoio tocado pelas assistentes sociais Octavia Spencer e Tig Notaro (ambas excelentes) com olheiras fundas e histórias de horror para contar. Um jeito leve – embora não ligeiro – de tratar de um assunto cheio de tristeza mas também, às vezes, de promessa.

De Repente uma Família
Instant Family, 2018 (- Paramount/Divulgação)

Pós-apocalipse: A Luz no Fim do Mundo

Onde: Apple TV, Looke, NOW

De noite, no interior da barraca, o pai conta uma história, e os apartes da criança de uns 10 anos de idade mostram sua inteligência viva. É um menino ou de uma menina? No que depender do pai, sua filha Rag (a soberba Anna Pniowsky) vai passar por garoto até onde for possível, ou nem será vista. Neste cenário pós-apocalíptico mas idilicamente silvestre, quase todas as mulheres sucumbiram a um vírus, incluindo a mãe de Rag. A garota está entre as poucas imunes à infecção, mas corre perigo grave a cada minuto de cada dia; se algum homem notar sua existência, seu destino será brutal. Assim, Rag anda sempre disfarçada e a dupla leva uma vida isolada, nômade e precária nas florestas — uma vida que se torna ainda mais dura à medida que Rag avança pela puberdade e seu desejo de independência e convívio cresce na mesma proporção em que diminui sua paciência para as regras impostas pelo pai. Escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Casey Affleck, é um retrato tocante do amor tão pleno de um pai por sua filha que ele se obriga a temperar o instinto avassalador de protegê-la com a compreensão de que ela precisa crescer e ser quem é.

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A Luz no Fim do Mundo
Light of My Life, 2019 (- Imagem Filmes/Divulgação)

Comédia romântica: Três Vezes Amor

Onde: Looke

Às vésperas de se divorciar, um pai tem de explicar à filha o que é incompreensível para uma criança: que amor e paixão nem sempre são permanentes – e, o mais difícil, podem acontecer de maneira igualmente verdadeira com uma, duas ou muitas pessoas no decorrer da vida. Na tentativa de dizer algo que parece tão duro com alguma delicadeza, Will (Ryan Reynolds) conta então a Maya (Abigail Breslin, fofésima) a história das três namoradas mais sérias que teve – com nomes trocados, para que ela não saiba qual delas terminou por se tornar sua mãe. Eis aí algo de novo: uma comédia romântica que parte do princípio de que o amor tem mais a ver com circunstâncias do que com predestinação. Escrito e dirigido por Adam Brooks, autor do também muito espirituoso roteiro de Wimbledon, Três Vezes Amor pratica uma espécie de realismo romântico – e a perfeição que é o trabalho de Ryan Reynolds  colabora muito para o saldo positivo.

Três Vezes Amor
Definetely, Maybe, 2008 (- Universal/Divulgação)

Drama independente: Sem Rastros

Onde: Apple TV, HBO Go, Looke

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Veterano de guerra com stress pós-traumático em último grau, Will (Ben Foster) há anos vive apenas em companhia da filha Tom (a fenomenal Thomasin McKenzie, de Jojo Rabbit) em acampamentos rústicos nas florestas imensas do Oregon, evitando ao máximo qualquer outro contato humano. Morar nos parques federais, porém, é ilegal. Assim, quando um turista denuncia a presença de Will e Tom, eles são forçosamente integrados ao sistema de assistência social e a uma nova rotina que, para o ex-combatente, equivale a uma tortura psicológica prolongada. Entre o desejo dele de fugir, e o desejo de Tom de se socializar, cria-se um impasse doloroso para um pai e uma filha que se amam mas já não conseguem achar um termo comum. Em seu primeiro filme desde Inverno da Alma, de 2010 – que lançou Jennifer Lawrence –, a diretora Debra Granik mais uma vez demonstra um tino notável para traduzir personagens por meio da paisagem em que eles vivem.

Sem Rastros
Leave No Trace, 2018 (- HBO/Divulgação)

Ficção científica: Interestelar

Onde: Apple TV, Looke, NOW

Com a humanidade em risco iminente de extinção por causa de uma catástrofe ambiental, um cientista (Michael Caine) propõe se aproveitar de um buraco negro surgido nas proximidades de Saturno para procurar uma salvação. Sua própria filha, Amelia (Anne Hathaway), e Cooper (Matthew McConaughey), um ex-piloto da Nasa, viajarão pelo buraco e decidirão qual de três planetas na outra ponta do atalho melhor serve à vida. Não existe maneira de saber como será essa travessia, e o que há do lado de lá. Amelia está disposta a enfrentar a jornada por seu pai; e Cooper, fazendeiro descontente e viúvo, o faz pelo futuro dos filhos. O diretor Chistopher Nolan viaja até o limite teórico do conhecimento e percorre planetas de paisagens atordoantes usando um combustível poderoso: a ligação entre Amelia e seu pai, e entre Cooper e sua filha (Mackenzie Foy na infância e depois Jessica Chastain, ambas excelentes) – e também a sua ligação com sua própria filha, Flora, cujo nome serviu de título de trabalho para o filme enquanto Nolan ainda mantinha o projeto em sigilo.

Interestelar
Interstellar, 2014 (- Warner/Divulgação)

Terror: Invasão Zumbi

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Onde: Netflix, NOW

Ainda no carro, rumo à estação ferroviária, o jovem financista Seok (Yoo Gong) e a filha pequena, Soo-an (Soo-an Kim), percebem uma certa agitação em Seul. Mas só dentro do trem, no trajeto até a cidade de Busan, eles se darão conta da calamidade: um após o outro, passageiros e tripulantes vão se transformando e instaurando o pânico nos vagões. Seok é um pai distante; pretendia apenas largar Soo-an na casa da ex-mulher. O desespero faz o amor paterno aflorar com violência, mas a menina não quer ser salva a qualquer custo: quer que o pai ajude outros além dela, porque precisa que ele prove ser o homem que ela imagina. Se o sobressalto e a ansiedade que estão na base do cinema sul-coreano perturbam de maneira autêntica, é porque em geral essas emoções acompanham algum desastre sem alívio: os bons e os justos, as crianças e os cães – não há certeza de salvação para ninguém. Ainda que o título pareça autoexplicativo e a ação seja ininterrupta (além de magnificamente orquestrada), o que conta aqui é a aflição que não dá trégua, o arrependimento constante. Não se surpreenda se, no fim, você estiver às lágrimas.

Invasão Zumbi
Train to Busan, 2016 (- Paris Filmes/Divulgação)

Cinema francês: Amanda

Onde: Apple TV, NOW

Com seu naturalismo calmo e gentil, o francês Amanda põe em cena um dos pares de atores mais acertados que já vi: o jovem Vincent Lacoste e a pequena Isaure Multrier, uma menina tão sem afetação, tão inteligente mas tão livre de precocidade excessiva, que simplesmente olhar para ela sendo criança já é um prazer. Os dois interpretam David, de 24 anos, que faz bico como zelador de apartamentos para turistas em Paris, e a Amanda do título, a sobrinha de 7 anos do rapaz. De um instante para outro, porém, David se vê diante de uma responsabilidade muito além da sua idade ou da sua experiência: vai ter de assumir a menina como sua. Nenhum dos dois está preparado para essa reviravolta (e como poderiam estar?), mas não há alternativa. David e Amanda andam de bicicleta, conversam depois da escola, dividem um lanche, fazem uma viagem curta mas muito importante. Assim, de passo em passo, eles acham um lugar para a tristeza e se conectam. E, quando o tio consola a sobrinha em um momento difícil dizendo “Eu estou aqui”, a frase readquire toda a sua importância real. Não é maneira de falar, ou um conforto vazio; ele está mesmo, com tudo que isso significa – e essa é a única coisa que de fato importa.

Amanda
Amanda, 2018 (- Imovision/Divulgação)

Clássico japonês: Pai e Filha

Onde: cinemalivre.net e em DVD

Quem nunca viu os filmes de Yasujiro Ozu (1903-1963) leva uma vantagem sobre os demais cidadãos: ainda vai ter a alegria de ver pela primeira vez uma obra-prima como Pai e Filha. Setsuko Hara, cujo sorriso luminoso foi aproveitado pelo cineasta em seis de seus filmes, é Noriko, tão unida ao pai que não imagina prescindir dele; o maravilhoso Chishu Ryu, que marcou presença em quase toda a obra de Ozu, é o pai, um velho professor que aprecia a companhia da filha em igual medida, mas preocupa-se com o fato de que ela não deseja passar à próxima etapa da vida – ou seja, casar-se e iniciar sua própria família. Ambos, então, farão um sacrifício um pelo outro. E cada um dos dois vai também tentar impedir que o outro perceba a dimensão desse sacrifício. O cinema de Ozu é o da família, do vilarejo, das coisas pequenas do dia-a-dia, que ele encenava em imagens disciplinadas, mas imensamente emotivas. Vejo este aqui e choro, doída de saudade do meu pai.

Pai e Filha
Banshun/Late Spring, 1949 (- Lume/Divulgação)
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