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“O Orgulho”: andando sobre o gelo fino do mimimi

Daniel Auteuil brilha como um provocador, em um filme saboroso sobre um professor tido como preconceituoso e a aluna de origem árabe que o detesta

Por Isabela Boscov 20 jul 2018, 18h37

As duas centenas de alunos estão em seus lugares, o auditório está lotado, a aula já começou, e Neïla Salah (a cantora Camélia Jordana) chega constrangedoramente atrasada no primeiro dia do curso de Direito na Universidade de Paris II. O professor, Pierre Mazard (Daniel Auteuil), não deixa barato: ridiculariza Neïla de todas as maneiras possíveis – com cutucões a respeito da maneira desleixada como ela se veste, do modo desarticulado como responde, da atitude defensiva e, mais do que tudo, de sua origem árabe. Boa parte dos alunos dá risada (pelo jeito, Mazard é célebre pelas tiradas politicamente incorretas), outra parte leva a coisa a sério – e Neïla ferve de raiva com a humilhação pública. Estudantes saídos dos guetos da periferia, como ela, já não são comuns na Paris II, e a atenção extra não ajuda em nada. Se Neïla espera algum sinal de arrependimento de Mazard, porém, vai ter de esperar sentada. Conhecido pela inteligência e também pelas provocações, ele enfenta, impávido, um processo administrativo por denúncias contra a sua conduta, e parece não estar dando a mínima. Para salvá-lo de si mesmo, o reitor sugere uma estratégia de efeito publicitário: Mazard deverá treinar Neïlah durante todo o ano para um concurso de eloquência. Com seu temperamento contrário, o professor escolhe como base o tratado A Arte de Ter Razão, do filósofo Arthur Schopenhauer – o qual, também chamado sugestivamente de Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão, lista 38 estratagemas, da indução ao insulto pessoal, para garantir a vitória em qualquer discussão, independentemente de se acreditar ou não no que se está dizendo.

O Orgulho
(Pandora/Divulgação)

O diretor franco-israelense Yvan Attal caminha em gelo fino aqui, mas é encorajador que alguém ainda se disponha a fazê-lo: o preconceito de Mazard nada tem a ver com a origem de Neïla, e sim com a facilidade com que ela se identifica com um estereótipo e cai na armadilha da vitimização, e o modo automático como os outros alunos encampam esse raciocínio. O que o irrita, enfim, é a falta de brio dela em dar um troco à altura das provocações dele. E é isso que, durante o ano de treino, ele obriga Neïla a fazer: a cultivar uma certa casca, digamos assim, para alçar-se acima do estereótipo e dar o troco na mesma moeda. Ou, simplificando: o que ele quer ensinar a ela é a renunciar à comodidade do mimimi e parar de cumprir as expectativas – ruins – a seu respeito. Se Yvan Attal se sai tão bem na tarefa e entrega um filme tão saboroso e cativante, é porque, primeiro, maneja muito bem as regras desse jogo entre mentor e discípula – no qual, é claro, ambos têm algo a ensinar um ao outro. E, segundo, porque tem na calorosa Camélia Jordana e no fabuloso Daniel Auteuil um par perfeito. Auteuil, não há dúvida, tem aqui a missão mais complicada, que é revelar um propósito humanista na antipatia de Mazard. Mas ele a desempenha maravilhosamente – com mais brilho ainda do que já lhe é habitual.


Trailer

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O ORGULHO
(Le Brio)
França/Bélgica, 2017
Direção: Yvan Attal
Com Daniel Auteuil, Camélia Jordana, Yasin Houicha, Nicolas Vaude, Jean-Baptiste Lafarge
Distribuição: Pandora
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