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Por Coluna
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Hoje é um bom dia para ver… O Lado Bom da Vida + O Vencedor

Christian Bale e Bradley Cooper numa dobradinha do diretor David O. Russell, para injetar ânimo na segunda-feira

Por Isabela Boscov Atualizado em 16 jan 2017, 15h30 - Publicado em 1 ago 2016, 20h34

Entrou há pouco no Netflix um filme muito simpático: O Lado Bom da Vida, em que Bradley Cooper faz um sujeito bipolar que não se conforma com nada: o fim do casamento, a volta à casa dos pais depois de uma internação psiquiátrica, o atendimento na lanchonete – tudo o faz subir a serra (e daí despencar dela). Pat, o personagem que Cooper interpreta com muito critério, vive tão surtado que não se dá conta de que existe, sim, alguém que é capaz de compreender o caleidoscópio emocional em que ele vive – uma viúva jovem e muito machucada vivida por Jennifer Lawrence, em excelente forma. É um clichê? Sim, mas a vibração dos atores tira o filme do lugar-comum. Surpreendentemente, até Robert De Niro, que faz o pai de Pat, está desperto e engajado.

O Lado Bom da Vida é, além disso, o filme no qual começou uma quadra que, pelo jeito, não vai se desfazer tão cedo: a do diretor David O. Russell com Cooper, Lawrence e De Niro, a qual se repetiu já em Trapaça (2013) e Joy – O Nome do Sucesso (2015). Mas, se as coisas começaram a dar assim certo para O. Russell (apesar das críticas não muito favoráveis a Joy, das quais eu discordo), é porque dois anos antes de O Lado Bom ele engatou uma marcha boa com O Vencedor, que também está disponível no Netflix. Um drama entre irmãos exuberante, e cheio de calor e movimento, O Vencedor tem uma conjunção mágica de atores: Mark Wahlberg, Amy Adams, Melissa Leo estão um arraso – o que se torna ainda mais impressionante ver como Christian Bale devora o filme.

Leia aqui as resenhas que publiquei quando O Lado Bom e O Vencedor estrearam nos cinemas:


Clichê renovado

Em O Lado Bom da Vida, a receptividade e o compromisso dos atores fazem vibrar a história dos desajustados que nasceram um para o outro

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Diagnosticado como bipolar após uma traumática descoberta de traição conjugal, Pat Solitano, mesmo ao fim de oito meses numa instituição psiquiátrica, tem uma energia maníaca. Na interpretação calibrada e sincera de Bradley Cooper, é como se as reservas que as pessoas sãs empregam em atividades salutares – manter-se receptivas aos relacionamentos, pensar racionalmente, realizar tarefas produtivas ou prazerosas – não encontrassem, em Pat, nenhuma forma definida na qual se manifestar: ele gera calor, mas este não se traduz em movimento. A ideia fixa de Pat é refazer seu casamento, muito embora sua ex-mulher tenha obtido contra ele uma ordem judicial de afastamento. De volta à casa dos pais, ele tem crises de raiva, bate a porta do quarto, acorda o pai e a mãe de madrugada com queixas absurdas. Está tão enredado nos pensamentos que ficam dando voltas em sua cabeça, enfim, que não enxerga o óbvio mesmo quando este se põe debaixo do seu nariz: se há alguém capaz de compreender o que ele está passando, é Tiffany, a jovem viúva machucada e indignada que ele conhece em um jantar. “Óbvio”, no caso de O Lado Bom da Vida, não vem como sinônimo de “banal” – menos graças ao enredo, adaptado do romance homônimo do americano Matthew Quick (lançado aqui pela editora Intrínseca), e mais em razão do talento do diretor David O. Russell para fazer escolhas felicíssimas de elenco e então tirar de seus atores interpretações vibrantes e notavelmente comprometidas.

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É previsível que, a partir do momento em que Pat conhece Tiffany, o filme passe a se ocupar da dança entre os dois (literal, aliás: o desfecho se dá num concurso de dança de salão). O que não é comum nesse tipo de história é a vivacidade e a reciprocidade com que Cooper e a maravilhosa Jennifer Lawrence se engajam nessa dança, como se cada passo que está por vir fosse inesperado também para eles próprios. Essas trajetórias de aproximação entre indivíduos, e a potencial segunda chance a que elas conduzem, são a matéria-prima predileta de David O. Russell nesta fase de sua carreira iniciada com O Vencedor, há dois anos. Antes notoriamente confrontativo (pegou-se de sopapos com George Clooney nas filmagens de Três Reis, e no set de Huckabees – A Vida É uma Comédia perpetrou contra Lily Tomlin um ataque verbal que ficou célebre pela virulência), Russell renasceu como um cineasta agregador, que se impõe realçar tanto quanto possível os desempenhos.

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Em O Vencedor, dessa forma, Russell rendeu um Oscar para Christian Bale e outro para Melissa Leo. Em Lado Bom, concorrem, além de Cooper e Jennifer, a australiana Jacki Weaver, que faz a mãe de Pat, e o ator revelação do filme: Robert De Niro. Desde 1995, quando fez Cassino com Martin Scorsese, ninguém o via trabalhar – só comparecer ao emprego. E, no entanto, De Niro aqui está presente em corpo e espírito em cada cena que tem no papel do pai de Pat, reagindo aos outros atores de momento, sem rede de segurança nem muito menos sinal daquela cara de tédio que vinha exibindo nos últimos anos. Constatar que há alguém capaz de um feito dessa magnitude é, de fato, uma daquelas coisas que têm de ser elencadas no lado bom da vida.

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 06/02/2013
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2013
O LADO BOM DA VIDA
(Silver Linings Playbook)
Estados Unidos, 2012
Direção: David O. Russell
Com Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker, Julia Stiles, Anupam Kher, Shea Whigham

No ringue, à moda russa

O notável O Vencedor não é um filme de superação: na maneira como disseca a lealdade e a polaridade desastrosa entre dois irmãos, é quase um romance de Tolstoi

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Quando o diretor David O. Russell começa a acompanhar a história do peso médio júnior Micky Ward, ele acabou de perder três lutas seguidas. Micky é um lutador de carreira mediana, circunscrita aos eventos de Massachusetts e dos estados vizinhos, e está no ponto médio de sua carreira: tem 31 anos e pouco tempo para se reerguer antes de cair de vez. Neste instante, está cheio de esperança: tem uma boa luta marcada em Atlantic City, estudou o oponente e sabe o que tem de fazer para vencê-lo – golpear sua cabeça para que ele levante a guarda; aproveitar a brecha e golpeá-lo na cintura; e assim por diante, explica Micky a Charlene, a barmaid ruiva que ele está tentando convidar para sair. Charlene dá de ombros: “Você é um escada”, diz ela – um boxeador usado como degrau para a vitória de outros lutadores de mais futuro. Não, não, diz Micky, enquanto põe no bolso o guardanapo com o número de telefone de Charlene; ele vai vencer a luta em Atlantic City. Da qual, na verdade, sairá com a cara em retalhos. Alice, a mãe de Micky, e seu meio-irmão, Dicky Eklund, topam que o oponente previsto seja trocado por um sujeito muito maior que Micky. Obrigam-no, assim, à derrota e à desmoralização para não perder a féria. E aqui é hora de fazer uma retificação. Micky vai, sim, virar o protagonista de O Vencedor. Mas só lá pela metade do filme.

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Nesta primeira parte, o personagem central de fato é Dicky Eklund, o meio-irmão mais velho que teve seu momento de brilho no ringue – derrubou o legendário Sugar Ray Leonard – e hoje treina Micky. Ou, pelo menos, treina-o quando não está metido no antro imundo em que fuma crack, ou então prostituindo a namorada para assaltar os clientes dela. Dicky tem uma energia obsessiva que só em parte decorre do crack. Na maior parte, ela vem da fornalha que queima dentro dele e que demanda quantidades avassaladoras de adoração e atenção. Dicky é um monstro de carisma, e por isso elas não lhe faltam – por parte dos vizinhos, das sete irmãs e por parte da mãe, que o venera e tem sempre uma desculpa para ele. Tudo o que cai nessa fornalha, porém, vira cinzas. Como, por exemplo, a carreira de Micky.

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Caso o título O Vencedor tenha dado, então, a impressão de que este é mais um na longa linhagem de filmes sobre boxeadores (ou jogadores de beisebol, ou de futebol americano, ou atletas em geral) que superam as adversidades e suas limitações e finalmente prevalecem, que fique aqui corrigida essa impressão. Ocasionalmente – melhor seria dizer, incidentalmente –, O Vencedor até se aproxima dessa linhagem. Mas não é a ela que ele pertence: é à dos filmes que têm necessidade visceral de compreender seus personagens, ainda que, como todos os grandes personagens, seja impossível compreendê-los por inteiro. Se O Vencedor não tivesse tanto humor e tanta vibração, daria até para dizer que ele tem algo de romance russo na maneira como ao mesmo tempo abraça sem reservas e disseca sem piedade o desastre que é esse clã. Assim como no Anna Karenina de Tolstoi, os Ward/Eklund são infelizes, ou trágicos, de uma maneira toda particular a eles: em uma combinação destrutiva de amor, lealdade inabalável, possessividade e cegueira.

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David O. Russell filma pouco: desde 1994, fez apenas cinco longas-metragens, contando este aqui, e lançara seu último filme em 2004. (Em parte, diz-se, essa infrequência se deve ao seu temperamento: consta que no set do brilhante Três Reis, de 1999, a turma do deixa-disso tinha de a toda hora apartar George Clooney e ele.) Russell, porém, compensa a ausência com um trabalho em que está completamente presente em corpo, espírito e coragem. Não há gente fácil no elenco de O Vencedor. Ao contrário, todos os atores aqui vêm com sua própria reputação. Como Mark Wahlberg, que passou a metade da última década obcecado em produzir este filme e, no papel de Micky Ward, oferece um desempenho todo feito de contenção e sutilezas. Ou Melissa Leo, de Rio Congelado, leonina e dominadora como a matriarca Alice, que só a beligerante Charlene, na atuação estupenda de Amy Adams, consegue enfrentar. Ou, acima de todos, Christian Bale, que pela performance grandiosa como Dicky Eklund fica perdoado por todos os seus célebres faniquitos passados. E ainda ganha crédito para alguns futuros: se gênio ruim é o preço de um trabalho assim, tão fundo, complicado e épico, aguentá-lo sai barato.

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 02/02/2011
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2011
O VENCEDOR
(The Fighter)
Estados Unidos, 2010
Direção: David O. Russell
Com Christian Bale, Mark Wahlberg, Amy Adams, Melissa Leo, Jack McGee
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