Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

‘A Luz no Fim do Mundo’: paternidade no apocalipse

Filme de Casey Affleck é um estudo tocante do impasse entre proteger uma filha de uma realidade violenta e deixá-la crescer e ser quem é

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 out 2019, 11h16 - Publicado em 11 out 2019, 06h00

De noite, no interior da barraca, o pai conta uma história — uma versão livre da passagem bíblica da Arca de Noé, na qual um raposo se sacrifica para salvar sua raposa do naufrágio; ela é a última de sua espécie, e deve viver. Os apartes da criança de uns 10 anos de idade mostram sua inteligência viva. Trata-se de um menino ou de uma menina? No que depender do pai, sua filha Rag (a soberba Anna Pniowsky) vai passar por garoto até onde for possível — ou nem será vista. No cenário pós-apocalíptico mas idilicamente silvestre de A Luz no Fim do Mundo (Light of My Life, Estados Unidos, 2019), que estreia no país nesta quinta, 17, quase todas as mulheres sucumbiram a um vírus, incluindo a mãe de Rag. A garota está entre as poucas imunes à infecção, mas corre perigo grave a cada minuto de cada dia; se algum homem notar sua existência, seu destino será brutal. Assim, Rag anda sempre disfarçada de menino e a dupla leva uma vida isolada, nômade e precária nas florestas — uma vida que começa a se tornar ainda mais dura à medida que Rag avança pela puberdade e seu desejo de independência e convívio cresce na mesma proporção em que diminui sua paciência para os regimentos impostos pelo pai.

Escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Casey Affleck, este conto alegórico começa mergulhado em atmosfera, com paisagens em que as cores são atenuadas pelo cinza e o silêncio só é quebrado pelos ruídos da natureza e pela voz baixa de Rag e de seu pai. Mas o desenrolar vai ganhando em urgência quando a dupla entra em uma casa abandonada para descansar por alguns dias; essa será a primeira de várias fugas cada vez mais febris — e de encontros cada vez mais ameaçadores. Affleck é um mestre dos personagens retraídos e inarticulados, e brilha como o pai que procura palavras com as quais explicar à filha que nem todos os homens são ressentidos e violentos. As amostras que vêm pelo caminho o desmentem quase que inteiramente, porém. Affleck afirma ter escrito o roteiro bem antes das acusações de assédio que coincidiram com sua vitória no Oscar, por Manchester à Beira-Mar, há dois anos. Seja ou não um mea-culpa, A Luz no Fim do Mundo é um retrato tocante do amor tão pleno de um pai por sua filha que ele se obriga a temperar o instinto avassalador de protegê-la com a compreensão de que ela precisa crescer e ser quem é. Ser pai no apocalipse, enfim, não é muito diferente do que em qualquer outro tempo.

Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.