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Por Coluna
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Julho em casa? Mais 7 ótimos filmes que acabam de entrar no streaming

Da pura fantasia ao realismo intransigente, opções para uma semana inteira

Por Isabela Boscov 18 jul 2019, 20h38

Um Grande Garoto

Onde: Netflix

Hugh Grant arrasa no papel de Will Freeman, um sujeito que está perto dos 40 anos mas nunca trabalhou um único dia na vida, graças aos direitos sobre uma canção natalina composta por seu pai. Will é solteiro, não tem ninguém que dependa dele e seu tempo é dividido em agradáveis unidades de trinta minutos: três unidades para o almoço, duas para práticas atléticas (entenda-se bilhar), duas para arrepiar o cabelo. É também um consumista assumido: tem um carro esporte, um apartamento que parece uma loja de design e todas as roupas que quiser. Seu grande interesse é namorar – sempre com a maior brevidade possível. “Sou o centro do meu mundo mesmo. E daí?”, indaga Will, na narração ácida que acompanha o filme. Por acaso, ele descobre que as mães solteiras são as namoradas ideais, já que têm tanto medo de se comprometer quanto ele. Inventa que tem um filho pequeno, começa a freqüentar um grupo e, contra a sua vontade, vê sua vida se misturar à do outro protagonista: Marcus, um menino de 12 anos que tem uma mãe riponga e depressiva (Toni Collette) e sofre o diabo na escola com as gozações dos colegas. Marcus gruda em Will – que descobre que preocupar-se com alguém não é tão desagradável assim. O fofésimo Marcus é interpretado por Nicholas Hoult, que hoje você vê, bem crescido, em três de cada dez novos filmes.

Um Grande Garoto
About a Boy, 2002 (Universal/Divulgação)

Cafarnaum

Onde: Looke

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Zain (Zain Al Fafeea) tem uns 12 anos (seus pais não sabem dizer) e tamanho de 7 ou 8. Franzino, sujo e maltrapilho, o menino empilha caixas de refrigerante, puxa botijões de gás por quarteirões, vende suco na rua e, de maneira geral, sustenta a família. Zain tem também uma fúria dentro de si: a indignação com a sua miséria, e a revolta com o pai e a mãe que não param de ter filhos– e por isso mesmo, por terem-no obrigado a nascer, ele está processando os pais no tribunal. Ao qual comparece em algemas: alguma crise, possivelmente ligada à venda de sua irmã de 11 anos para um homem adulto, levou Zain a cometer um crime. A diretora libanesa Nadine Labaki filmou mais de 500 horas de imagens para tirar delas 120 minutos de uma odisseia implacável pelas favelas de Beirute, no Líbano. Todos os protagonistas – à exceção de Nadine, no pequeno papel da advogada do garoto – são não atores, e vivem na tela versões muito próximas de si mesmos, incluindo-se o juiz. Mas ninguém é mais extraordinário que o refugiado sírio Zain Al Rafeea, que está em cena todo o tempo e infunde o filme com seu desespero e sua maturidade tristemente precoce. Há algo de materno na compaixão de Nadine – e também na ferocidade com que ela encampa a tragédia de Zain e a de Rahil (Yordanos Shiferaw), a imigrante etíope ilegal que o acolhe em certo momento e que confia ao garoto os cuidados de seu bebê. A desgraça, em Cafarnaum, é abissal. E sua beleza, fulminante.

Cafarnaum
Capharnaüm, 2018 (Sony/Divulgação)

Fome de Poder

Onde: Netflix

Cinquentão e sempre sozinho, na estrada, tentando vender suas invenções, Ray Kroc (Michael Keaton) teve uma revelação que quase se poderia caracterizar como espiritual, não fosse ela tão mercantil: ao observar a eficiência inédita com que a pequena lanchonete californiana dos irmãos Dick e Mac (Nick Offerman e John Carroll Lynch, ambos ótimos) atendia à fila de fregueses, ele viu o futuro. Nada da demora e dos pedidos trocados dos drive-ins tão em moda na década de 50; uma vez franqueada, a cozinha cientificamente planejada dos irmãos McDonald ganharia o mundo e mudaria o jeito americano de comer. E, assim, Kroc se pôs primeiro a seduzir o cordato Mac e o renitente Dick para formar uma sociedade, e depois a tirar deles, cláusula por cláusula, sua criação. Interpretado com energia frenética por Keaton, o próprio Kroc avisa: sua história trata mais de persistência e inclemência do que de sucesso.

Fome de Poder
The Founder, 2016 (Diamond/Divulgação)

Jack, O Caçador de Gigantes

Onde: Netflix

Falei que Nicholas Hoult está em toda parte. Aqui ele é Jack, que vai ao mercado vender um cavalo, troca-o por um punhado de feijões mágicos e, sem querer, deixa que um deles caia ao solo – e o colossal pé de feijão que brota dali abre caminho para que gigantes famintos por carne humana invadam o reino. Odiretor Bryan Singer faz um favor e tanto à plateia: põe para lá os revisionismos, deixa a fábula em paz e trata apenas de concebê-la para o cinema da melhor forma possível. Singer apresenta seus protagonistas com cuidado, aferra-se à inocência deles com perseverança e conjura com lealdade a Idade Média de fantasia do conto original. Tão de fantasia, claro, que nela um camponês como Jack descobre interesses em comum com a princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson): a despeito de suas origens tão diferentes, ambos têm sede de aventura e a cabeça meio nas nuvens. E é nas nuvens mesmo que Isabelle vai parar, já que a princesa exala um aroma que desperta nos gigantes um terrível desejo de vingança. Lá se vão então Jack, um cavaleiro (Ewan McGregor), o rei (Ian McShane) e um conselheiro malévolo (Stanley Tucci) atrás da refém. Os gigantes são imundos, violentos, feios como criaturas que ficaram inacabadas e dados a mastigar suas vítimas em cena. E são também algo trágicos. Eis a outra virtude do filme: a habilidade para dar uma escala humana não apenas à ação, mas também aos sentimentos de seus personagens.

Jack, O Caçador de Gigantes
Jack the Giant Slayer, 2013 (Warner/Divulgação)

Caminho da Liberdade

Onde: Amazon

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São longos os intervalos que o australiano Peter Weir coloca entre seus filmes – períodos de pesquisa e de indagação intensas sobre os detalhes da história a ser contada. Para Caminho da Liberdade, a equipe de Weir, ainda que bem agasalhada e alimentada, teve de viver parte da experiência medonha de ser prisioneiro soviético na era stalinista e construir do zero, no meio de um nada gélido, um gulag – como acontecia com as primeiras turmas que chegavam aos quase 500 campos que a certa altura se espalhavam pelo território da União Soviética, e em particular na Sibéria, e dos quais quase ninguém saía vivo. O “quase ninguém”, aliás, é o centro deste filme extraordinário, que trata de um grupo que, sob a cobertura de uma noite tempestuosa, fugiu em 1941 de um gulag siberiano e caminhou mais de 6 000 quilômetros até a Índia. Vários morreram pelo caminho. E os que enfim foram encontrados por uma patrulha nas idílicas plantações de chá de Darjeeling estavam mais mortos do que vivos –  mas, afinal, livres. Weir recria essa jornada com um tipo de inspiração que quase não existe mais no cinema de hoje: em um épico, a paisagem tem de ser verdadeiramente uma personagem (e tem de ser real, não gerada em computador); e tem de ser verdadeira também a crença nas reservas de coragem, intrepidez e resistência que às vezes se revelam nos seres humanos. No elenco, Ed Harris, Colin Farrell, Saoirse Ronan e Jim Sturgess – além de alguns lobos de verdade – ajudam muito.

Caminho da Liberdade
The Way Back, 2010 (Califórnia/Divulgação)

Terra Violenta

Onde: na Netflix

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O diretor Ti West é conhecido pelos filmes de terror, como o cult Hotel da Morte. Mas, pelo que se vê aqui, é no faroeste que está a sua verdadeira paixão e, talvez, vocação. A caminho do México, um homem sem nome (Ethan Hawke, muito bem no papel), acompanhado apenas da sua adorada – e adorável – viralata meio collie, entra numa cidadezinha decadente e quase deserta, onde um valentão o provoca. O forasteiro, depreende-se, já matou muito, mas não quer mais fazê-lo. A violência, porém, é inevitável – e, quando ela chega, o desconhecido se entrega a ela com ferocidade. Não é difícil notar que West considera Três Homens em Conflito e os outros filmes do italiano Sergio Leone como escritura sagrada. É com muito humor e estilo que ele executa sua reverência, colorida ainda pela participação de John Travolta e por um desempenho delicioso de Tassa Farmiga.

Terra Violenta
In a Valley of Violence, 2016 (Universal/Divulgação)

Boy Erased

Onde: Looke

Sem oportunismo nem sensacionalismo, e com muita garra, o ator/diretor Joel Edgerton narra o caso verídico de um rapaz pressionado a se internar em um programa de “cura gay” para falar, numa escala mais larga, de como as expectativas dos pais em relação aos filhos podem ser massacrantes para uns e outros e destruir precisamente o que se almeja – a harmonia familiar e as chances de felicidade. Jared Eamons (Lucas Hedges) é o alter ego de Garrard Conley, em cujas memórias o roteiro se baseia. Filho de pais muito religiosos (Nicole Kidman e Russell Crowe) e ele próprio devoto, Jared tem dúvidas acerca da sua sexualidade. Quando sofre uma horrível tentativa de estupro por parte de um amigo, o pai decide interná-lo; a mãe hesita mas concorda. E começa, então, o violento processo de “conversão heterossexual” na instituição de um pastor interpretado pelo próprio Edgerton. O que leva Jared ao limite, paradoxalmente, é a insistência do pastor de que tem de haver algo de errado com a família do garoto, ou ele não se sentiria atraído por pessoas do mesmo sexo (os créditos finais contêm mais informações sobre o pastor, e elas são exemplares das angústias mal resolvidas daqueles que se arvoram “curar” gays). A substituição da conformidade pela honestidade, entre Jared e seus pais, é um processo também ele penoso. Mas é construtivo, e não destrutivo.

Boy Erased: Uma Verdade Anulada
Boy Erased, 2018 (Universal/Divulgação)
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