Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Quatro ótimos dramas para ver na Netflix

Da Argentina à Irlanda e os Estados Unidos, um quarteto de protagonistas num momento de crise

Por Isabela Boscov Atualizado em 20 fev 2018, 20h38 - Publicado em 20 fev 2018, 20h35

99 Casas (99 Homes, 2014)

Só pelas cenas em que as pessoas irradiam desespero ao ser despejadas de suas casas, este filme já seria um caso à parte: quando o agente imobiliário Rick Carver aparece à porta, acompanhado da polícia e com a ordem judicial em mãos, deflagra-se sempre o mesmo processo – mulheres tentam barrar a entrada dos policiais; homens saem correndo para telefonar para o advogado; crianças são empurradas para dentro, os olhos arregalados de susto; vizinhos vão espiar a confusão. O resultado, porém, é inevitável: cinco minutos para recolher itens pessoais de primeira necessidade e, depois, 24 horas para resgatar os móveis e pertences despejados no meio-fio. As fechaduras são trocadas no ato, as entranhas da família ficam expostas à vista de todos. Naquela noite, e por muitas noites mais, pais e filhos vão se espremer num quarto de algum motel vagabundo, cercados de outros pais e filhos na mesma situação. Ou não. Na primeira cena, o que se vê é uma parede de banheiro decorada com a massa cinzenta de um sujeito que preferiu se matar a entregar sua casa. Ao celular, Rick Carver – Michael Shannon, numa atuação estrondosa (mais uma) – reclama com alguém da trabalheira que vai ser aprontar o imóvel para a revenda.

O diretor Ramin Bahrani, porém, tem mais em mente do que essa coreografia brutal da crise econômica e do dominó das hipotecas. Uma das primeiras pessoas que se vê passando por esse medo e humilhação é Dennis Nash, pai solteiro desempregado, muito jovem e que, apesar da aparência pouco intimidadora, tem fibra e brio – um personagem talhado para Andrew Garfield. Dennis não perde a calma, segura sua mãe (Laura Dern), insiste em acompanhar o desmonte da casa, percebe que um dos sujeitos da equipe afanou uma ferramenta sua, vai cobrar uma atitude de Rick Carver. Que percebe que o competente Dennis seria um acréscimo providencial à sua equipe, até porque ele está aflito o suficiente para engolir quaisquer objeções éticas a despejar outros inadimplentes. Dennis, de fato, engole sua repugnância – e ela desce bem mais fácil com o dinheiro farto que ele começa a fazer. Shannon e Garfield tiram faísca um do outro, e a direção de Bahrani é tensa, cheia de ritmo e de crise.


O Décimo Homem
O Décimo Homem (BD Cine/Divulgação)

O Décimo Homem (El Rey del Once, 2016)

Todos os filmes do portenho Daniel Burman se voltam para o círculo íntimo da família, dos amigos, da comunidade. É o círculo do qual Ariel (o ótimo Alan Sabbagh) fugiu, mandando-se para Nova York e deixando para trás o pai, Usher (Usher Barilka), de cujo envolvimento com o dia a dia de seu centro comunitário e do Once, o bairro judeu de Buenos Aires, ele desde criança teve agudo ciúme. Após anos de ausência, Ariel retorna ao Once para visitar o pai – que insiste em não dar as caras.

Mas, mesmo antes de o filho desembarcar, Usher já o enfronhou nas demandas do centro comunitário. Por celular, ele faz Ariel arrumar sapatos para um rapaz, limpar o apartamento de um idoso que morreu, arranjar remédios, resolver um impasse com o açougueiro que deveria fornecer a carne para o feriado religioso do Purim. Ariel bufa, remancha, irrita-se, mas cumpre as tarefas, sempre com o apoio silencioso da jovem Eva (Julieta Zylberberg). E, pouco a pouco, sem perceber, a convivência lhe vem mais fácil, até lhe parecer necessária ou mesmo indispensável. Quando Ariel e Usher afinal se encontram, o filho de certa forma já se tornou no pai: imerso no passado do qual fugiu, ganhou um futuro que não imaginava. Lembrar, argumenta o filme, não é um fim em si mesmo nem um exercício vazio. A memória é o palácio em que vivem a identidade judaica e a pessoal, e  compreender quem se é é indispensável para decidir quem se virá a ser.

Continua após a publicidade

O Ano Mais Violento
O Ano Mais Violento (A24/Divulgação)

O Ano Mais Violento (A Most Violent Year, 2014)

Para Abel Morales (o estupendo Oscar Isaac), o inverno de 1981 será uma longa e terrivelmente complicada maquinação: os caminhões-tanque de sua empresa de distribuição de combustível vêm sendo roubados dia sim, dia não; a concorrência, uma máfia repugnante que se reúne em restaurantes de bairro, quer arrasá-lo; os milhões de dólares que ele entregou a um grupo de judeus ortodoxos para a compra de uma velha refinaria se perderão se ele não completar o pagamento em trinta dias; o procurador de Nova York diz que o está investigando, mas não revela pelo quê; sua mulher (Jessica Chastain, explosiva) quer que ele resolva as coisas “do velho jeito”, com suborno, achaque, violência. Mas Abel é o imigrante que deu certo pelo trabalho duro. Por mais que a sujeira insista em tragá-lo, ele quer permanecer limpo. Por questão de caráter e também de pragmatismo: Abel é um homem lúcido, e entende que nunca vai ter o tipo de poder que ambiciona se estiver à margem da legalidade. Não é coincidência que, em O Ano Mais Violento, Abel se pareça tanto, na angústia e até fisicamente, com o Michael Corleone interpretado por Al Pacino em O Poderoso Chefão. O diretor J.C. Chandor (do magnífico Margin Call – O Dia Antes do Fim) faz de seu filme uma peça de câmara sobre os imigrantes latinos que, nos anos 70, ocupavam aquele último degrau na hierarquia social que antes fora dos sicilianos e antes ainda dos irlandeses, e sobre as novas avenidas de poder que começavam a se abrir para gente de visão como Abel e o procurador negro (David Oyelowo) que o acossa. Quem gosta dos mestres da década de 70 como Francis Ford Coppola, William Friedkin e Sidney Lumet vai ficar feliz: Chandor é um herdeiro à altura deles.


71: Esquecido em Belfast
71: Esquecido em Belfast (Crab Apple Films/Divulgação)

71: Esquecido em Belfast (’71, 2014)

O soldado Gary Hook (Jack O’Connell, de Invencível e da série Godless) participa de sua primeira patrulha nas ruas violentamente divididas entre católicos e protestantes na Belfast de 1971. Mas seu batalhão falha na contenção de um tumulto, que rapidamente se encaminha para uma tragédia. Na pressa da retirada, Hook é deixado para trás. Não importa que ele nem tenha saído ainda da adolescência: nos quarteirões católicos da capital da Irlanda do Norte, ele é um representante direto da opressão inglesa, e vai ser caçado como bicho. Nos quarteirões protestantes, suas chances são ligeiramente melhores. Se há um erro que se pode cometer em relação ao filme de estreia do diretor Yann Demange é supor que se está diante de um daqueles muitos enredos em que o combatente abandonado será resgatado pelos colegas valorosos: Belfast não era bolinho, e a especificidade com que o diretor trata a geografia tribal em que a cidade então estava dividida é espantosa. Jack O’Connell, sempre excelente, imprime pavor urgente e palpável à interpretação do jovem soldado perdido.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.