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Rio Paraopeba tem 300 km contaminados por metais pesados da Vale

ONG SOS Mata Atlântica descreveu a paisagem do rio como devastada e coberta por uma "lama densa cor de sangue"

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 fev 2019, 19h19

Em um relatório divulgado nesta quarta-feira, 27, em Brasília, a Fundação SOS Mata Atlântica apresentou os resultados da coleta de dados ao longo de 305 quilômetros do rio Paraopeba após o rompimento da barragem do complexo de Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho. No documento Observando os Rios, o que parecia óbvio foi comprovado com informações científicas: as águas do rio estão impróprias para qualquer tipo de uso, seja por humanos ou pela fauna do local. Tornou-se um rio morto.

“A primeira impressão da equipe foi de tristeza ao chegar a um local totalmente destruído. Toda a paisagem foi devastada, coberta por uma lama densa cor de sangue”, diz um dos trechos do relatório.

Entre as conclusões, alguns dos pontos principais:

  • No total de 22 pontos de coleta monitorados, 10 pontos tiveram índice de qualidade da água ruim e em 12 pontos o índice foi péssimo;
  • Os indicadores obtidos demonstram que a água do rio Paraopeba está imprópria para usos nos 305 quilômetros impactados por rejeitos de minério provenientes do rompimento da barragem;
  • A turbidez elevada indica a dificuldade de um feixe de luz atravessar a água, prejudicando a fotossíntese, aumentando a absorção de calor e a temperatura da camada superficial da água, com impacto direto na vida aquática;
  • Os valores encontrados na água bruta superficial impedem a captação para fins de abastecimento público, irrigação de alimentos e dessedentação de animais;
  • A elevada turbidez, o excesso de nutrientes em decomposição e as altas temperaturas registradas na água, entre outros fatores, resultaram no registro de baixos índices de oxigênio dissolvido e em valores insuficientes para manutenção da vida aquática.

Segundo a especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, “esperamos com este relatório contribuir para o aprimoramento de políticas públicas no sentido de evitar que eventos trágicos como esse se repitam, tendo como base o fortalecimento do arcabouço legal e institucional brasileiro, com participação da sociedade na tomada de decisões. A legislação ambiental brasileira deve ser valorizada e fortalecida por meio de órgãos técnicos e ambientais bem estruturados, instrumentos de gestão eficientes, participativos, modernos e livres de ingerência política“.

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Uma das informações mais preocupantes é sobre a presença na água de metais pesados nocivos à saúde. Em toda a extensão do rio, foram encontrados ferro, cobre, manganês e cromo.

O relatório destaca que:

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  1. O cobre é tóxico quando não está ligado a uma proteína, e foi dessa forma que a ONG encontrou as amostras na água analisada. O consumo de quantidades pequenas de cobre livre pode provocar náuseas e vômitos. Se os sais de cobre, não ligados a proteínas, forem ingeridos em grandes quantidades, eles podem lesionar os rins, inibir a produção de urina e causar anemia.
  2. A contaminação por manganês ocorre por ingestão. Existe o risco de seres humanos apresentarem sintomas como rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza. Pesquisas realizadas em animais constataram que o excesso de manganês no organismo provoca alterações no sistema nervoso central e pode levar à impotência por danificar os testículos.

De acordo com a professora e coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH), da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Marta Marcondes, “os metais presentes na água nas quantidades encontradas são nocivos ao ambiente, à saúde humana, à fauna, aos peixes e aos organismos vivos. Eles são reconhecidamente poluentes severos e podem causar diversos danos aos organismos, desde interferências no metabolismo e doenças, até efeitos mutagênicos e morte”.

A destruição da cobertura vegetal também foi analisada pela SOS Mata Atlântica. De acordo com o relatório, antes da tragédia, Brumadinho possuía 15 490 hectares de remanescentes da Mata Atlântica bem preservados, o equivalente a 830 campos de futebol, equivalente a 24,22% do que havia do bioma originalmente no município. Além disso, havia mais 7 058 hectares de florestas naturais. O rompimento da barragem resultou na perda de 112 hectares de florestas nativas. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas, monitoradas anualmente.

Por fim, o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, declarou que “não podemos esquecer do ressarcimento das comunidades, das famílias, que tiveram suas vidas e atividades econômicas afetadas. Por tudo isso, é fundamental que a legislação brasileira, sobretudo o Licenciamento Ambiental, não seja flexibilizado para atender a pressões setoriais. É primordial que os responsáveis por essa tragédia sejam punidos“.

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