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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Sabe de nada, inocente: Wagner Moura e censura a Compadre Washington são duas faces da mesma moeda ideológica – a praga do politicamente correto

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h45 - Publicado em 30 Maio 2014, 04h50

Captura de Tela 2014-05-30 às 02.45.36Determinar que uma empresa retire de um comercial de TV a palavra “ordinária”, mesmo que ela seja dita apenas em parte (“vem, vem, ordiná…”) por um cantor popular famoso por esse bordão e interrompido em cena justamente pelo marido da mulher que ele está “cantando”, foi uma decisão para lá de ordinária do Conar, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária que alegou ter recebido reclamações de 50 consumidores, a maioria do sexo feminino, dizendo-se ofendidos. Hoje, pelo visto, basta reunir uma equipe de ativistas para reclamar de peças publicitárias que lhes firam suscetibilidades e logo uma censura ao menos parcial é executada pelo órgão responsável. O resultado desse moralismo travestido com o nome de “politicamente correto” é sempre este: um autoritarismo fofo, aplaudido pelos melindrosos.

Em recente entrevista ao Globo, o moralista de esquerda Wagner Moura declarou: “O politicamente correto é uma ferramenta civilizatória que inventamos para que uma criança negra não veja um negro sendo humilhado na TV.” Bonitinho, não? Mas ordinário, também, como evidenciam os episódios recentes nos EUA de Obama: na Dakota do Norte, uma escola impediu as crianças de cantarem YMCA simplesmente porque um dos integrantes do Village People que gravou a música se vestiu como um americano nativo (que é como se chama um índio em político-corretês); em Minesotta, uma faculdade impediu um evento durante o qual um camelo viria ao campus para ajudar os estudantes a relaxarem durante os exames, alegando que um grupo de alunos (talvez os campeões de cartinhas ao Conar americano) disse que a presença do camelo desrespeitava a cultura do Oriente Médio; em Nova York, uma escola cancelou a festa de Halloween das crianças porque a representante de um grupo da religião neopagã Wicca do bairro mandou uma carta dizendo que a comemoração reforçava estereótipos sobre as bruxas.

O que há de civilizatório nisso tudo? Nada, claro. (Ainda que você não seja fã de YMCA.)

Se o politicamente correto tivesse sido inventado para proteger criancinhas contra cenas fortes de racismo, como quer o garoto-propaganda do PSOL, talvez eu até o endossasse, mas o vulgo PC – o marxismo traduzido dos termos econômicos para os culturais pela Escola de Frankurt, como explica o documentário “A história do politicamente correto” – é uma ferramenta revolucionária de genocídio cultural destinada a desarmar a cultura ocidental para que ela não possa se defender de ataques provenientes de “minorias” internas ou de culturas concorrentes. Nas palavras simples de Bill O’Reilly: “Se você critica uma minoria, você é malvado, mesmo que a minoria esteja fazendo algo de mau.” Com isso, cresce a onda de crimes violentos praticados pelas “minorias” superprotegidas e quem quer que os denuncie é imediatamente estigmatizado como racista, homofóbico, sexista, islamofóbico – e, então, removido da sociedade decente. Daí para o genocídio propriamente dito é um passo; e o caso Zimmermann mostrou que, se o agressor for negro, até a legítima defesa é proibida pelos histéricos de plantão.

Lenin dizia: “É errado escrever sobre companheiros de Partido numa linguagem que sistematicamente dissemine entre as massas trabalhadoras o ódio, a aversão e o desprezo àqueles que sustentam opiniões divergentes. Mas pode-se e deve-se escrever nesse tom sobre organizações dissidentes”, de preferência com uma linguagem “calculada para despertar contra o oponente os piores pensamentos, as piores suspeitas; não para corrigir-lhe os erros, mas para destruí-lo, para varrer sua organização da face da Terra”. Herbert Marcuse repetiu o princípio leninista da dupla moral quando afirmou que “tolerância libertadora significa: toda tolerância para com a esquerda, nenhuma para com a direita”. Seu ensaio de 1965 argumentava que, com a tolerância ao diferente, as crenças não produziam ação alguma, de modo que ele achou melhor fomentar a intolerância seletiva mesmo, a fim de expandir a classe de “idiotas úteis” necessária à revolução. “Isso no final leva aos problemas do politicamente correto nos anos 1980″, dizia o professor Martin Jay. “Hoje temos uma forte noção de que quem é politicamente correto poderia ser intolerante com aqueles que não seriam. E às vezes isso pode ser usado como uma licença por pessoas de esquerda para negar a liberdade de expressão àqueles de quem discordam.”

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Captura de Tela 2014-05-30 às 02.46.12Quando se torna ofensivo usar a palavra “ordinária” (mesmo sendo literalmente evaporado por isso), cantar YMCA, fazer Halloween ou trazer um camelo à faculdade, é porque a intolerância moralista já ultrapassou todos os limites do absurdo e do ridículo. E é também com base nela que circulam propostas no Congresso Nacional (do nível do projeto de lei do presidente do PT Rui Falcão, que queria proibir anúncios, entre 6h e 21h, de alimentos de baixo teor nutritivo) para criar obstáculos à publicidade e deixar os meios de comunicação reféns das verbas da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa, utilizadas como instrumento de controle e censura, como ilustra à perfeição o caso Sheherazade.

A despeito disso, o mesmo Wagner Moura que exalta o “idealismo” do terrorista Carlos Marighella e vive chamando direitista de fascista reclama ainda de que há “um monte de jovem achando legal ostentar ‘sou politicamente incorreto, sim’, como se ser politicamente incorreto em si fosse revolucionário, moderno ou engraçado. E aí vira falta de civilização, de respeito, de gentileza, e daí pra falta de ética, preconceito e violência é um passo.” Bonitinho de novo, não? Mas ordinário, como sempre. Ninguém está mais próximo da falta de ética, do preconceito e da violência do que os adeptos de uma ferramenta revolucionária desenvolvida precisamente para fomentar o ódio e o melindre (o “mimimi”) e legitimar a negação da liberdade de expressão alheia. Henry Ward Beecher dizia: “Uma pessoa sem senso de humor é como uma carroça sem molas – sacudida por cada seixo na estrada.” O politicamente correto tirou as molas de todo mundo e ainda entregou outros seixos na mão dizendo: atira em quem te sacudir!

Em nome da gentileza, do respeito e até do senso de humor, portanto, o PC é que precisa ser interrompido, evaporado – varrido da face da Terra.

Parafraseando o Compadre “censurado” Washington: “Vai, vai, ordiná…”

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Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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Pós-escrito de 3 de julho: Valeu a pena denunciar a estupidez. O Conar reviu a decisão, como informou meu colega de VEJA Lauro Jardim na coluna Radar.

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